O Simple Plan deu início no começo do ano passado a uma turnê mundial em comemoração dos 15 anos do seu primeiro disco de estúdio, o comercialmente bem sucedido No Pads, No Helmets… Just Balls, lançado no já longínquo ano de 2002. O álbum contém algum dos maiores singles da discografia da banda, como “I’m Just A Kid” e “Perfect” e foi o responsável por colocar o quinteto canadense nos holofotes também no resto do mundo.
Após um ano na estrada revivendo o repertório das 13 faixas que fazem parte do disco, o Simple Plan decidiu trazer a comemoração simbólica para a América do Sul e marcou 6 shows no Brasil. Os dois primeiros aconteceram em Porto Alegre (25/05) e Curitiba (26/05) e o terceiro rolou durante a noite desse último domingo (27), com ingressos esgotados na Audio Club em São Paulo.
A ideia de assistir à banda em 2018 parece ser, no mínimo, curiosa. Os membros atualmente estão batendo na casa dos 40 anos de idade, cantando músicas de um disco de pop punk divertido e inocente que fala sobre os conflitos de adolescentes com os seus pais, com a escola, com os seus relacionamentos (e o término deles), a sociedade que os cerca e outras questões que afetavam a existência dos fãs há 16 anos atrás. Imaginávamos que essa seria uma noite repleta de nostalgia para fãs que cresceram e amadureceram junto com a banda, mas o que encontramos na casa de shows lotada foi exatamente o inverso.
O Simple Plan mostrou que ainda consegue renovar a sua audiência, que dialoga bem com o seu público alvo, e como resultado, vimos a Audio Club tomada por uma plateia bem jovem, majoritariamente feminina e entre os seus 15 a 20 anos de idade. Muitos pais presentes inclusive dedicaram a sua noite de domingo para acompanhar os filhos e filhas menores de idade na casa. Obviamente os quase trintões estavam presentes em bom número também, mas a sensação era a de que tínhamos entrado em uma espécie de túnel do tempo diretamente para o inicio dos anos 2000.
Sem banda de abertura, o som da casa embalou os fãs com uma playlist dentro do esperado para a ocasião com músicas já consagradas de artistas do mesmo gênero, como blink-182, Fall Out Boy, Sum 41, Good Charlotte, Panic! At The Disco e até mesmo os brasileiros do Charlie Brown Jr. e Raimundos. Até que por volta das 20h tivemos uma mudança drástica de estilo e os P.As da casa foram tomados pela dançante “Don’t Stop ‘Til You Get Enough”, clássico absoluto de Michael Jackson. A faixa embalou um Simple Plan desfalcado ao palco (o baixista David Desroisiers está atualmente afastado da banda para tratar de sua depressão). Com muito vigor e energia, o grupo abriu o set com “I’d do Anything”, primeira música do disco No Pads… e que na sua versão de estúdio conta com participação especial de Mark Hoppus (blink-182). A casa veio abaixo com muitos gritos histéricos e a música foi cantada em uníssono por grande parte dos presentes, encobrindo os vocais do próprio vocalista Pierre Bouvier.
Com muitas interações com o público (em inglês e em bom português) e piadas dos canadenses ao longo de todo o set, o Simple Plan continuou a ordem das músicas do álbum em questão com “The Worst Day Ever” (que teve uma pausa para dancinhas dos integrantes à lá the backpack kid) e “You Don’t Mean Anything”. A quarta música da noite trouxe um dos grandes sucessos da banda, imediatamente reconhecido nas primeiras notas do riff de guitarra executado por Jeff Stinco. “I’m Just A Kid” embalou o coro paulistano após discurso nostálgico do vocalista Pierre, que não acreditava que já haviam se passado 16 anos desde o lançamento dessa música. Ele disse que agora sentiam um pouco mais de dores nas costas do que antigamente, mas agradeceu por ainda ter cabelos na cabeça e por poderem ser uma banda ainda, mesmo depois de todos esses anos.
