Depois de quase 10 anos de espera, o Radiohead finalmente voltou aos braços de seus apaixonados fãs paulistas.
Encerrando o giro do Soundhearts Festival pelo Brasil, a banda de Thom Yorke não lotou, mas encheu o Allianz Parque na noite deste domingo (22) — algumas semanas antes do show, os ingressos para o evento entraram em promoção e ainda não estavam esgotados — e ainda trouxe ótimas companhia na mala.
O festival começou por volta das 16h com a Aldo, the Band, banda paulistana fundada pelos irmãos André e Murilo Faria, que levou seu indie rock de sintetizadores para um público ainda bem pequeno e tímido. Durante a apresentação, o grupo chegou a dedicar uma canção a uma fã que morreu recentemente, arrancando aplausos da galera que chegou cedo ao evento.
Pouco depois do fim do show, quando ainda estava claro, Junun subiu ao palco para, com pouco esforço, deixar a plateia admirada. O grupo é o projeto de música indiana que conta com produção de Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, com o compositor israelense Shye Ben Tzur e a banda Rhajastan Express. A proposta do projeto é bem diferente da banda principal de Greenwood, mas convenceu com facilidade. O público se mostrou aberto ao som das flautas e tambores indianos, e vibrava a cada discurso do frontman Shye, que falava poucas palavras em inglês. Alguns minutos após o fim da apresentação, membros da Rhajastan Express deram um pulinho na pista premium para conversar com a galera em volta, e pareciam muito impressionados com a boa recepção.
Logo em seguida, já no fim da tarde e muito pontual, o DJ e produtor Flying Lotus tomou o cenário com sua gigantesca “gaiola” formada por telões. Mesmo ficando um pouco escondido em meio às projeções espetaculares, o californiano interagiu animado com o público que parecia estar hipnotizado em frente ao palco. Em seu setlist que poderia muito bem pertencer a um Tomorrowland da vida, o produtor tocou músicas de Kendrick Lamar, brincou com o samba e com Freddie Mercury, tocou o tema de Twin Peaks — que, segundo ele, foi um pedido de um fã — e homenageou o DJ Avicii, morto na última sexta (20). Flying Lotus saiu do palco ovacionado, e ainda voltou minutos depois pra filmar a plateia animada.
Daí veio o Radiohead.
Com alguns poucos minutos de atraso, a banda inglesa subiu ao palco silenciosa e obscura introduzindo “Daydreaming”, do último disco A Moon Shaped Pool (2017), para um público eufórico. Após nove anos de espera, mesmo que o grupo não quisesse fazer uma apresentação memorável, a plateia paulista parecia estar encarregada de transformá-la em tal, se necessário. Mas não foi preciso.
Liderados por um Thom Yorke dançante e muito grato — a todo momento o vocalista agradecia e se curvava aos fãs –, o grupo soube passear com maestria por sua discografia, sem se preocupar exatamente com os hits esperados. O Radiohead parecia estar mais empenhado em criar uma atmosfera singular e coesa, encaixando canções que combinam entre si, e o público seguiu direitinho as ordens.
No setlist, a banda deu mais atenção ao seu último trabalho de estúdio — com canções como “Ful Stop” e “Present Tense”, muito bem recebidas — e o clássico In Rainbows (2007) — com faixas como a melancólica “All I Need”, “Nude” e “Weird Fishes/Arpeggi”, essa cantada a plenos pulmões pela plateia. OK Computer (1997) também não ficou para trás e foi responsável pela maioria dos hits, como a belíssima “No Surprises”, “Let Down” e a catártica “Paranoid Android”, já no ato final do show.
Durante “Idioteque”, do Kid A (2000), o único grande problema do evento: os telões que ficam nas laterais do palco começaram a dar problema e apagaram completamente por um bom tempo. A estrutura só voltou a funcionar depois de umas quatro músicas, mas o público que estava mais longe não pareceu se incomodar tanto — os telões mostravam apenas projeções parecidas com as do telão principal por cima de imagens da banda, que mal aparecia.
Um momento de destaque ficou com a performance de “Exit Music (for a Film)”, que contou com um show à parte da plateia. Durante a execução da canção, o pessoal das duas pistas e das cadeiras levantou os celulares com o flash ligado, criando um belíssimo mar de luzes que iluminou o estádio inteiro. Ao fim da música, Yorke e Ed O’Brien agradeceram mais uma vez, parecendo realmente tocados com o momento.
Agora… lembra quando eu disse que o Radiohead não estava muito preocupado com os hits? Bem, isso ficou claro ao final da apresentação, que foi encerrada com a emocional “Fake Plastic Trees”, do The Bends (1995), e deixou de fora “Karma Police” e “Creep” — apesar desta última não ser tocada com tanta frequência. A versão acústica de “True Love Waits” foi exclusiva dos fãs cariocas, já que não rolou por aqui. Em contrapartida, São Paulo ficou com “There, There” e “My Iron Lung”, também cantadas aos berros pela galera.
Mas tudo bem. Aliás, tudo mais do que bem. Uma das coisas mais legais no grupo é justamente as mudanças de setlist a cada show, fazendo com que cada experiência seja única e ainda mostrando o cuidado que os membros têm com suas apresentações. Os fãs puderam sair do Allianz Parque de cabeça erguida e olhos inchados de tanto chorar, e se você conhece bem a banda e seus seguidores, sabe que isso é um ótimo sinal.
Não demore tanto para voltar, Radiohead!
Setlist – Radiohead em São Paulo (22/04/2018)
01. Daydreaming
02. Ful Stop
03. 15 Step
04. Myxomatosis
05. You and Whose Army?
06. All I Need
07. Pyramid Song
08. Everything in Its Right Place
09. Let Down
10. Bloom
11. The Numbers
12. My Iron Lung
13. The Gloaming
14. No Surprises
15. Weird Fishes/Arpeggi
16. 2 + 2 = 5
17. Idioteque
Bis:
18. Exit Music (for a Film)
19. Nude
20. Identikit
21. There There
22. Lotus Flower
23. Bodysnatchers
Bis 2:
24. Present Tense
25. Paranoid Android
26. Fake Plastic Trees