Música

Hole: um ranking do pior ao melhor álbum

Com uma discografia modesta em quantidade mas não em qualidade, o Hole marcou época e consolidou Courtney Love na música.

Fotos: Divulgação
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O Hole é uma banda que divide opiniões. Disso não há dúvidas.

Muito se deve à sua frontwoman polêmica e sem papas na língua, Courtney Love, e todo o mito que envolve sua presença no grupo. Seja na composição das letras — falaremos disso mais à frente –, em sua postura no palco, sua relação com os outros membros da banda e, na maioria das vezes, sua vida pessoal. Mas não dá pra negar que o quarteto marcou a história da música por vários motivos.

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A banda que misturou rock alternativo, punk, grunge e até um pouco de pop surgiu no longínquo ano de 1989, quando anúncios no jornal ainda eram efetivos e Love decidiu mandar o seguinte:

Eu quero começar uma banda. Minhas influências são o Big Black, Sonic Youth e Fleetwood Mac.

Quem respondeu foi o guitarrista Eric Erlandson, parceiro que ficaria ao seu lado no Hole até o fim do grupo — ou o primeiro fim, pelo menos. E o resto é história.

Durante seus 15 anos de estrada, a banda lançou apenas quatro discos de estúdio e uma infinidade de b-sides espalhadas por aí que alimentaram os fãs mais exigentes por anos. Em um mercado predominantemente dominado por homens, o grupo afirmou a força e a importância da mulher na música, lutando com unhas, dentes e muitos berros para se firmar em seu lugar de direito.

Percorremos a história e discografia conturbadas de uma das bandas mais importantes para o rock feminino nos anos 90 e em toda a história. Vamos lá?

4 – Nobody’s Daughter (2010)

Foto: Divulgação

Por mais esquisito que seja começar do fim, não dá para negar que o último disco do “Hole” é o mais fraco da discografia. Sim, Hole entre aspas, pois neste ponto a banda que o fã conheceu nem existia mais.

Depois de um fim silencioso em 2002, o grupo retornou com apenas Courtney Love para contar história. Ao lado dos músicos Micko Larkin, Shawn Dailey e Stu Fisher — além da ajuda de Billy Corgan e Linda Perry nas canções –, Love retomou o nome da banda para lançar Nobody’s Daughter em 2010.

Apesar de ter músicas memoráveis — como “Samantha” — e mostrar que Courtney ainda sabia fazer muito bem aquilo que a deixou famosa, o disco traz um esforço desesperado em reviver o que já passou. A faixa “Pacific Coast Highway”, por exemplo, é uma reedição de “Boys on the Radio”, lançada em 1998 — que por sua vez é uma reedição de “Sugar Coma”, lançada em 1995.

Vale a pena escutar se você for fã. Se não, deixe passar e aproveite o resto da lista.

3 – Celebrity Skin (1998)

Foto: Divulgação

Por muitos considerado o melhor álbum do Hole. Aqui não é o caso, mas que este foi o de maior sucesso, isso foi.

Depois de passar por cima de uma época conturbada após a morte de Kurt Cobain, marido de Love e líder do Nirvana, e Kristen Pfaff, baixista da banda, o grupo decidiu se reinventar. Deixando um pouco a vibe mais escura de lado e dando lugar a letras mais leves (por partes) e batidas mais animadas, a banda ouviu o mercado e se tornou mais tragável e agradável ao grande público — e isso se estendeu até ao visual.

Músicas como a faixa título e “Malibu”, hits que aparecem vez ou outra em rádios de rock até hoje, consolidaram o Hole como um grupo “quente” e merecedor de toda atenção que recebeu até ali. Por outro lado, canções como a melancólica “Northern Star” e “Petals” mostram que, mesmo renovada e mais pop, Courtney Love não esqueceu sua história e os traumas do passado.

Este foi o primeiro álbum a contar com a sempre incrível Melissa Auf der Maur nas gravações, apesar da baixista já estar na formação desde 1994.

