7 grandes dicas para cair na estrada com a sua banda

Cao Laru, grupo franco-brasileiro que excursiona pelo mundo em uma Kombi, dá dicas para cair na estrada fazendo música com a sua banda.

Cao Laru
Foto por Felipe Ludovice

Cao Laru é uma banda franco-brasileira que viaja pelo mundo em uma Kombi fazendo shows pelas cidades que passam.

Em 2016 eles foram da Bahia até a Patagônia, em 2017 o grupo esteve na Europa e agora em 2018, após finalizar uma turnê por Argentina e Bolívia, está no meio de um giro pelo Brasil com 42 shows em 65 dias, em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. Na média, a banda faz 1,5 show por dia.

Pois bem, nada melhor do que uma banda que faz da estrada a sua vida para nos dizer quais são as dicas fundamentais para bandas iniciantes que gostariam de sair por aí espalhando a sua música, não é mesmo?

Sendo assim, o Cao Laru disponibilizou logo abaixo uma lista com sete pontos importantíssimos para bandas independentes que querem excursionar e fazer shows Brasil afora.

Fique ligado também nas próximas datas de shows da banda, que estará no interior de São Paulo nos próximos dias, inclusive fazendo shows em duas cidades diferentes na mesma data:

  • 14/06 – Vinhedo (Frei Jó, 20h)
  • 15/06 – São Paulo (Biblioteca Mário de Andrade, 19h)
  • 15/06 – Campinas (Echos, 23h)
  • 16/06 – São Paulo (Casa de Francisca, 12h)
  • 16/06 – Bragança Paulista (Galpão Busca Vida, 22h)
  • 22/06 – São Paulo (Mundo Pensante, 22h, + Grand Bazaar)
  • 23/06 – Registro (Sesc Registro)

 

1 – A antecedência é essencial

A gente se organiza bem antes, com pelo menos 9 a 10 meses de antecedência. Traçamos uma ideia de itinerário em cada país e estado, verificamos em quais dias da semana serão os feriados e as vésperas, se vai ter emenda, e analisamos a característica de cada cidade (se ela recebe turistas ou “perde” moradores nos feriados).

O primeiro passo é a busca por espaços e contratantes maiores, com possibilidades de cachês mais altos. Após isso, a ideia é ir encaixando cidades e locais menores que estejam no meio do seu trajeto. Buscar espaços que valorizem a música independente e tenham público que queira consumir a sua música. Aí é um trabalho de relacionamento: descobrir, junto com os contratantes e conhecidos, novos contatos e casas semelhantes nas cidades vizinhas para compor um mini giro por aquela região.

2 – Entre (e saia) do roteiro tradicional de shows

A gente procura sempre alternar cidades maiores com cidades menores. Às vezes a resposta de público em cidades menores é bem maior que nas grandes e nas capitais, onde sempre enfrentamos uma concorrência muito forte com outros shows, festas e atividades culturais. Além disso, encaixar cidades menores no trajeto pode aliviar riscos de eventuais atrasos no deslocamento pelas estradas e com quebras que possam ocorrer no veículo. Sua margem de erro torna-se menor em deslocamentos mais curtos.

3 – Cada banda tem seu carro ideal

No caso do Cao Laru, a kombi foi o carro ideal para um grupo de 8 a 9 pessoas. Ela possui um consumo relativamente baixo de combustível (como se fosse um carro 1.4). O acesso a peças e a serviços mecânicos é bem simples em qualquer lugar (“todo mecânico sabe consertar uma Kombi”). Além do mais, ela possui um charme, que atrai a atenção das pessoas por onde passamos e comporta bem todo o material que temos de transportar (malas, cenário, instrumentos, além das pessoas). Viajamos com um peso total de quase 1 tonelada.

Importante considerar também que a Kombi possui uma velocidade um pouco menor e isso faz com que o trajeto seja um pouco mais demorado.

4 – Tocar na rua pode ser bom pra banda e pro bolso

Fazer shows na rua, gratuitos, está no âmago da nossa essência artística. Inclusive “Cao Laru” é uma saudação à rua. Continua sendo muito importante. Já tocamos muito na rua de maneira acústica, sem microfone. Desenvolvemos assim um trabalho muito forte com a parte vocal para que o som “chegue mais forte”. A dica é sempre procurar um espaço com boa acústica, como, por exemplo, áreas bem abertas, grandes ruas e avenidas. De preferência, que tenham muros grandes atrás que possam reverberar o som. Tome cuidado com barulhos de veículos e de máquinas. A utilização do som acústico na rua é o ideal para esse formato. Na Suíça, por exemplo, tocamos em um festival na rua onde era proibido o uso de microfones.

Além disso, uma ação que sempre funciona com a gente nesse tipo de show, é “passar o chapéu”. Sim, literalmente! Sempre passamos um chapéu para que o público que está na rua vendo o nosso show, possa fazer sua contribuição.

5 – Não ofereça apenas o show – e toque em todos os lugares

Não se prenda a festivais, casas de show e pubs. Eles são importantes sim.

Mas procure levar a sua música a todos os lugares: creches, APAEs, asilos, escolas, hospitais. Atinja um público que não vai estar no seu show. Neste caso, o legal é adaptar um formato do espetáculo para este tipo de local. Diálogo, conversas, oficinas, som e, principalmente, a capacidade da sua banda interagir, vivenciar, trocar experiências de acordo com o perfil de pessoas de cada um desses lugares: isso tudo é muito importante.

6 – Prepare-se para o item mais difícil

Eis aqui o maior desafio que um grupo de 8 pessoas vai ter: a convivência. É um aprendizado! Tolerar, respeitar os momentos coletivos e individuais de cada um. No nosso caso, temos alguns casais no grupo e isso torna-se um exercício a mais.

Tentar controlar o mau humor que possa existir. Sempre buscar a conversa para resolver eventuais dificuldades. Procurar que todos tenham sempre o caminho aberto para expor os seus problemas de maneira profissional e tranquila para evitar a criação de mágoas e ressentimentos internos. Por fim, tentar sempre contagiar as pessoas e o espaço com boas notícias, bom humor e ambiente positivo para que essa possa ser a dinâmica: do bom astral, com alguns momentos ruins. Nunca ao contrário.

7 – E pra pagar as contas?

Há que se buscar um equilíbrio. Nem sempre todos os músicos querem (e podem) viver apenas de ajuda de custo. Por isso a ideia de buscar e planejar sempre com antecedência datas e apoios importantes de contratantes maiores (como SESCs, prefeituras e empresas) para justamente viabilizar bons pagamentos a todos os músicos, inclusive nos shows menores onde os cachês serão bem reduzidos. Procurar separar uma verba para investir nas demais áreas: prensagem de discos, contratação de uma agência de comunicação e assessoria de imprensa, fazer um caixinha para despesas não planejadas, além das despesas operacionais: gasolina, pedágio, estacionamento, tarifas bancárias, peças e conserto do seu veículo, entre outros.

No nosso caso, temos um contador no grupo, que é o responsável por gerenciar os assuntos financeiros. Busque ter outras formas que possam gerar renda em seus shows: venda de CDs, camisetas e itens personalizados, por exemplo. Outra dica é ter um segundo produto a oferecer, além do seu show. O Cao Laru possui uma oficina musical personalizada para crianças e adultos onde convidamos os participantes a brincar (ao que chamamos de ‘jogos musicais’), a dançar e a cantar em diversos idiomas (francês, iraniano, espanhol, etc), sem nunca esquecer dos aspectos culturais e das tradições que carregam cada música trabalhada.