Fotos por Philipi Lisboa, Leo Hladczuk e Tomás Faquini
O que antes estava bastante vazio em Brasília foi preenchido com música. E das boas.
A capital federal recebeu mais uma vez o PicniK Festival, um dos eventos mais queridinhos da cidade, que aconteceu no penúltimo final de semana de junho, como divulgamos aqui.
Os organizadores alcançaram uma zona de conforto em torno de todo o festival: a estrutura foi feita para se adequar ao redor da fonte luminosa da Torre de TV, com os espaços muito bem distribuídos, tanto dos palcos quanto dos estandes, seguindo com a padronização dos mesmos moldes da edição do ano passado.
O público também diminuiu em comparação às outras edições. Se antes alguns ambientes pareciam ser intransitáveis, dessa vez foi bastante diferente. Contudo, a programação musical que foi escalada para tocar no Palco Festival foi motivo para que trouxesse um número significativo para movimentar o Mercadinho de arte, moda e design, e a Praça de Alimentação.
A lona de circo montada ao final da praça das fontes foi cenário para trazer uma clima mais próximo entre os artistas e o público. Ao apostar em um line-up bem brasileiro, o festival buscou democraticamente intercalar os artistas locais e nacionais. Deu certo, porém as poucas horas de atraso deixaram muito a desejar, complicando a performance de algumas bandas e, consequentemente, reduzindo o tempo de show das mesmas.
O festival começou com as bandas brasilienses Augusta, ao estrear com o disco Tudo Que Podia, e Leo, trazendo boas energias em palco e dando uma boa amostra do que poderia esperar dali pra frente. Já os artistas Curumin e André Sampaio, com apoio das suas bandas espetaculares, e o grupo Garotas Suecas deram continuidade às apresentações e agradaram quem esteve presente no fim da tarde de sábado.
A mais aguardada do primeiro dia definitivamente foi Tulipa Ruiz, que, em turnê com seu mais recente disco Tu, trouxe um espetáculo mais cru e cativante, ao lado do irmão Gustavo Ruiz (violão) e Samuel Fraga (percussão). A plateia se deliciou com as músicas novas e as versões renovadas de seus grandes sucessos, como em “É”. A letra que antes era dita como “Pelo nosso amor em movimento”, foi adaptada para “Pelo nosso amor no movimento”.
O segundo dia deu início aos shows das bandas locais Palamar, trazendo uma sonoridade introspectiva e psicodélica, e Cachimbó, com seu “indie abrasileirado”, na voz da Lai Victória e sua presença de palco adorável. Foram grandes surpresas para provar o line-up de peso desta edição.
A banda Meu Amigo Tigre, também de Brasília, passou por problemas e voltou após o show do grupo gaúcho Supervão. Por conta do atraso da noite passada, os gaúchos foram remanejados na programação e fizeram valer a espera em uma apresentação dançante. A banda brasiliense também deu sequência ao pique dançante do público, mesmo que aos trancos e barrancos, por conta das falhas técnicas.
O fim de tarde do último dia ficou por conta dos curitibanos da Marrakesh, queridinhos do festival – e nosso também. Segunda vez em Brasília, em entrevista para o TMDQA!, a banda declara que o PicniK foi o primeiro evento fora da cidade natal, e o apreço recíproco foi manifestado em palco. Um show genuíno e ao mesmo tempo complexo, com arranjos rebuscados, embalando o público com as canções do ótimo Cold As Kitchen Floor, que entrou na nossa lista do mês de Abril.
A noite seguiu com os shows virtuosos dos mineiros da Young Lights e dos queridinhos de Brasília, Joe Silhueta, que não decepcionaram em suas apresentações e trouxeram à tona a razão de estarem em ascensão. Um dos maiores destaques da noite foi a cantora Gaivota Naves durante o show da banda brasiliense, que se mostrou mais cheia de energia do que nunca, com sua voz densa e movimentos excêntricos.
A artista Anelis Assumpção provou como o disco Taurina pode ser tão bom tanto ao vivo quanto em estúdio. Com o apoio de uma banda impecável e com o coro pronto da plateia, a cantora se jogou com maestria e deixou o público mais próxima de todo encanto que suas músicas trazem. As bandas Bike e Mescalines ainda aqueceram o palco na noite fria da cidade, preparando o público para o fim de um final de semana bastante intenso.
O mais interessante do line-up foi de fato uma escalação composta em sua maioria por mulheres ou bandas com frontwoman. Como no caso de Papisa e Rakta, que, respectivamente, fecharam os dois dias em forma de um ritual hipnotizante e trouxeram dois dos melhores shows de todo o festival.
Além das atrações aguardadas no “Palco Festival”, a catarse seguia na Pista de Dança, um ambiente eletrônico com DJs internacionais e coletivos da cidade, e outro palco próximo a entrada do evento, organizado pela equipe da Fantástica Fábrica de Bandas, que, em parceria com o PicniK, trouxe uma gama de bandas novas. Sejam elas de Brasília ou do Brasil afora, foi provada a conexão sólida de como a cena musical do nosso país se mantém firme. E muito bem, obrigado.
Qualquer pessoa que aparecesse na Torre de TV seria contaminada pela potência do evento, que enalteceu firmemente a diversidade de sons, público, artes e o empreendedorismo, de modo que possa ser modelo de economia criativa para outros festivais, ao ocupar a cidade com respeito ao próximo e boas ideias a serem praticadas.
E ainda foi divulgado esse poster incrível, feito pela Salomé Design, fazendo jus à beleza que o festival trouxe. Avante, PicniK!