Para ouvir agora mesmo!

2 – Pretty on the Inside (1991)

Foto: Divulgação

O disco mais pesado do Hole foi o responsável por colocar a banda no mercado para quem estivesse pronto para consumir, e poucos estavam.

Pretty on the Inside foi lançado em 1991, apenas dois anos após o início do grupo. O trabalho traz uma mistura crua e bagunçada do punk e um pouco de metal, com gritos ensandecidos de uma jovem Courtney Love que, em seu caminho torto rumo à fama, queria ser ouvida como mulher e artista a todo custo.

Nas letras, uma narrativa explícita de violência, de crescimento, do ser mulher em uma sociedade machista, e principalmente da raiva. Na incrível “Garbadge Man”, Love berra: “ela rasga ainda mais o buraco/Deixa toda a escuridão entrar dentro dela”. Autobiográfico, talvez.

O disco foi produzido por Kim Gordon, do Sonic Youth, e Don Fleming, do Gumball.

Para ouvir se quiser entender a essência caótica do Hole.

1 – Live Through This (1994)

Foto: Divulgação

Não que o que eu vou te contar agora seja o fator determinante para Live Through This ganhar o primeiro lugar, mas gostaria de compartilhar isso com você, leitor(a).

Eu conheci esse disco (e o Hole) aos 16 anos de idade, o ano em que tudo virou de ponta cabeça na minha vida e me fez crescer antes do tempo — por diversos fatores que você nem quer saber, acredite. Talvez eu tenha me identificado com a raiva, com o luto ou apenas com o som que saía dos meus speakers quando escutei este disco pela primeira vez, não sei. Mas uma coisa é certa: Live Through This mudou minha vida.

Nem de longe meus problemas se comparavam à maioria dos de Courtney Love — que havia se tornado mãe, sido separada de sua filha recém nascida, perdido um marido –, enquanto outros eu já conhecia bem. Ouvir uma mulher gritando, se fazendo ouvir e afirmando sua relevância e genialidade — quer os outros concordem ou não — a todo momento foi fundamental. E tenho absoluta certeza que pra várias outras meninas também.

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LTT é um grito feminista dos mais altos, embalado em uma sonoridade mais polida, mas ainda assim pesada. Agora sem o punk rasgado e com uma influência grande do grunge, o Hole tinha muito a falar e a provar.

Casada com Kurt Cobain desde 1992, Courtney teve de enfrentar acusações de que o marido foi o responsável pela composição do disco. Mas a verdade é que homem nenhum teria colocado tudo aquilo em palavras. Os destaques ficam com “Doll Parts”, que trata da insegurança com a aparência; “Plump” e “I Think That I Would Die”, que falam sobre a maternidade conturbada; e “Asking for It”, explicitamente falando de abuso sexual e consentimento. Coisas que, infelizmente, muitas de nós conhecemos.

Não precisa ser mulher, entretanto, para apreciar este álbum. Faça-o agora, inclusive, e me conta sua experiência depois — caso essa seja sua primeira vez.

Vale a pena ouvir também

Enquanto o Hole lançou apenas quatro discos de estúdio, compilações e EPs completam a discografia da banda com muito louvor.

  • EP The First Session (1997): o trabalho traz a primeira gravação da banda em um estúdio, datada de 17 de Março de 1990, com quatro músicas que não entraram no disco de estreia. Ouça aqui.
  • My Body the Hand Grenade (1997): a compilação conta com demos, faixas ao vivo, e raridades como “Beautiful Son” e “Old Age”, uma música originalmente do Nirvana. Não está mais disponível para audição online, mas com uma rápida busca pelo YouTube dá para ouvir.
  • MTV Unplugged (1995): o primeiro e único acústico da carreira do Hole, e um dos mais bonitos da categoria, também. Conta com covers do Nirvana e do Duran Duran. Assista aqui.
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