Dustin Kensrue nos contou sobre os 20 anos do Thrice e os seus discos favoritos

Músico sonha em entrar em turnê com bandas como Radiohead e The National e se mostrou um fã de clássicos absolutos do jazz.

Dustin Kensrue, do Thrice
Dustin Kensrue, do Thrice

O Thrice, um dos principais nomes do post-hardcore dos Estados Unidos, está chegando no Brasil para uma turnê inédita no continente sul americano, com 3 shows em capitais brasileiras no fim de Agosto.

A banda está atingindo a marca dos 20 anos de carreira em 2018 e a turnê sul americana será realizada às vésperas do lançamento do 10º disco de estúdio do quarteto, Palms, com data prevista o dia 14 de Setembro.

Antes da chegada da banda ao Brasil, o vocalista e guitarrista Dustin Kensrue tirou um tempo da sua agenda para conversar com o Tenho Mais Discos Que Amigos! sobre a longevidade da banda, pontos altos da discografia, novidades sobre Palms e quais são os seus discos favoritos de todos os tempos.

Confira a entrevista na íntegra abaixo:

TMDQA: Fazem 20 anos desde que vocês começaram a carreira como banda e só agora no fim de Agosto vocês vêm para a América do Sul pela primeira vez. Eu preciso perguntar: por que demoraram tanto?

Dustin: Nós não temos muita certeza. Nós sempre soubemos que as bandas que desciam até aí tinham uma experiência incrível. Nós sempre falamos para os nossos produtores e agentes que gostaríamos de ir até aí mas sempre havia algo que não funcionava no fim. Estamos muito felizes por finalmente conseguirmos ir.

TMDQA: Da perspectiva de vocês, o que esperam encontrar aqui durante a turnê? Os fãs brasileiros do Thrice podem esperar repertórios longos para os shows? Vocês têm uma discografia bem extensa ao fim das contas.

Dustin: Bom, as pessoas estão sempre dizendo “come to Brazil!” online, então eu assumo que iremos encontrar muitos fãs cheios de energia e empolgados. Além disso não sei o que podemos esperar. Nós adoramos conhecer lugares novos e estamos ansiosos por todas as experiências que o Brasil pode nos oferecer. Sobre a duração dos sets, eu acredito que vamos tocar por volta de 90 minutos em média.

TMDQA: Falando sobre a discografia do Thrice, vocês estão prestes a lançar o seu décimo disco de estúdio em 20 anos como banda. Não são muitos artistas que atingem esse nível de longevidade e que tem a criatividade necessária para lançar essa quantidade de material hoje em dia. Como vocês analisam a carreira até agora? O que ainda falta na lista de conquistas para o Thrice? 

Dustin: É muito estranho atingir a marca dos 20 anos. Nós nos lembramos de ouvir o Face to Face enquanto crescíamos e de depois finalmente sairmos em turnê com eles quando eles estavam comemorando o aniversário de 10 anos como banda e aquilo já parecia uma eternidade. O fato de que nós acabamos de dobrar isso agora é simplesmente uma loucura. Nós somos muito gratos por podermos continuar a tocar música como forma de viver. Estamos definitivamente muito orgulhosos do que conquistamos até agora. E sobre os objetivos para o futuro, nós nunca fomos uma banda que tinha metas específicas que tentamos atingir comercialmente falando. Nós sempre nos focamos intensamente em nossa arte e aí tentamos fazer o nosso melhor no lado comercial das coisas após a criação. Isso nos manteve empolgados pelas marcas que nós de fato atingimos e por cada oportunidade que aparece no nosso caminho.

TMDQA: “The Grey” é o primeiro single que vocês lançaram para o disco novo e ele soa pra mim como uma continuação da sonoridade que vocês apresentaram durante [o último álbum] To Be Everywhere Is To Be Nowhere, mas com uma levada mais “crua” na produção. Essa faixa dita o tom do que vamos ouvir ao longo do próximo disco ou ele é mais diverso, sonoramente falando?

