Em evolução constante, menores atos fala sobre passado, presente e futuro

Conversamos com Cyro Sampaio, vocalista e guitarrista da banda brasileira menores atos, que fará show de lançamento do disco "Lapso" em São Paulo.

menores atos (Foto por Fernando Valle)
Foto por Fernando Valle

Em 2014 a banda carioca menores atos lançou Animalia, um disco urgente, pessoal, revelador e que foi responsável por colocar o nome da banda no mapa de uma forma bastante positiva.

De lá pra cá os fãs da banda não cansaram de pedir por novas canções e elas finalmente chegaram com Lapso, segundo disco que, se de um lado não mostra a mesma abordagem “na cara” de seu antecessor, lida com temas similares e se aprofunda na arte de deixar os sentimentos à mostra e dialogar com o ouvinte.

Nós conversamos com Cyro Sampaio, guitarrista e vocalista da banda, sobre o passado, o presente e o futuro, já que a banda está se mudando para São Paulo, onde inclusive fará um show de lançamento de Lapso nesse final de semana.

Divirta-se!

 

TMDQA!: Foram quatro anos desde o bem sucedido e elogiado Animalia até Lapso, seu novo álbum. Durante esse tempo, muitas coisas aconteceram com a banda, houve mudança de formação, e as expectativas criadas em cima do álbum eram enormes. Como vocês entendem que esse tempo todo foi resumido em Lapso e como acham que esse longo período influenciou na criação do novo álbum?

Cyro: Foram quatro anos que passaram muito rápido pra nós. Quando o Celso entrou na banda no lugar do Felipe, em 2015, a gente estava começando uma sequência forte de shows e não teve um momento de marasmo desde então. A partir do meio do ano passado que conseguimos diminuir o ritmo e focar nas composições. De certa forma, até o nome Lapso tem a ver com essa relação com o tempo, que acaba passando muito rápido e a gente mal vê.

 

TMDQA!: Há dois tipos diferentes de urgência nos dois discos da banda. Enquanto Animalia reflete isso de forma bem clara, com músicas rápidas, vocais berrados e tudo bem na cara, em Lapso a velocidade é diferente e a abordagem parece ter mais a ver com a urgência em lidar com situações difíceis por conta própria. Como vocês entendem que essa nova “abordagem” transpareceu no álbum? Foi uma decisão deliberada de, por exemplo, gravar menos vocais gritados?

Cyro: Acho que você captou muito bem essas diferenças, a gente também sente dessa forma. Mudamos bastante dentro desse período, natural que isso fosse refletido nas novas músicas. No Animalia tudo era meio que um grito mesmo. Em Lapso eu vejo a mesma intensidade nos sentimentos, mas tudo foi construído de uma forma diferente e as motivações também são outras. Também é marcante o fato de não ter rolado a voz do Bola nessas músicas e a ausência do próprio Felipe, que também cantava em várias faixas, como “Sereno”. Mas não foi exatamente algo pensado, é o retrato do que somos hoje.

 

TMDQA!: Vocês têm tocado em diversos festivais para divulgar o disco e agora estão se mudando do RJ pra SP, o que sempre significa que a agenda da banda deve aumentar consideravelmente. Como estão montando a agenda para os próximos meses e como vocês têm montado o show para que o formato de power trio traduza toda a energia que aparece em seus discos?

Cyro: Pois é, estamos migrando pra São Paulo, o que também é um caminho quase natural pra quem quer buscar uma profissionalização na música. Estamos marcando várias datas, em diversas cidades e afinando o novo show, de acordo com os eventos, claro. Quanto à energia dos shows, acho que a gente conta com um reforço muito importante que é o público. Mais do que o que a gente faz em cima do palco, acho que o fundamental tem sido a forma com que as pessoas se identificam com as letras e acabam cantando tão forte que preenchem qualquer espaço vazio.