O grupo seguiu o “repertório com spoilers” com as faixas “When I’m With You” e a balada “Meet You There”. O guitarrista Sébastien Lefebvre pediu que “guardassem segredo”, mas admitiu que os brasileiros e brasileiras são de fato a melhor plateia do mundo por toda a sua cantoria e empolgação. Ainda reconheceram que haviam muitos fãs novos compondo o público, e fizeram piada com a ideia deles não terem nem 10 anos na época em que o disco havia sido lançado. A música “Addicted”, que também foi um dos singles do disco No Pads, No Helmets, foi marcada por um flashmob dos fãs presentes, que levantaram cartazes com os dizeres “David is Here” (“David está aqui”) em referência à ausência do baixista dos palcos devido ao seu estado atual de saúde mental.
O curioso foi que os demais músicos não fizeram nenhum comentário a respeito da atitude e seguiram o repertório fazendo graça e comentando que em 2002, na época de lançamento do álbum, não haviam celulares como hoje, nem redes sociais como Instagram, Facebook, Twitter — muito menos sites como o YouPorn. A referência ao site pornô fez o vocalista perguntar quantas mulheres estavam presentes na casa, dedicou a próxima música em português a “todas as gurias bonitas” e puxou a faixa “My Alien”. O set continuou com “God Must Hate Me”, “I Won’t Be There” (com apresentação da banda e um mini solo de guitarra de Jeff Stinco).
O Simple Plan fez referência às greves que tomaram conta do país ao longo da última semana, lamentando as dificuldades que alguns fãs estavam encontrando para se locomover e disseram que eles mesmos por pouco não conseguiram chegar na cidade. Logo após retomaram a festa com “One Day”, quando a produção jogou várias bolas de plástico grandes para o público.
A parte do set que envolvia as faixas do disco No Pads, No Helmets…Just Balls chegava ao fim com uma inversão, já que a banda trouxe pra frente a música “Grow Up” (com direito ao baterista Chuck Comeau assumindo os vocais e Pierre Bouvier sentado na bateria) e encerrou com um dos seus grandes hits, “Perfect”. Nessa última, o vocalista Pierre iniciou a música com um violão, e antes mesmo de poder começar a cantar, foi surpreendido com um vocal realmente ensurdecedor dos fãs presentes, que cantaram a plenos pulmões do início ao fim.
O bis trouxe a mesma dinâmica e seleção de músicas de shows anteriores da turnê, mas reservou algumas surpresas em momentos com fãs no palco. A banda voltou para a parte final do show com as músicas “Shut Up” e “Jump”, ambas do disco Still Not Getting Any e “Boom!”, do último lançamento de estúdio do grupo — o álbum Taking One For The Team. Entre essa e a próxima música, uma surpresa: Pierre convidou um fã ao palco para pedir a sua namorada em casamento, ganhando muitos aplausos e olhares emocionados da banda e dos demais fãs presentes após o grande momento do inevitável “sim”.
Após o pedido especial, a banda tocou a faixa “Jetlag”, convidou uma série de fãs que pagaram o pacote VIP para subirem ao palco para tirarem fotos com a banda antes da música “Summer Paradise” e depois seguiram para o desfecho do set com mais duas músicas do disco Still Not Getting Any: “Crazy” e “Welcome To My Life”. Durante a primeira, o vocalista Pierre inverteu sua posição surgindo atrás dos fãs no fim da pista, onde estava localizada a mesa de som, para cantar um dos últimos refrões da noite.
Após uma série de declarações de amor da banda pelo Brasil e pelos seus fãs, um número considerável de hits e uma apresentação redonda e muito bem ensaiada, o Simple Plan se despediu de São Paulo tendo conquistado fãs mais novos do que esperávamos encontrar pela frente. A banda agora segue para o Rio de Janeiro, onde tocam no lendário Circo Voador no dia 30, e logo após encerram a turnê no dia 1º de Junho em Uberlândia/MG, com apresentação no Ginásio Municipal Tancredo Neves (Sabiázinho).
Setlist – Simple Plan em São Paulo
- I’d Do Anything
- The Worst Day Ever
- You Don’t Mean Anything
- I’m Just a Kid
- When I’m with You
- Meet You There
- Addicted
- My Alien
- God Must Hate Me
- I Won’t Be There
- One Day
- Grow Up
- Perfect
- Shut Up
- Jump
- Boom!
- Jet Lag
- Summer Paradise
- Crazy
- Welcome to My Life
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