Entrevistas

Ryan Scott (State Champs) nos falou sobre a turnê no Brasil, disco novo e desafios do Pop Punk em 2018

Baixista conversou com o TMDQA! durante parada da última Warped Tour sobre o novo álbum Living Proof e o crescimento da banda fora dos holofotes comerciais.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Malvisto por muitos puristas do Hardcore e do Punk e amado por milhões de fãs ao redor do mundo que não estão nem aí pra opinião dos outros, o Pop Punk atualmente está mais vivo do que nunca e com uma leva substancial de bandas divertidas e interessantes que constantemente lançam novos discos.

Entre nomes como The Story So FarNeck DeepReal Friends, os norte-americanos do State Champs acabam de lançar o seu terceiro disco de estúdio, Living Proof, e estão atualmente viajando pelos Estados Unidos abordo da última turnê itinerante da Warped Tour.

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E é diretamente de uma das paradas recentes da turnê que o baixista, compositor e vocalista Ryan Scott tirou um tempo para conversar com a gente sobre o novo disco, influências e heróis do Pop Punk e a primeira turnê sul-americana do quinteto em Novembro, que passará por Rio de Janeiro (16/11), São Paulo (17/11) e Curitiba (18/11). Confira abaixo:

TMDQA!: O disco mais recente do State Champs, Living Proof, foi lançado há alguns dias já, mas vocês haviam soltado três singles antes da data oficial de lançamento. Como é que os fãs, tanto antigos quanto novos, estão reagindo ao novo material até agora?

Ryan Scott: Eu acho que inicialmente nossos fãs mais antigos ficaram um pouco hesitantes quando nós lançamos o nosso primeiro single, imaginando se nós tínhamos de fato mudado tanto o nosso som e se eles receberiam a dose de “pop punk” que eles queriam. Mas desde que o disco saiu todo mundo tem demonstrado uma surpresa boa. A gente nunca pensou em fazer algo com o qual não estivéssemos confortáveis, então as músicas ainda soam muito como o State Champs. Muito divertidas, pra cima, jams pra serem ouvidas no verão e ainda são muito pop punk.

TMDQA!: O disco não se afasta muito da sonoridade pop punk pela qual vocês se tornaram conhecidos, mas também ganha uma nova dinâmica ao mesmo tempo. Sinto que as músicas são um pouco mais orientadas para o pop em alguns refrães e os sons têm estruturas diferentes e interessantes. As suas experiências com o seu projeto paralelo Speak Low If You Speak Love influenciaram o resultado final dessas músicas novas de algum jeito?

Ryan Scott: É um pouco difícil responder essa pergunta imparcialmente, mas eu tive mais responsabilidades agora durante a composição do Living Proof. Eu queria escrever mais as guitarras para esse disco, porque esse é o meu instrumento principal e o meu favorito, apesar de eu tocar baixo na banda. Um dos objetivos que eu queria atingir com o produto final era que as pessoas ouvissem o disco e reconhecessem a musicalidade aplicada nele do começo ao fim. Eu não queria que ele tivesse aquelas características estereotipadas de um disco punk cheio de acordes simples que qualquer um poderia sentar e compor se quisesse. Nós sempre fomos uma banda de refrães grandiosos, então eu não me preocupei com esse aspecto – pra mim o que importava era tornar o resto da música interessante, então eu tentei motivar o resto dos caras a experimentarem com novas estruturas e riffs e nós nos divertimos muito fazendo isso.

TMDQA!: Falando sobre Pop Punk, enquanto eu ouvia o disco pela primeira vez eu pensei muito em bandas como The Starting Line, All Time Low e The Maine. Vocês tentam conscientemente evitar similaridades com outros artistas do mesmo gênero ou essas comparações são bem-vindas? Se você puder nomear alguns, quais seriam os seus ídolos do pop punk?

Ryan Scott: É claro que você nunca quer soar como uma cópia de outra banda, e na maior parte do tempo eu acho que fazemos um belo trabalho evitando isso. Mas em todo gênero de música existem as comparações feitas com os nomes gigantes dentro desse respectivo gênero, então não me surpreende ouvir alguém dizer “isso aqui me lembra All Time Low” ou seja lá quem for. Desde que isso te lembre de algo que você ama, por que eu ficaria puto com isso? Nós só queremos que você ame as músicas. Nós fomos influenciados pelas mesmas bandas que você ama. Kenny [Vasoli, vocalista do The Starting Line] é um herói em comum pra gente quando o assunto é pop punk. Nós também somos grandes fãs do Paramore e amamos a forma com a qual eles transcenderam os limites do estilo. Eles são intensamente inspiradores nesse aspecto.

