Desde o primeiro disco (Lungs, de 2009), Florence + The Machine parecia uma banda difícil de se colocar numa estante, de se definir um gênero, de estabelecer um estilo. A presença da sua frontwoman era tão poderosa que até o conceito de chamar de banda parecia estranho.
Com o passar os anos, a roupagem indie foi diminuindo e se aproximando do pop, sempre com um tom épico – ora religioso, ora pagão. No novo High as Hope, os gêneros musicais foram diluídos em pura religiosidade nesse que talvez seja seu disco mais coeso, porém para iniciados.
Digo para iniciados pois ele não se propõe a agitar o ouvinte, a capturá-lo pelo ritmo. Não tem uma “You’ve Got The Love” (do já citado Lungs) ou uma “Delilah” (de How Big How Blue How Beautiful, de 2014). Ao contrário do que foi feito em toda a sua discografia, Florence não toca pela catarse, mas pelo clima. Ao subverter essa expectativa de uma explosão, de algo mais imponente sonoro, é que High as Hope surpreende.
O disco começa com com a voz de Florence em primeiro plano, quando ela se expõe em versos pessoais, fortes. A melodia surge aos poucos, o clima épico também. Parece que a banda espera que o ouvinte mergulhe nessa proposta sonora, que já é exposta em “Hunger”, primeiro single. A produção limpa alguns exageros marcantes e coloca as palavras em destaque.
E são as letras o principal do disco. A figura de deusa, de bruxa, de santidade pagã proposta desde o primeiro lançamento, aprofundada em Cerimonials (de 2011 e meu favorito da banda) e tão forte ao vivo se dilui em humanização, o que torna o clima involuntariamente religioso mais forte nesse disco do que nunca.
Ouvir ela contar histórias da sua vida como em “South London Forever” (um dos melhores momentos do disco e uma das melhores faixas da discografia da banda) ou falar de suas inspirações (“Patricia”, sobre Patti Smith) ou desabafando como em “No Choir” (outro grande momento), faz High as Hope parecer uma longa mensagem, um longo sermão.
Sem se arriscar sonoramente, Florence + The Machine faz um disco para dialogar com as angústias de seus fiéis. São as faixas mais arriscadas liricamente da história do grupo, mas você tem que aceitar a palavra de Florence Welch, aceitá-la como sua salvadora e se deixar levar. Esse é o primeiro lançamento deles que funciona melhor como álbum do que como uma coletânea de ótimos singles com alguns desvios e exageros em prol do clima proposto, que sempre foi de certa dramaticidade.
Ouvindo a discografia na sequência, parece que em High as Hope Florence fecha um ciclo, reflete sobre os erros do passado, sobre seu caminho e se mostra – apesar de muito melancólica (como na ótima “Sky Full of Song”) – muito mais positiva, muito mais madura. O disco em si me empolga pelo que pode vir no futuro, pela nova Florence que vai surgir depois desse sermão. Que seja ótimo. Amém.