Arctic Monkeys acerta em cheio ao não lançar nenhum single de seu novo disco

Ao gravar um álbum onde Alex Turner diz "falar com ele mesmo durante 11 faixas", uma das únicas bandas que pode fazer isso prioriza o formato do álbum.

Arctic Monkeys (no Choque de Cultura?)
Foto por Zackery Michael / Divulgação

A indústria da música tem seguido uma série de fórmulas nos últimos anos.

Muitas delas não têm nada a ver com o fato de que efetivamente funcionam, mas sim com a ideia de que são padrões da indústria que devem ser seguidos para que a divulgação de novos singles, EPs, discos e bandas seja maximizada.

Desde que a Internet mudou a lógica das coisas, gravadoras de todos os portes passaram a tentar a entender o mercado e a forma como as pessoas consomem suas músicas favoritas, o que tem mudado rapidamente a cada ano, semestre ou até mesmo períodos bem curtos como um mês.

Há mais ou menos 13 anos, em 2005, programas de compartilhamento de músicas passaram a fazer com que a venda de CDs diminuísse drasticamente e de repente o velho modelo não funcionava mais. Antes os grandes diretores das major labels enviavam os seus representantes a shows de bandas que estavam chamando a atenção, contratavam as mais promissoras, despejavam dinheiro nelas e esperavam para ver quem dava certo.

O investimento valia a pena e aquela banda que estourasse conseguia números astronômicos que compensariam até mesmo as apostas furadas em artistas que acabaram dando prejuízo.

Arctic Monkeys

Chegamos a 2018 e eu só falei disso tudo para abordar a forma como o Arctic Monkeys irá lançar o seu novo disco.

Tranquility Base Hotel & Casino será lançado no dia 11 de Maio de 2018 e até lá não teremos a chance de ouvir nem um simples acorde de uma das 11 faixas que farão parte do álbum, a não ser pelo que aparece no teaser ao final desse post.

A banda e a sua gravadora decidiram pelo mistério e em entrevista para a MOJO, os integrantes do grupo britânico confirmaram que nenhum single será lançado até lá, tática bastante incomum mas que não apenas é compreensível como também louvável.

A única ideia que temos até agora do sexto disco da banda veio a partir de declarações de terceiros: a mesma MOJO publicou uma resenha dizendo que esse disco soa como um trabalho de Alex Turner, e um diretor da Sony falou sobre como Alex Turner escreveu “mais uma obra de arte”.

De maneira mais tímida, o próprio Turner também falou a respeito de seu novo “filho” e disse que o disco é bastante autobiográfico, afirmando inclusive que o álbum é “uma conversa com ele mesmo” durante todas as canções.

Bom, se o álbum é uma conversa íntima de seu compositor, não faria muito sentido apresentá-la através de apenas um trecho do diálogo, não é mesmo? Em um trabalho que parece ter sido feito de forma tão linear, separá-lo para atender as necessidades comerciais da indústria e a pressa dos fãs não parece fazer muito sentido.

Além disso, convenhamos, hoje o Arctic Monkeys é uma das únicas bandas de Rock And Roll do planeta que têm porte para fazer algo diferente quando o assunto é trabalhar seus lançamentos.

Como o próprio diretor da Sony citado aqui anteriormente disse, o lançamento do novo disco do Arctic Monkeys é “um evento da música britânica” e um dos “destaques no calendário de todo o ano”. E eles sabem disso.

Após conseguir sucesso mundial com suas músicas cheias de energia adolescente que foram se transformando ao longo da carreira até chegarem em AM e o rock cheio de classe, a banda liderada por Turner entendeu que não apenas poderia conduzir as coisas da forma que quisesse, como as tornaria bem mais interessantes fazendo da forma como irá fazer.

O hype em torno de Tranquility Base Hotel & Casino é enorme, quase comparável ao que a gente vê com tanta frequência ao redor de artistas pop e rappers hoje em dia, e é justo que seja assim.

Ao priorizar o álbum, o Arctic Monkeys dá valor à obra que criou e não faz a mínima questão de oferecer trechos dela que poderiam passar interpretações equivocadas de um registro tão pessoal. No processo, ainda fez justamente o que as gravadoras tanto desejam nos dias de hoje através de singles e mais singles: chamar a atenção para um lançamento que, muitas vezes, já está saturado quando chega a sua data de vir ao mundo.

Não há como saber ainda se o disco será bem recebido, se o público irá comprar a ideia e se a crítica irá celebrar as composições do Arctic Monkeys. A MOJO mesmo deu nota 7 de 10 para o disco. Isso é do jogo, e nos dias seguintes a 11 de Maio teremos a resposta.

O que é certo mesmo é que a abordagem em si, a tática de venda que se apresenta como a construção de expectativa para um trabalho completo, é acertada. No dia 11 o mundo todo estará ouvindo Tranquility Base Hotel & Casino em seus serviços de streaming favoritos, e todos farão seus julgamentos baseados em como a obra foi imaginada pelo seu criador.

Quer coisa melhor?