TMDQA!: Como muitas bandas no estilo, vocês também acabaram fazendo uma colaboração com Mark Hoppus (blink-182) na música “Time Machine”. Você pode nos contar um pouco mais sobre como foi essa experiência? O que ele trouxe de ideias durante o processo de composição e gravação?

Ryan Scott: A parceria com o Mark Hoppus foi meio que uma surpresa para nós, já que ela não foi nada planejada. Quando nós estávamos gravando algumas músicas com o John Feldmann (produtor do blink-182 e vocalista/guitarrista do Goldfinger), Mark apareceu um dia no estúdio com uma ideia na cabeça para uma música e perguntou se nós poderíamos trabalhar nela juntos. Uma música então se tornou duas, então acabou sendo uma sessão muito produtiva. Nós escrevemos “Time Machine” um pouco depois do atentado de 2017 em Las Vegas e queríamos tocar em um ponto um pouco mais pessoal e político, algo que não fizemos no passado. Foi uma manhã muito emotiva e pareceu certo deixar que esse sentimento nos guiasse. Não sabíamos se a música entraria ou não para o disco até o último minuto possível, mas nós achamos que ela seria uma boa surpresa e que mudaria a dinâmica dentro do disco.

TMDQA!: A arte da capa do disco contém algumas ilustrações e fotos de diferentes objetos e animais. Existe um significado por trás desse conceito ou são todas escolhas aleatórias somente?

Ryan Scott: Nós sabíamos que queríamos fazer uma montagem com colagens de algum tipo e esbarramos com um cara chamado Dewey Saunders no Instagram que chamou a nossa atenção. Nós deixamos ele ouvir o disco algumas vezes e pedimos pra quele fizesse algo inspirado nas letras e sentimentos que ele experimentasse enquanto ouvia o álbum. Então os objetos e animais não foram escolhas nossas, foram dele! Arte inspirada pela arte. Nem preciso dizer que eu acho que o resultado ficou bem legal e estamos muito felizes com ele. Nossa direção de arte sempre foi sobre fazer algo um pouco diferente do que os nossos colegas estão fazendo e tentar sempre nos mantermos um passo adiante.

Arte da capa do disco “Living Proof”

TMDQA!:  “Criminal” e “Frozen” são boas músicas para abrir o disco e que acabam ditando o tom dos sons do restante do álbum na minha opinião. Quais são as suas músicas favoritas nesse lançamento e por quê?

Ryan Scott: Na verdade essas duas faixas são as minhas favoritas pessoalmente. “Frozen” foi uma daquelas músicas “de volta às raízes” que escrevemos juntos como uma banda enquanto estávamos enfurnados em uma casa em Nova York. Nós terminamos a parte instrumental muito rápido na verdade, mas depois fomos pegos em uma limitação de tempo no fim das nossas sessões de estúdio e quase não a finalizamos. “Frozen” foi a última música para a qual escrevemos letras e a última que teve vocais gravados também. Outras músicas que eu gosto muito no disco são “Crystal Ball”, “Lightning” e “Something About You”. Essas duas primeiras também são músicas bem pop punk, rápidas e divertidas que tem a mesma vibe do [disco] The Finer Things mas um pouco mais adultas. “Something About You” era um riff que eu tinha na minha cabeça há 4 anos já e ver ele se tornar realidade foi muito especial para mim. Estou muito feliz com a forma com a qual essa música saiu no fim.

TMDQA!: Vocês estão vindo para a América do Sul pela primeira vez em Novembro e vão fazer 3 shows aqui no Brasil. Existe uma preparação diferente nas vezes que vocês vão tocar para uma plateia estrangeira como nós pela primeira vez? O que os fãs podem esperar dos sets de vocês por aqui?

Ryan Scott: É sempre divertido visitar um lugar novo e tocar para as pessoas lá pela primeira vez. Honestamente, essa ainda é uma das melhores sensações de estar em uma banda. Eu sempre fico muito empolgado em visitar os locais turísticos, conhecer as pessoas e obviamente provar as comidas! Nós estamos particularmente muito empolgados pela América do Sul porque vocês são conhecidos por cultivarem uma experiência incrível. A base de fãs é muito viva e orgulhosa do seu amor por música e normalmente isso faz um show ser incrível. O desejo dos fãs para que nós visitássemos o país é de verdade a principal razão pela qual nós podemos ir até aí! Se não existisse a demanda, nós talvez não pudéssemos comparecer – então muito obrigado por isso! E sobre o nosso show, vamos tocar uma boa mistura de todos os 3 discos. Provavelmente haverão algumas músicas novas que não tentamos ao vivo ainda até esse ponto, então nós provavelmente vamos tocar músicas novas pela primeira vez!

