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Perdas, encontros, amores e uma ida ao céu com Jorja Smith

"Lost & Found" é o primeiro disco da talentosa cantora britânica Jorja Smith e um baita pontapé inicial. Leia nossa resenha sobre o álbum.

Jorja Smith - Lost & Found

Resenha por Lucas Lima Oliveira

Feche os olhos, desligue as luzes, apenas se perca na escuridão. O que faço aqui é apenas uma indicação para uma atenção maior a um fenômeno britânico singular, suave, mas que, ainda assim, causa abalos sísmicos dos mais fortes e intensos. Mas preste atenção na palavra “perder”. Não apenas perder, mas “se perder”. Está é a premissa de Jorja Smith, o dito fenômeno, no disco Lost and Found, álbum de estreia da cantora. Digo, claro, que esta não é uma afirmação negativa. Pois bem, apague as luzes e siga o caminho ditado por Jorja, com sua voz cristalina, que por vezes apresenta suavidade que beira o céu. Se Jorja está perdida, onde estou?

Ao unir o jazz, R&B e Hip Hop, Lost & Found é singular como um todo e tão suave em sua sonoridade que acaba tão rápido como um sorvete em uma tarde ensolarada. Ainda que o disco trate de canções que exponham sentimentos bem pessoais, a leve sonoridade é apenas uma camada fina, que passa por si só aos desatentos. Pois bem, quebre a camada e verá uma canção dolorosa, que alcança a alma e os sentimentos mais fortes em “Teenage Fantasy”, faixa que deixa em voga o amor imaturo.

Jorja Smith, de apenas 21 anos, não é para amadores. Se amar (e o amor é o “desencontro” principal deste trabalho) é se perder, ouvi-la é um dos encontros mais maravilhosos que todo ser humano deveria ter. O disco exibe temática jovem, fala, além de perdas e amores, sobre assuntos como insegurança e, enfim, a descoberta. Smith continua o seu caminho e o caminho se torna delicioso. “The One” vem com raízes africanas, batidas e um swing um pouco fora da curva do restante do registro, mas que casa com a singularidade do todo e conta com uma voz mais abafada da cantora. A “cozinha” chama atenção também em “On Your Own”, faixa que também conta com voz mais contida de Jorja, mas, somente até a explosão do refrão.

O grave é acentuado em “February 3rd” e aquele voo ao céu, suave e doce, acontece intermediado pela voz da musicista. Voz esta potencializada em “Goodbyes”, música apenas voz e violão em que é possível ouvir, no canto de Jorja, a dor e tristeza por alguém que se foi. Em “Blue Lights” e “Lifeboats”, a artista deixa em destaque o rap, sendo que, na primeira, a canção é mais trabalhada em um refrão pop, porém ainda com uma temática mais contestadora (nela, a cantora aborda a violência policial contra os negros enquanto em “Lifeboats” ela fala sobre a crise dos refugiados).

No fim de todas incertezas, amores imaturos e perdas, Jorja Smith, que, claro, olhou para dentro de si para compor um álbum tão pessoal, enfim se descobre e, principalmente, descobre um amor próprio. Talvez você pense que esta temática seja um tanto clichê ou adolescente demais, mas o fato é que a artista mostra, nas 12 canções, que é possível falar de um jeito sério e atento sobre sentimentos e angústias que todo ser humano está condicionado a passar e que, por vezes, estas angústias são sim passageiras, mas tão intensas a ponto de serem lembradas para vida toda ou serem eternizadas em obras de arte que soem tão leves quanto Lost & Found.

Apesar de Jorja Smith já ter músicas lançadas com o “Project 11”, EP lançado em 2016, e ter colaborações com Drake, Stormzy e Kali Uchis, Lost & Found é, definitivamente, o gatilho inicial para uma projeção maior da cantora ao mundo. O álbum de estreia da artista não tem pontos ruins, embora a temática amorosa seja predominante e isto pode vir a ser maçante para algumas pessoas. Singular, o disco segue um caminho sem percalços. Entre se perder e se encontrar, Jorja Smith traça rota para ser inclusa no catálogo das maiores cantoras internacionais. Por mim, Lost & Found já tem um lugar, que é na história da música mundial.