Entrevistas

Conversamos com Fernanda Takai sobre seu novo álbum em homenagem a Tom Jobim

A prolífica Fernanda Takai lançou neste mês de Junho "O Tom da Takai", disco que revisita obras quase esquecidas de Tom Jobim.

Conversamos com Fernanda Takai sobre seu novo álbum em homenagem a Tom Jobim

Entrevista por Nathália Pandeló Corrêa

Um belo dia, Fernanda Takai resolveu garimpar o repertório de Tom Jobim.

Atrás de sons que não fossem apenas “Garota de Ipanema” e “Águas de Março”, a cantora recolheu do baú do artista 13 canções que foram menos regravadas do que os clássicos já conhecidos. Daí nasceu O Tom da Takai.

Lançado no começo do mês de Junho, o novo disco da vocalista do Pato Fu faz uma bela releitura do “lado B” de Jobim. O álbum foi gravado e mixado no Estúdio Tambor, Rio de Janeiro, com produção e arranjos de Marcos Valle e Roberto Menescal.

Conversamos com Fernanda para entender melhor esse trabalho, confira abaixo!

 

TMDQA!: Nossa última entrevista com você foi há 4 anos! E na época você estava lançamento Na medida do Impossível, um outro trabalho solo. Uma das coisas que você compartilhou conosco na época foi: “No título eu tentei sintetizar as dificuldades de fazer o álbum… Pensando assim, tudo é possível.” Agora, estamos aqui falando de um álbum que foi sonhado pra você pelo Roberto Menescal, e menos de 1 ano depois, nasceu O Tom da Takai. Claro que todo disco é trabalhoso e até difícil, mas como foi dividir um pouco dessas responsabilidades com o Menescal e o Marcos Valle?

Fernanda Takai: Foi muito bom, pois houve uma sintonia enorme entre nós. Parecia que a gente tinha tocado junto a vida toda. Todo o processo de escolha de repertório, arranjos e gravação aconteceu de uma forma muito natural. Realmente uma surpresa muito positiva para todos nós.

TMDQA!: Algumas das resenhas que vi por aí dizem que você “saiu da zona de conforto”. Eu diria que você já é uma artista um tanto inquieta, no sentido de estar sempre lançando, e cada projeto tem uma cara diferente — seja solo, com a banda, Música de Brinquedo, livro, etc. Acredito que sejam facetas diferentes da mesma artista. Como você escolhe qual delas explorar a cada novo ciclo de trabalho?

FT: É algo intuitivo, porque não há como prever quanto tempo cada ciclo de trabalho dura. Acho que todas as coisas em que me envolvo tendem a ter uma vida mais longa, por isso há tantas interseções entre elas. Faço turnês simultâneas, divulgo livros diferentes num mesmo evento, canto com muita gente diferente… talvez seja a expressão mais visível de minhas jornadas múltiplas que ainda incluem a maternidade e a minha porção dona de casa.

TMDQA!: Um dos diferenciais desse disco é que você não gravou em casa, e sim no Rio, com músicos cariocas, produção carioca. Já tinha trabalhado com eles anteriormente? De que forma essa experiência te libertou pra buscar outros caminhos — seja de interpretação, musical ou de repertório?

FT: Meu primeiro disco carioca desde 1994, quando gravamos com o Pato Fu na Companhia dos Técnicos, estúdio da BMG em Copacabana. Não tinha trabalhado com a equipe do Tambor, mas destaco demais o trabalho do Jorge Guerreiro na captação dos timbres originais de vozes e instrumentos. O equipamento deles também é impecável. Aliás, todos ali muito focados na produção, uma equipe excelente.

TMDQA!: Jobim quase que faz parte do nosso DNA, dono de uma voz e uma poética muito única. Acredito que as versões originais dessas canções também estejam muito fortes na sua memória. Como foi desconstruí-las, de forma que se tornassem suas enquanto intérprete, mas preservando a sua aura, a sua identidade?

FT: Acho que nessas versões eu menos desconstruí, e sim adicionei minha voz a um material originalmente maravilhoso que ganhou arranjos novos, diferentes, mas muito fieis ao espírito jobiniano. Cantei como canto geralmente, exceto pelo fato de talvez estar usando a voz em tons um tiquinho mais agudos pra dar conta da amplitude das melodias.

TMDQA!: Um dos comentários recorrentes sobre esse álbum é que você não recorreu aos clichês da discografia do Tom. A verdade é que, tirando todos aqueles clássicos, sobra muita música ainda! Não sei se essa seleção de “lados B” foi intencional, mas como você chegou nessa tracklist final? Alguma que você cortou do disco com muita dó?

FT: Sim, foi totalmente intencional. A gente queria recuperar canções que tiveram menos regravações, fossem de uma época do Tom mais jovem, cheio de parceiros compositores. Menescal e Marcos fizeram as primeiras sugestões por e-mail. Fui ouvindo, dando algumas ideias também e depois nos reunimos para escolher numa lista de 22 músicas pré-selecionadas, as que foram gravadas.

TMDQA!: Essa não é sua primeira vez gravando Tom. Além do repertório mais extenso, que mudou entre a Fernanda Takai de Onde brilhem os olhos seus, onde você já havia gravado “A Estrada do Sol” e “Insensatez”, e a de agora?

FT: Já são quase 11 anos de distância. No meio desse caminho gravei “Águas de Março” com Moreno Veloso, pro Red Hot + Rio 2, com produção de Atom (aka Señor Coconut) e Toshiyuki Yasuda. O que mudou na verdade é que hoje sou uma pessoa ainda mais feliz com a minha carreira, minha filha já está com 14 anos, sigo fazendo o que gosto nessas minhas relações todas que costumam durar muito tempo.

TMDQA!: Por fim, nosso site se chama Tenho Mais Discos Que Amigos, o que tem muito a ver com a nossa relação especial com a música, que é uma companheira nos bons e maus momentos. Imagino que você tenha acumulado uma vida inteira ouvindo Tom, como muitos de nós. Qual é o disco indispensável dele, pra você?

FT: Francis Albert Sinatra + Antonio Carlos Jobim é um álbum que reúne canções emblemáticas pro Brasil e pro mundo inteiro. Se for pra citar um só do Tom, seria Wave. Meu pai tinha essa fita cassete que ouvi bastante.