Tranquility Base Hotel & Casino, novo disco do Arctic Monkeys, teve uma campanha de divulgação bastante peculiar.
De forma oficial ela não teve campanha nenhuma, para ser sincero. A banda optou por não lançar nenhum single, nenhum vídeo no YouTube, nenhum teaser que tivesse trechos efetivos de música, nada.
Apesar disso, uma entrevista bastante reveladora de Alex Turner e seus colegas para a Mojo foi sendo disponibilizada pouco a pouco e a cada dia ficávamos sabendo mais sobre um disco do qual tínhamos informações de menos.
Primeiro veio a revelação de que Tranquility Base tinha poucas guitarras. Depois ficamos sabendo que ele chegou a ser imaginado como um disco solo de Turner, e mais pra frente ainda tivemos uma lista de canções que o inspiraram, incluindo “Aos Barões”, do brasileiro Lô Borges.
A essa altura já dava para afirmar que o novo álbum seria bem diferente do que o grupo fez no resto da carreira para se tornar conhecido e também era possível imaginar que teríamos um novo conceito sonoro completamente ligado à arte de capa do álbum e seu título. E é exatamente isso que temos no famigerado sexto disco do Arctic Monkeys.
É bom lembrar também que não era só a banda quem falava a respeito do álbum. Um dos diretores da Sony chegou a dar uma declaração falando sobre como o lançamento do disco marcava uma das datas mais importantes do ano no mercado britânico e cravou que Alex Turner havia feito mais uma “obra de arte” com suas novas canções, e talvez essa tenha sido a descrição mais acertada a respeito do álbum até agora. Na mosca, eu diria.
Tranquility Base Hotel & Casino é uma verdadeira obra de arte. Muito bem pensada, fundamentada, repleta de conceitos e com o claro amor do artista aplicado a ela. Mas o que isso significa?
Dizer que o disco é uma obra de arte não significa o mesmo que dizer que ele é excelente. Uma obra de arte exposta em um museu está ali para ser contemplada, seja pelo crítico que irá analisar todas as suas nuances e se colocar no lugar do artista ou por quem simplesmente vai passar por ali em uma tarde de Domingo e nunca mais irá ouvir falar daquele trabalho.
Tranquility Base é um trabalho completamente diferente de qualquer coisa que o Arctic Monkeys já fez em sua carreira. Ele se assemelha com álbuns do The Last Shadow Puppets, banda paralela de Alex Turner, mas até em relação a eles as diferenças são gritantes.
Segundo o próprio autor da obra, tudo começou quando ele ganhou um piano, e isso fica bem evidente durante as 11 canções que são construídas ao redor do instrumento, com pouquíssimas guitarras e linhas de baixo não apenas contundentes como bem altas na mixagem final.
“Star Treatment”, a famigerada faixa de abertura que fala sobre como Alex queria ser um dos The Strokes, é incrivelmente fiel ao conceito do álbum, e cria o clima de lounge e piano bar que você provavelmente encontraria assim que pisasse no Hotel e Cassino de nome Tranquility Base.
Turner disse que foi influenciado por ficção científica e Stanley Kubrick para esse álbum, e não é muito difícil imaginar que qualquer uma das canções desse disco poderiam facilmente estar em uma(s) cena(s) do clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço.
O disco todo segue essa grande temática de apresentar Alex Turner ponderando sobre os mais diversos aspectos da sua vida ao piano, enquanto os outros músicos parecem estar ao seu redor em uma jam, acompanhando as aventuras descritas nas canções e ajudando a criar o clima com uma cozinha afiada e, é bom ressaltar mais uma vez, pouquíssimas guitarras em evidência. Aqui, baixo, bateria e piano formam o belíssimo pano de fundo costurado nos anos 70 para a voz de Alex Turner, inconfundível, que se destaca.
É difícil separar músicas específicas de Tranquility Base Hotel & Casino, e enquanto “Four Stars Out Of Five” provavelmente seria a única com alguma chance de se tornar single, outras carregam elementos que as identificam, como a faixa título que tem a linha de baixo à frente de todo o resto, “Science Fiction” que lembra canções de filmes clássicos de terror e “Batphone”, que tem um quê das fases mais experimentais de bandas como The Beatles e é um apanhado das várias influências citadas por Alex Turner na tal lista que tinha Lô Borges.
Da mesma forma é difícil rotular Tranquility Base Hotel & Casino. Está longe de ser das tarefas mais fáceis entendê-lo sem ouvi-lo pelo menos 5, 15, 30 vezes. E quem é que irá fazer isso com um lançamento na famigerada era digital?
É injusto também dizer que uma obra de arte é boa ou ruim, bela ou feia, incrível ou desastrosa, já que boa parte da experiência de uma delas está nos olhos, e nesse caso, nos ouvidos de quem a recebe.
Na minha opinião, o disco é mais interessante que AM (2013), o último álbum da banda, no sentido em que abraça de vez o que o grupo está disposto a apresentar daqui pra frente, sem a preocupação com hits e sucessos comerciais. Ao mesmo tempo, entendo completamente quem argumentar que hits pra gente cantar bem alto fazem falta, ainda mais no disco de uma banda que ficou conhecido por singles tão intensos e importantes para o rock and roll na época em que foram lançados.
Fato é que é difícil imaginar que daqui pra frente a banda volte a se empolgar com álbuns como os que marcaram o início da sua carreira e foram lançados há mais de dez anos, já que isso parece ficar bem evidente nesse novo disco.
Tranquility Base Hotel & Casino é uma obra de arte. Se você irá pendurá-la na sala de sua casa ou vendê-la no sebo, aí já é uma outra história. Eu teria um lugar de destaque para o disco na minha coleção, pois fiquei com a sensação de que a cada nova passada por ele, seu valor aumentará para mim.
Tranquility Base Hotel & Casino será lançado amanhã, dia 11 de Maio.
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Alex Turner of @ArcticMonkeys wrote MOJO a list of the tunes that were buzzing in his head around the writing and recording of Tranquility Base Hotel & Casino. Here’s Sheet 1… https://t.co/KVABDIADHX pic.twitter.com/hh6AVoJeJ9
— MOJO Magazine (@MOJOmagazine) April 20, 2018
…And here’s Sheet 2. Rock on, in one way or another!… https://t.co/KVABDIADHX pic.twitter.com/qQNrrK5COn
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