Dustin: Eu acho que essa é uma descrição bem precisa dessa música. Nós gravamos todas as guitarras e o baixo por conta própria pra conseguirmos chegar nesse som mais cru, mas também chamamos o John Congleton para mixar o álbum para conseguirmos uma nova perspectiva nas coisas e estamos realmente empolgados com o resultado. O disco como um todo é um pouco mais variado e diverso musicalmente do que o TBEITBN, o que significa que “The Grey” é realmente só uma face da paleta sonora do disco que vem por aí, na minha opinião.

TMDQA: Esse single fala sobre se desapegar do que você não pode controlar e sobre aceitar que as coisas não são só pretas ou brancas, que o Maniqueísmo não é a regra e que você sempre encontra uma área cinzenta entre a luz e a escuridão. Faz sentido no nível pessoal, mas a letra também pode ser dirigida à aceitação do mundo como ele é? Falando em um nível político, social e etc.

Dustin: Eu diria que ela é mais sobre nos desapegarmos de algumas das certezas que nós temos, e tentar compreender os contextos complexos que nos cercam o tempo todo. Eu não estou dizendo que não existe certo ou errado, mas sim que qualquer coisa que esteja errada precisa ser compreendida levando em conta os contextos onde essa coisa está inserida, e que quando nós tentamos fazer pronunciamentos universais sobre o mundo real fora de contexto, nós podemos acabar fazendo muito mal.

TMDQA: Um tempo atrás você lançou um vídeo tutorial com explicações sobre como os fãs deveriam gravar as suas colaborações para um refrão de uma música do novo disco. Você queria que as vozes deles fizessem parte da canção. Agora esse vídeo tutorial está offline. O experimento funcionou? Achei que era uma ideia interessante.

Dustin: Sim. Nós tiramos o video do ar porque logisticamente só havia um número limitado de vozes que poderíamos incluir com o tempo que leva para mixar todas elas. Nós recebemos mais de mil contribuições e conseguimos incluir todas elas na música no fim. Está soando incrível. Você nunca conseguiria imaginar que elas foram gravadas de forma caseira em celulares ao redor do mundo.

TMDQA: Palms será o primeiro disco que vocês lançarão pela Epitaph Records. Muitos fãs reagiram à novidade dizendo que essa parceria com o selo do Brett [Gurewitz, Bad Religion] devia ter acontecido mais cedo até. Como isso muda o cenário para o Thrice? O que fez vocês optarem por deixar a Vagrant Records?  

Dustin: Nós basicamente estávamos no fim do nosso contrato com a Vagrant e pensamos seriamente em continuar por lá. Foi uma grande casa pra nós acima de tudo. Mas nós também queríamos ver quais outras opções estavam disponíveis por aí e realmente gostamos da visão e do time da Epitaph. Nós estamos muito empolgados por estarmos lá e parece ter sido uma escolha acertada pra gente.

TMDQA: Algumas pessoas me perguntaram “quais músicas do Thrice eu devo ouvir antes de ir pro show?” e acabei fazendo uma playlist ‘Thrice Top 20’ no meu Spotify pra elas. Se você tivesse que dar uma dica para fãs novos da banda, quais seriam os 3 discos essenciais do Thrice que você recomendaria e por quê?

Dustin: To Be Everywhere Is To Be NowhereEsse é provavelmente o nosso trabalho mais coeso, e ele traz muitos elementos de discos mais antigos, mas faz isso de forma muito melhor na minha opinião.

The Alchemy Index: Essa é uma coleção muito única de gravações nossas e dá uma perspectiva muito ampla do que fazemos como banda.

Beggars: Esse é um disco que soa muito diferente dos nossos outros e eu acho que tem algumas músicas incríveis nele.

