Conversamos com a Dingo Bells sobre como Todo Mundo Vai Mudar

Leia nossa entrevista com a banda gaúcha Dingo Bells, que está lançando seu segundo disco de estúdio, "Todo Mundo Vai Mudar".

Dingo Bells
Foto: Rodrigo Marroni

A banda brasileira Dingo Bells está lançando o seu segundo disco de estúdio, Todo Mundo Vai Mudar.

Com um caldeirão de influências que vão do rock alternativo à música brasileira, o grupo gaúcho se destacou na cena nacional com o álbum de estreia Maravilhas da Vida Moderna em 2015 e agora mostra que sabe muito bem o que está fazendo com seu novo álbum.

Nós conversamos com Felipe Kautz, baixista da banda, e falamos sobre a nova fase, os desafios para uma banda fora do eixo Rio-São Paulo e muito mais.

Você pode ler logo abaixo.

TMDQA!: Após tornar-se um dos nomes mais interessantes do independente nacional, vocês estão encarando a temida tarefa de lançar o segundo disco. Como tem sido todo o processo de lançamento de “Todo Mundo Vai Mudar”? Quando foi que vocês sentiram a necessidade de traduzir em um registro as novas canções que vinham escrevendo durante o processo de divulgação da estreia?

Felipe Kautz: O Todo Mundo Vai Mudar foi lançado em abril desse ano e desde lá os shows têm sido cada vez mais intensos por parte do público. A recepção tem sido muito massa pelos lugares onde a gente tem circulado e dá pra sentir que conforme o tempo passa, mais as pessoas estão chegando até o disco e ganhando intimidade com ele, até porque, na minha opinião, é um álbum que permite mergulhos mais profundos que o Maravilhas em termos musicais. Acho que a necessidade de fazer outro álbum veio após dois anos de circulação intensa e de uma série de mudanças que os membros da banda passaram ao longo desse período. As músicas novas foram compostas durante uma imersão de dois meses em uma casa em um bairro isolado em Porto Alegre e com certeza levaram em consideração essas transformações pelas quais a banda e os membros passaram desde 2015, ano do nosso álbum de estreia.

TMDQA!: Para divulgar o álbum vocês têm feito diversas ações, incluindo a disponibilização de uma ferramenta onde os fãs poderiam remixar uma de suas canções. Como surgiram essas ideias todas e como vocês entendem que isso faz parte da experiência do ouvinte de música hoje em dia?

FK: Acho que as pessoas estão buscando cada vez mais maneiras diferentes de se relacionar com as coisas e a música não teria por que ser uma exceção. Esse mixer que lançamos mexe com uma espécie de “protagonismo do espectador” que é algo que eu acho super interessante, pois permite uma interação ativa do público com a nossa obra. É interessante dar vazão a essas ideias e ver como as pessoas reagem. Sinto que tudo isso aproxima o público da obra e também faz com que as pessoas entendam a profundidade e a quantidade de decisões que nós artistas temos que tomar na hora de tirarmos nossas ideias do papel. Acho que essa consciência por parte do público é importante tanto para a apreciação do som, quanto para uma visão mais profissionalizada da nossa área.

TMDQA!: O disco está saindo com incentivo da Natura, que tem um dos editais de cultura mais bacanas do país. Como isso ajudou a colocar o álbum no mundo?

FK: O Natura Musical foi fundamental para viabilizar esse disco, pois esse tipo de projeto envolve custos altos e mão-de-obra de profissionais de diferentes áreas que, sem esse aporte financeiro do edital, seriam muito difíceis de ser bancados por uma banda independente. Aliado a isso, a Natura nos deu total liberdade artística para fazermos o disco exatamente como queríamos. Então esse tipo de iniciativa é algo que considero extremamente positivo para a cultura do país.

