O ano é 2003. Ninguém previa isso, mas de repente o cenário do rock brasileiro seria tomado de assalto por uma única voz. O nome dessa voz? Priscilla Novaes Leone, mais conhecida pelo nome artístico Pitty.
No dia 07 de Maio do ano em questão, a cantora baiana lançaria seu icônico álbum de estreia, Admirável Chip Novo, pela Deckdisc. E a explosão resultou no disco de rock nacional mais vendido no ano, superando nomes já consagrados como Skank e Jota Quest.
Uma mulher baiana cantando “rock pesado”
O que esse movimento todo simbolizava? Era evidente que a cena do rock (dominada no momento pelo subgênero pop rock) era guiada por homens. O diferencial do álbum estava na voz da cantora, acompanhando as bases instrumentais, em sua maioria, influenciadas pelo hardcore. A maioria das vozes femininas tocadas nas rádios brasileiras eram de vertentes da música pop, a exemplo de Kelly Key e de Luka, fora as artistas internacionais como Jennifer Lopez e Beyoncé.
Em entrevista a Jô Soares, em 2003, Pitty comentou:
Tinha um cara no camarim. Ele falou ‘Nossa, você é tão pequenininha! Como é que você consegue gritar tanto?’. Eu achei isso engraçado.
Admirável Chip Novo foi uma forma de dizer que na Bahia não se faz apenas axé. A música baiana, na época (e talvez até hoje), era fortemente associada ao estilo popularizado por nomes como Daniela Mercury e Ivete Sangalo. O disco de estreia de Pitty bateu de frente com estereótipos tanto de gênero quanto geográficos.
Na mesma entrevista, a cantora foi questionada sobre “como descobriu o rock”. Pitty, na época com seus 25 anos, respondeu:
Acho que foi o rock que me descobriu. Chega uma certa idade em que você começa a se identificar, a descobrir o que você gosta. A mensagem contida nas letras falava de uma forma que me tocava, que me emocionava mais.
Mas não é só isso que impressiona. O conceito do álbum também foi algo que chamou atenção na época e continua chamando até hoje. Uma clara homenagem ao livro “Admirável Mundo Novo“, de Aldous Huxley, tanto as músicas quanto os próprios clipes falam sobre um futuro hipotético bem “Black Mirror”. Nele, as pessoas são pré-condicionadas tanto biológica quanto psicologicamente, a viverem respeitando regras sociais estipuladas sem questionamento.
Tudo isso impressionou o público, e fez com que o disco de estreia de Pitty chegasse merecidamente ao topo das paradas nacionais.
No Twitter
Em sua conta oficial no Twitter, Pitty embarcou nessa viagem pelo início da carreira e falou sobre aspectos incríveis das gravações de um dos discos de rock nacional mais importantes de todos os tempos.
é uma coisa incrível conseguir essa conexão com as pessoas através da música. é raro, valioso e me sinto muito grata ao universo por toda essa história. tanta gente cruzou meu caminho, tanta vida que não cabe num tweet. OBRIGADA #AdmirávelChipNovo15Anos
— ⚡️PITTY⚡️ (@Pitty) May 7, 2018
Ela ainda falou sobre outros momentos vividos na época, como a escolha dos singles. Segundo sua intuição, deveria ser “Máscara”, mas havia muita resistência.
lembro dos questionamentos acerca do que deveria ser o primeiro single. "Máscara? tá doida? a música tem quase 5 minutos, parte em inglês, muro de guitarra no refrão. não vai tocar em lugar nenhum"
a intuição dizia que tinha que ser essa. e foi. #AdmirávelChipNovo15Anos— ⚡️PITTY⚡️ (@Pitty) May 7, 2018
Ainda no Twitter, Pitty falou que tinha “camisas” da sorte, obviamente com estampas de bandas. O encarte do CD tinha uma foto da baiana com uma camisa azul antiga. Foi uma homenagem ao Dead Kennedys, uma das bandas que mais a influenciou. Além disso, ela contou de outra camiseta da sorte, do AC/DC, ligada aos bastidores da carreira.
essa camiseta azul do Dead Kennedys que eu tô no encarte era uma velha de guerra, puída, do rolê. fiz questão de usá-la nesse dia como um amuleto e uma lembrança do meu chão. tenho ela até hoje. #AdmirávelChipNovo15Anos
— ⚡️PITTY⚡️ (@Pitty) May 7, 2018
Maurício Eça, parceiro dos meus primeiros clipes, ajudou a dar forma a uma estética e linguagem que compartilhávamos nas nossas conversas. Nos sets de filmagem ele sempre usava sua "camiseta da sorte", uma preta (lógico) do AC/DC #AdmirávelChipNovo15Anos
— ⚡️PITTY⚡️ (@Pitty) May 7, 2018
briguei tanto, tanto com Equalize… morria de medo porque sabia que era uma música bonita, e tinha receio de músicas bonitas. falar de amor dentro do meu contexto parecia superficial. medo de ser confundida. no final, ela me venceu e ganhou vida própria. #AdmirávelChipNovo15Anos
— ⚡️PITTY⚡️ (@Pitty) May 7, 2018
Confira abaixo alguns frutos de Admirável Chip Novo e entrevistas que a cantora cedeu na época.
Parabéns, Pitty! Seremos eternamente gratos por esta obra-prima do rock nacional!