TMDQA: Vocês fizeram alguns shows para comemorar o 10º aniversário do disco The Alchemy Index recentemente, e essa se tornou uma tendência nos anos recentes entre muitas bandas que decidiram comemorar os seus lançamentos mais importantes. Você acha que isso poderia acontecer também com discos como Beggars ou Major/Minor quando a hora chegar?

Dustin: Nós não fizemos uma turnê completa em torno desse disco. Nós tocamos uma música de cada volume [são 4, no total] para celebrar o aniversário. Nós nunca fizemos na verdade uma turnê ou show tocando um álbum completo. Não sei se um dia faremos. É possível que isso aconteça sim, mas não tenho certeza se irá rolar um dia de fato. Talvez uma comemoração de 20 anos faça mais sentido. Talvez quando The Artist In The Ambulance chegar nos 20?

TMDQA: Algumas das suas turnês mais recentes envolveram lineups muito bons que eu gostaria de ter testemunhado com os meus próprios olhos ao vivo. Vocês tocaram com bandas como Circa Survive, Rise Against, Deftones e Chon, só para nomear algumas. O quão envolvidos vocês são na hora de escolher esses artistas? E se pudesse escolher uma banda/artista de qualquer gênero, com quem gostaria de tocar junto pela primeira vez no futuro?

Dustin: Nós nos envolvemos na escolha das bandas com as quais entramos em turnê juntos, mas é um processo difícil escolher bandas que nós gostemos e que também estejam disponíveis na hora, que façam sentido para o lineup da turnê em relação ao estilo musical e em qual posição do lineup eles gostariam de ser encaixados e quanta liga eles dão ao show como um todo. É complexo mas às vezes funciona muito bem. Nós estamos levando o Bronx Teenage Wrist na turnê de outono [no hemisfério norte] e esse será um lineup incrível.

Se eu pudesse entrar em turnê com qualquer banda, seria com o Radiohead ou o The National, mas eu não acho que nós encaixaríamos tão bem nessa relação infelizmente. Nós provavelmente conseguiríamos montar um repertório que fizesse sentido mas eu duvido que eles nos levariam.

TMDQA: O nosso site se chama Tenho Mais Discos Que Amigos!, então fica a pergunta: você tem mais discos que amigos? Fala pra gente quais são os seus álbuns favoritos de todos os tempos e alguns que você tem ouvido mais recentemente.

Dustin: Ha! Eu provavelmente tenho mais discos que amigos porque sou muito introvertido. Alguns dos discos que eu mais gosto de deixar tocando em casa são:

The National: Alligator, Trouble Will Find Me, High Violet
Miles Davis: Kind of Blue
Dave Brubeck: Time Out
Bob Dylan: Highway 61 Revisited

TMDQA: Se você quiser, deixa uma mensagem para os fãs brasileiros de Thrice que lêem o nosso site. E obrigado por tirar um tempo para conversar com a gente. Nos vemos em Agosto!

Dustin: Hey pessoas com mais discos que amigos! Nós estamos muito empolgados em finalmente poder visitar o Brasil e esperamos ver todos vocês nos shows! Nos desculpem pela demora!

Dustin ainda enviou uma mensagem em vídeo para os fãs sul americanos do Thrice, deixando o lembrete para os paulistanos em específico de que a data de São Paulo está praticamente esgotada. Assista abaixo:

Lembrando que as apresentações do Thrice no Brasil acontecerão em três capitais, com produção da Solid Music Entertainment, conforme datas e locais abaixo:

  • 24 de Agosto – Rio de Janeiro, Teatro Odisseia
  • 25 de Agosto – São Paulo, Fabrique
  • 26 de Agosto – Curitiba, Hermes Bar

Os ingressos para os shows do Rio de Janeiro e Curitiba podem ser encontrados por aqui. Existem poucos ingressos físicos ainda disponíveis para o show de São Paulo na loja 255, na Galeria do Rock (Av. São João, 439 – República).