 

TMDQA!: Que álbuns e artistas vocês têm ouvido ultimamente que definitivamente tiveram um impacto em “Lapso”?

Cyro: Tem uma série de bandas que a gente ouve sistematicamente, há muito tempo, principalmente quando estamos juntos. Radiohead, Thrice, Warpaint, Soundgarden, Nirvana, Refused, Oceansize, Pearl Jam, Fiona Apple, Beatles, STP, Tool…enfim, são muitas referências. Ultimamente, as bandas da Run For Cover também ganharam um espaço grande; a gente gosta muito de Citizen e Basement, por exemplo. Mas acho que, principalmente na parte lírica, as referências já vão pro território nacional e aí tem Los Hermanos, Moska, Beto Guedes, Paulinho da Viola… uma confusão que só!

 

TMDQA!: A música brasileira vive um momento incrível e as bandas de rock têm colaborado umas com as outras como há muito tempo não presenciávamos. Desde invasões no palco até colaborações e indicações dos trabalhos uns dos outros, é sempre possível ver que todos estão realmente com o sentimento de crescimento coletivo. Como vocês enxergam isso? Entendem que é uma resposta à mentalidade de bandas consagradas que sempre tiveram o afastamento como “norma”?

Cyro: Acho que, dado o momento atual, fica nítido que esse comportamento mais isolado não é nada eficiente. Mas, acima disso, eu enxergo muita sinceridade nesses laços que vem se formando entre as bandas, artistas, selos, produtores. Muito mais do que uma estratégia de comportamento, eu vejo amizades que se formam baseadas no que temos em comum, que é o amor a música e esse sentimento de inconformabilidade que acaba nos unindo ainda mais.

 

TMDQA!: O show de SP é muito bacana porque além de marcar a estreia do disco também marca a estreia de uma nova casa de shows onde funcionava o lendário Hangar 110, nosso CBGB brasileiro. O que vocês estão esperando da apresentação?

Cyro: A nossa relação com o Hangar 110 sempre foi maravilhosa. Fizemos alguns shows incríveis por lá, alguns completamente lotados, todos com uma energia absurda. A gente ainda não sabe muito o que vai ser da casa nova, que nesse momento atende por “The House”, mas estamos muito otimistas que vai ser uma noite incrível. Os ingressos estão voando, teremos a abertura do E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, que é uma das bandas que a gente mais admira atualmente (e nossos grandes amigos!) e preparamos um repertório bem especial, pra deixar todo mundo bem satisfeito.

TMDQA!: Ainda é cedo para pensar no futuro com um disco tão recente na bagagem, mas vocês já decidiram, pelo menos, que não levarão 4 anos para o próximo álbum? (risos)

Cyro: (Risos) Olha, quanto tempo vai demorar pra um novo álbum eu não sei (espero que demore menos do que 4 anos), mas a gente garante que, pelo menos, novas músicas vão brotar constantemente. A gente tem uma ligação forte com o disco cheio, com esse trabalho mais completo, que conta uma história, carrega vários significados… mas hoje a realidade é muito mais dinâmica e o que a gente percebe é que a tendência é cada vez mais o foco em singles, EP’s, colaborações. Enfim, a gente promete continuar produzindo de forma mais acelerada, isso sim!

 

TMDQA!: Vocês têm mais discos que amigos?

Cyro: A gente tem muitos amigos, felizmente. Aliás, é muito bom sentir essa ligação de amizade com tantas pessoas, principalmente dentro desse meio musical que às vezes alimenta tanto ego e competição. Somos muito gratos pelos amigos que temos! Mas, ainda mais em tempos de streaming, os discos são infinitos né! Então dá pra dizer que temos mais discos na biblioteca do que amigos sim (Risos).

 

Serviço – menores atos em São Paulo

Data: 04/08/2018
Banda de abertura: E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante
Local: The House – Rua Rodolfo Miranda, 110
Abertura da casa: 19 horas

Ingressos: Clube do Ingresso