TMDQA!: O título do álbum, “Todo Mundo Vai Mudar”, diz muito sobre o tempo em que vivemos e, imagino, deve dizer muito sobre a banda também. Como vocês mudaram do primeiro álbum pra cá e como entendem que o mundo vem mudando em tempos onde há excesso de informações e tantas desinformações? Vocês conseguem prever que tipo de mudanças no futuro próximo tendo em vista tudo que temos colocado à mesa para nós por aí?

FK: Todos nós passamos por diversas mudanças na vida desde o lançamento do primeiro disco, em 2015. Mudamos de casa, de relacionamentos, mudamos o nosso envolvimento com a banda e com a profissão, de maneira geral. Vivemos em uma época em que, de fato, estamos sendo soterrados por estímulos, informações e desinformações. Esses desencontros tornam tudo mais difícil de ser compreendido e muitas vezes nos levam à ansiedade e à falta de perspectiva. Como esse cenário externo anda cada vez mais desesperador nesse sentido, acho que muita gente tem buscado respostas internamente, seja através de reflexões ou de mudanças de comportamento que possam trazer transformações positivas.

TMDQA!: A Internet conectou o mundo todo e encurtou distâncias, mas no Brasil ainda vivemos uma realidade onde as bandas sofrem para tocar fora de suas cidades por conta dos deslocamentos, custos de passagens e mais. Sendo uma banda do Sul, como é para vocês o processo de levar a música aos quatro cantos do país? Vocês sentem que para a divulgação se tornar plena a banda deve ter base em São Paulo?

FK: É difícil e prazeroso, justamente por esses fatores que foram levantados. Estando afastados do eixo Rio-São Paulo, o acesso à cadeia que faz girar esse mercado é mais restrito, como festivais, casas de show, veículos de imprensa, produtoras de conteúdo web, enfim. Estar presente nesse meio é fundamental para se atingir um alcance maior e é complicado tentar inverter essa lógica de funcionamento estando longe. A nossa ideia é estar cada vez mais presente em São Paulo, justamente para conseguir levar o nosso projeto mais longe e para mais pessoas.

TMDQA!: Falando especificamente sobre o som, a mistura da Dingo Bells é das mais interessantes, com elementos que vão do rock alternativo ao pop/rock passando pelo Soul e diversas sonoridades brasileiras. O que vocês escutaram quando estavam compondo o novo disco e como trabalham para absorver influências e entender o papel de cada uma delas no resultado final?

FK: Muito obrigado! Então, esse lance das influências é bem maluco, pois na hora de compor e produzir, tu reúne tudo o que tu tem disponível em termos de ideias e influências. Não é como se nós tivéssemos renovado tudo o que nos influenciou do Maravilhas para cá. Mas tiveram fatores novos, sim. Radiohead, D’Angelo, Anderson Paak, Connan Mockasin, CHIC, King Crimson, são alguns dos artistas que nos inspiraram em termos de sonoridade e arranjo. Eu comparo o lance da influência a encontrar uma tonalidade de cor específica: é como se tu misturasse tintas já existentes de uma forma em que, no fim, levasse a um resultado único, uma tonalidade própria para ser chamada de sua (risos).

TMDQA!: Todo mundo vai mudar, e as pessoas que ouviam discos de vinil passaram para os CDs, os downloads e voltaram para os bolachões. Fazendo uma referência ao nome do site, quais discos são seus amigos e jamais poderiam estar longe de você?

FK: Vou fazer uma lista bem pessoal, então: What’s Going On do Marvin Gaye, Aja do Steely Dan, Pérola Negra do Luiz Melodia, Voodoo do D’Angelo e Pet Sounds do Beach Boys.

TMDQA!: Hoje, antes de mudar de opinião na próxima semana (todos nós mudamos, ainda bem), se você tivesse que escolher três músicas do novo disco para colocar em uma mixtape e entregar a alguém, quais seriam?

FK: “Todo Mundo Vai Mudar”, “Ser Incapaz de Ouvir” e “Aos Domingos (Quando Eu Resolver)”.