Hayley Williams publica texto sincero sobre sua saúde mental: "escrever me manteve viva"

Hayley Williams, a vocalista do Paramore, abriu o coração a respeito de sua vida emocional ao longo do processo de composição de "After Laughter".

Hayley Williams em 2013
Foto de Hayley Williams via Shutterstock

Paramore parece estar vivendo uma boa fase atualmente. A banda concluiu recentemente a 3ª viagem marítima do cruzeiro Parahoy e continua excursionando em uma série de turnês para promover o seu disco mais recente, o elogiado After Laughter, lançado em 2017.

Mas se hoje as coisas estão no rumo certo, o caminho que foi percorrido para que o grupo chegasse nesse ponto não foi exatamente um mar de rosas. A vida emocional e social da vocalista Hayley Williams passou por uma série de baixos durante o processo de composição do disco.

A saída nada amigável do baixista Jeremy Davis da formação (o músico entrou na justiça contra o Paramore para poder receber valores referentes à composição de músicas do catálogo da banda) e o divórcio com o ex-marido e guitarrista da banda New Found Glory, Chad Gilbert, levaram Hayley a um espiral de confusão e auto depreciação, com sinais de depressão.

Recentemente Hayley abriu o coração em uma matéria escrita pela mesma para a publicação Paper Magazine, onde falou sobre sua saúde mental e todos os acontecimentos que a levaram a escrever passagens como “eu não preciso de ninguém, eu consigo me sabotar por conta própria” e suas melhores e mais sinceras letras até o momento.

Traduzimos a coluna de Hayley Williams na íntegra, confira abaixo:

Eu deixei pra fazer essa coluna no último dia possível. Toda vez que alguém me pede para escrever alguma coisa a minha primeira pergunta sempre é: ‘Quando você precisa ter isso absolutamente pronto?’. Não é que eu não goste de escrever, mas essas tarefas me dão uma ansiedade estranha. Ela está rolando nesse exato momento, enquanto as palavras saem dos meus dedos. Eu acho que eu escrevo muito bem, mas não é como se eu fosse a porra da Sylvia Plath! Por que eu estou surtando? As pessoas vão ver, elas podem até ler sobre, e se eu tiver sorte, elas tirarão uma lição disso.

Não. Pra ser honesta, na minha cabeça, é mais ou menos assim: as pessoas vão ver isso, elas podem até ler isso, e se elas não tirarem nada disso então talvez isso seja um reflexo do quanto eu valho de verdade.

Vamos falar sobre outra coisa. Vamos falar sobre o AL (After Laughter).

No verão de 2015, eu era uma noiva de 26 anos com cabelo amarelo. Tinha uma estatueta do Grammy no balcão da minha cozinha e caixas em todos os lugares da mudança que eu fiz de volta para minha casa em Nashville após uns anos estranhos morando em Los Angeles. Eu ia me casar no mês de Setembro, pegar um pouco mais leve, plantar um jardim, ter um filho, fazer outro disco do Paramore. Tudo finalmente seria perfeito e eu ia viver feliz pra semp— Oh.

Uau…

Acabei de vomitar um pouco.

Imagine uma garotinha, dançando e rodopiando em uma calçada em um vestido espalhafatoso e colorido. Olhos fechados, rindo. 30 metros acima dela, alguém está empurrando um piano (só vem comigo nessa) pra fora da janela do seu apartamento e ele vai com tudo pra baixo. Bom, eu era essa garotinha.

Taylor York e eu deveríamos começar a escrever o que seria o quinto álbum, e eu lembro que pela primeira vez em muito tempo, eu na verdade tinha uma ideia que eu queria mandar pra ele. Eu quase chorei quando encontrei a letra no meu telefone outro dia:

‘Sanidade, por quê você me faz de trouxa/ Você era minha amiga, agora eu acho que somos inimigos/ Quando eu caio de joelhos eu a ouço rindo/ Quando eu chamo o seu nome, você não vem.’

