Já se passavam três anos desde a primeira (e única) vez que eu assisti um show do Silva.
Na última ocasião, em 2015, fui cobrir um pequeno evento em um restaurante no bairro de Pinheiros, São Paulo, onde ele dividiu o palco da marca da cerveja patrocinadora com o Thiago Pethit.
Silva ainda estava promovendo o seu disco Vista pro Mar (na minha opinião, o melhor da sua discografia até agora) e vivia as vésperas do lançamento do álbum Júpiter, um dos seus principais trabalhos e que ajudaria o músico capixaba a alavancar a sua carreira a um novo patamar com singles como “Feliz e Ponto” e “Eu Sempre Quis”.
De qualquer forma, Silva ainda não era um grande nome e começava a experimentar o reconhecimento pela qualidade das suas composições, que sabiam mesclar muito bem elementos marcantes da Música Popular Brasileira com um instrumental mais moderno, abusando das teclas e sintetizadores. Não sei se era por causa do formato de pocket show na época, mas a parceria com só mais um baterista no palco funcionava bem também. A fusão dava certo, e já imaginava que o Silva merecia públicos maiores.
Alguns anos (e uns covers de Marisa Monte) depois, pulamos para noite de 27 de Julho de 2018, sexta-feira passada em São Paulo, onde Silva fez um show de ingressos esgotados na capital paulistana (assim como foi também no primeiro show da turnê, no Rio de Janeiro) em uma das minhas casas de show favoritas, o Cine Joia.
O capixaba está atualmente promovendo o seu último lançamento, o bem recebido disco Brasileiro – lançado em maio desse ano – e começa a colher os frutos por ter evoluído o som que já se mostrava muito competente e conciliador desde o começo. Digo conciliador porque a plateia do Silva é muito diversa e a sua música consegue agradar e confortar a todos de uma só vez, guiados pela voz suave e feição sempre sorridente do cantor, bastante cativante e empático, e isso ficou bem evidente durante esse show.
O músico subiu no palco da festa Pardieiro (conhecida pelo seu repertório de MPB e regionalidades brasileiras) um pouco após à meia-noite, aos gritos apaixonados dos seus fãs, que receberam a faixa de abertura do novo disco, “Nada Será Mais Como Era Antes” cantando como se ela já fosse um velho clássico da música brasileira.
Silva parecia estar no conforto de um ensaio em casa com os seus músicos de apoio, Lucas Arruda (baixo, synth e piano) e Hugo Coutinho (bateria e programações). O último ganhou uma dedicatória bonita de Silva ao fim do show como agradecimento por serem parceiros de banda e palco desde quando o cantor tinha 17 anos.
Confortável também é o show produzido, frequentado e apresentado por pessoas que escolhem não ter uma barreira separando a pista dos músicos. Onde a troca de emoções que vem de cima do palco pra baixo (e vice-versa) é tão legal que o cantor é presenteado por um buquê de rosas entre as músicas: “nunca tinha ganhado rosas em um show antes”, agradeceu Silva aos fãs.
Os fãs agradeceram de volta pelas letras bonitas e pelas mensagens de amor pelo próximo cantadas ao longo das 10 faixas do disco Brasileiro que entraram pro repertório. Silva sentava atrás das suas teclas, se levantava para assumir o violão com cordas de nylon, ou se desprendia dos instrumentos para cantar solto só com o microfone passeando pelo palco com as suas aparentemente confortáveis sandálias.
Podia fazer isso porque também contava com um trio de metais muito seguro, com trompetistas e saxofonistas harmonizando com as suas melodias.
Silva não se desprendeu dos covers que o acompanham na sua carreira, e eles representam um ponto alto do set, pois são aquelas músicas que você sabe a letra do começo ao fim desde a infância. Canções como “Que Maravilha” (Jorge Ben Jor), “Menino do Rio” (Caetano Veloso), “Não Vá Embora” e “Beija Eu” (da Marisa Monte, como já era esperado), além de “O Show Tem Que Continuar” de Arlindo Cruz, abrindo perfeitamente o bis no fim do show.
Destaques da sua própria discografia vão pro novo single “Fica Tudo Bem”, cantado em parceria com a Anitta. A própria infelizmente não participou do show, deixando os seus versos também na mão do protagonista da noite, mas fica a sensação de que ela devia explorar mais esse tipo de sonoridade, que casa perfeitamente com a sua voz – mais confortável em melodias que não exigem um alcance tão alto.
Mas são tantas outras faixas inéditas de Brasileiro que também merecem destaque, como a belíssima “Guerra de Amor”, a delicadeza do interlúdio “Sapucaia”, “Let Me Say”, “Brasil, Brasil” e a melancólica bossa nova que traz Antônio Carlos Jobim na memória, em “Prova Dos Nove”. “Milhões de Vozes” sinceramente é a minha favorita, pois tem um arranjo tão delicado de violão, fazendo contraste à mensagem da letra sobre como nos comunicamos hoje em um mundo que criou ferramentas que geraram mais falantes que ouvintes. A fuga saudável de Silva ao seu refúgio na música e na natureza nos leva para um breve respiro de 3 minutos e meio de reflexão.
Foi certamente um show muito maior, completo e dinâmico que aquele que eu havia visto em 2015. Silva é um artista de mão cheia e uma das provas vivas de que a nossa música segue forte e bem representada.
Infelizmente ele optou por tocar somente uma faixa daquele que era o meu disco favorito, quando encerrou o show de forma grandiosa com “Janeiro”. Felizmente eu ganhei um disco favorito novo dentro da obra do capixaba, pois Brasileiro já é um dos melhores lançamentos do ano, uma prova de amor à música brasileira, ao Brasil e a todos que aqui vivem, que merece ser presenciada ao vivo, olho no olho.
Silva segue agora para Porto Alegre, onde faz essa semana duas sessões seguidas (uma delas já esgotada) no Teatro Unisinos, no dia 4 de Agosto. Mais informações sobre a turnê e ingressos podem ser encontradas no site oficial do cantor.
Repertório:
1 – Nada Será Mais Como Era Antes
2 – Let Me Say
3 – Caju
4 – Guerra de Amor
5 – Feliz e Ponto
6 – Que Maravilha (Jorge Ben Jor)
7 – Palavras no Corpo
8 – Ela Voa
9 – Palmeira
10 – Júpiter
11 – Sapucaia
12 – Menino do Rio (Caetano Veloso)
13 – Prova dos Nove
14 – Não Vá Embora (Marisa Monte)
15 – 12 de Maio
16 – Duas da Tarde
17 – Brasil, Brasil
18 – Fica Tudo Bem
bis:
19 – O Show Tem Que Continuar (Arlindo Cruz)
20 – Beija Eu (Marisa Monte)
21 – A Cor é Rosa
22 – Janeiro