TMDQA!: Existia todo esse conceito de “O Pop Punk não morreu” e “Defendam o Pop Punk” nos discursos de algumas bandas do gênero há um tempo, porque parecia que esse tipo de música havia voltado ao underground depois de anos experimentando sucesso comercial uma década atrás. Ao mesmo tempo, existe uma variedade muito grande de bandas boas do estilo hoje em dia fazendo turnês e lançando músicas novas. Como é fazer parte dessa cena em 2018? Qual é a realidade e a perspectiva de futuro para uma banda de Pop Punk?

Ryan Scott: É muito bom poder fazer parte dessa cena porque ela está repleta de pessoas fazendo música pelo amor que tem à música. Como você mencionou, o sucesso comercial que o pop punk experimentou no começo dos anos 2000 se foi praticamente, então ninguém está começando uma banda hoje em dia pensando, “É, eu vou ser tão grande quanto o Good Charlotte ou o blink-182”. Os sons novos não tocam na MTV e tem muita dificuldade de entrar na programação das rádios, então você sabe que as músicas que estão sendo compostas e gravadas hoje vêm de um lugar sincero no coração das bandas.  Isso sempre nos encorajou! Nós somos uma banda conhecida por fazer músicas leves e divertidas porque nós queremos nos divertir e eu acho que essa é uma das coisas mais importantes a serem reconhecidas e lembradas. O futuro do Pop Punk? Essa é uma pergunta difícil porque eu não tenho tanta certeza sobre o rumo que o estilo vai tomar. O gênero tem muitas ramificações hoje, o que é incrível, porque você pode decidir que tipo de Pop Punk serve pra você, mas você nunca sabe que caminho terá o potencial para sucesso no mainstream.

Pôster da turnê “Pop Punk’s Not Dead” de 2014 c/ New Found Glory e o próprio State Champs, entre outras bandas do gênero.

TMDQA!: Você sente que para poderem evoluir como banda vocês precisam quebrar com os estereótipos desse tipo de música e experimentar mais dentro de outros estilos (como Fall Out Boy, Paramore e Panic! At The Disco fizeram) ou sempre existe espaço pra crescer dentro do gênero?

Ryan Scott: Nós evoluímos porque queremos, não porque achamos que isso vai nos tornar uma banda gigante. Alguns fãs querem que continuemos a escrever o mesmo disco sempre, mas isso seria um tédio. Nós somos uma banda há 8 anos. Se não houve nenhum crescimento reconhecível nesse período para nós, estamos fazendo algo errado. Eu tenho orgulho de termos nos mantido fiéis as nossas raízes, mas temos crescido como compositores e músicos ao mesmo tempo e essa é a parte do State Champs que está em constante evolução.

TMDQA!: Nosso site se chama “Tenho Mais Discos Que Amigos”, então vou te perguntar isso: você tem mais discos que amigos? Fala pra gente quais são os seus discos favoritos de todos os tempos e os que você mais está ouvindo atualmente.

Ryan Scott: Eu absolutamente não tenho mais discos que amigos. Eu comprei o meu primeiro toca discos há uns 6 meses, mas tenho aproveitado bastante ele desde então! Dois dos meus discos favoritos são Come Now Sleep do Cities BurnOut Of The Vein do Third Eye Blind. Esses são dois discos que eu vou ouvir pra sempre e jamais perderão o seu brilho. Eu não possuo nenhum dos dois em vinil ainda. O disco que eu estava ouvindo alguns dias antes de sair em turnê na Warped Tour era o Revolver dos Beatles. Uma coleção de músicas clássicas e que soa absolutamente incrível em vinil.

State Champs no Brasil

Poster oficial da turnê brasileira do State Champs.

Com produção da Tree Productions, as três datas que o State Champs fará no Brasil em Novembro ainda tem ingressos de 1º lote disponíveis e podem ser adquiridos através do site da Pixel Ticket.

E enquanto Novembro não chega você pode aproveitar para decorar as letras e escolher as suas músicas favoritas do recém-lançado disco Living Proof no Spotify:

Quem ainda tiver curiosidade sobre como é um show ao vivo da banda também pode conferir uma apresentação completa do State Champs registrada pelo canal Melomanclub Live durante uma das datas da Warped Tour 2018:

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