Nós nunca chegamos a terminar essa música, mas aquele pequeno verso foi a primeira dica que o meu subconsciente me deu de que eu não estava bem. Eu não ganharia outras dicas até depois de o piano ter caído bem em cima de mim.

Eu acordei dessa queda com um colega de banda a menos… outra briga sobre dinheiro e quem escreveu quais músicas. E eu tinha um anel de casamento no dedo, apesar de ter ficado noiva só alguns meses antes. Muita coisa aconteceu em um período muito curto de tempo. Eu não comia, eu não dormia, eu não ria… por muito tempo. Eu ainda hesito em chamar isso de depressão. Mais por medo de que as pessoas coloquem isso em uma manchete, como se a depressão fosse algo único e interessante e merecesse um click. Psicologia é interessante. Depressão é um tormento.

Nós escrevíamos e escrevíamos e eu nunca gostava de nada que eu colocava nas músicas que o Taylor mandava. As coisas dele soavam inspiradas. As minhas partes soavam, para mim, como alguém morto por dentro. Eu não conhecia a pessoa por trás daquelas palavras. Provavelmente porque eu nunca permiti que ela saísse e dissesse como ela se sentia de verdade. Eu nunca me preocupei em conhecê-la. Como os mesmos lábios que disseram ‘Eu aceito’ poderiam cantar as palavras ‘Você quer perdão mas eu não posso te dar isso’. Ou a mesma pessoa que uma vez tentou ser tão felizinha pudesse escrever letras como ‘eu não preciso de ajuda, eu consigo me sabotar por conta própria.’

Mas escrever me manteve viva. Me forçou a ser honesta. Me fez ter empatia pelo Taylor nas dificuldades dele com saúde mental. Me ajudou a entender que o bem-estar emocional e saúde física estão relacionados. Me ajudou a perceber que eu não deveria ter casado com o meu ex e que amor não é algo que você pode simplesmente extrair um do outro.  Escrever abriu o meu coração para fazer as pazes enquanto Zac Farro correu de volta para a minha rotina e a do Taylor como um raio. Agora toda noite durante as turnês, eu olho a minha volta e vejo o meu irmão de volta à bateria de novo. Chega de negação. Chega de atravessar a rua como aquela velhinha dos desenhos animados que nem percebe que acabou de acontecer um acidente atrás dela quando ela mal chegou ao outro lado da rua.

Isso é o que chamo de “Vida com AL” — abreviação para After Laughter. É meio besta, mas me ajuda a marcar essa era como um ponto significante de mudança na minha vida. É como um retorno de Saturno. Eu percebo movimentos semelhantes nas vidas dos meus amigos também. Mais presença e percepção. Mais amabilidade. Eu estou viva para a dor e para a alegria agora. Eu ganhei minha risada antiga de volta, pelo que diz a minha mãe. Aquela que toma controle do meu corpo e me expele para fora dele por alguns segundos. E somente há uns 2 anos atrás, eu esperava que eu morresse.

Então aí está a minha coluna. Que idiota eu devo parecer para as pessoas que não me conhecem pelo Adam.

Quem é Adam? Ele tem relação com o AL?

Mas aí está o ponto: uma hora atrás eu estava com medo de escrever isso por medo de que não fosse ‘suficiente’. Tudo que eu podia fazer era escrever sobre algo que eu me importasse. Expressão é sobrevivência. Você pode fazer como quiser. Escreva, desenhe, crie algo com as suas próprias mãos. Diga a alguém que você o ama. Dirija, abaixe os vidros e grite algo como ‘MINHA VIDA ESTÁ UMA MERDA AGORA!’ ou ‘VOCÊ SABE O QUE MAIS? EU ESTOU MUITO BEM HOJE NA VERDADE!’

Essas são algumas coisas para tentar caso a choradeira e a dança não resolvam.

E então você não poderá dizer que o meu texto não te ajudou um pouco… e eu não poderei dizer a mim mesma que eu não valho nada.