Depois de compor sobre Rock N’ Roll (2009), Sexo (2011) e gentileza com Gigante Gentil (2014), falar sobre amor parecia o caminho natural para Erasmo Carlos. E esse momento chegou na forma do disco Amor é Isso, que acaba de aparecer nos serviços de streaming e deverá estar nas lojas físicas ainda este mês.
Esqueçam a “fama de mau”. Em seu 31º álbum, prestes a completar 77 anos de idade e 53 de carreira, o Tremendão fez parcerias com Marcelo Camelo, Samuel Rosa, Teago Oliveira e Emicida, entre outros, para falar sobre as várias formas de amar. A produção ficou por conta de Marcus Preto e Pupillo (Nação Zumbi).
Nós entrevistamos esse medalhão da música brasileira antes do show oficial de lançamento do disco, que será neste sábado (11/8), no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e dará o pontapé inicial pra uma turnê pelo país. A abertura será do músico Daniel Groove (mais informações no final da matéria).
Erasmo nos contou que as letras partiram de poemas que ele tem escrito para a esposa, mas sobre todas as formas de amor, não apenas o romântico. Ele também falou sobre a relevância de seu trabalho em tempos de internet, o patrimônio musical de artistas de gerações passadas e seu futuro nos palcos. Confira abaixo.
TMDQA! entrevista Erasmo Carlos
TMDQA!: Erasmo, obrigado por atender a gente e parabéns pelo disco novo. Você tem produzido muito na última década. Fez um disco sobre rock, um sobre sexo… falar de amor era o caminho natural? E de onde saiu tanto amor?
Erasmo: Ele vinha se juntando. Isso tudo foi resultado de um processo de 111 poesias que eu escrevi durante sete anos pra minha mulher. Todo domingo eu mandava uma poesia pra ela. Esses textos vão virar um livro que eu vou lançar ano que vem. Aí, baseado nessas poesias, e querendo homenagear o amor como conceito, aquele amor maior, que cabe todos os amores dentro, eu pedi aos amigos pra musicarem as poesias. Então foi Adriana Calcanhoto, Marisa Monte, Samuel Rosa… essa galera foi musicando as poesias e o disco foi nascendo.
TMDQA!: Pois é, dentre essas parcerias tem gente com quem você trabalha há muitos anos, como os que você citou, mas também tem gente nova, como Teago Oliveira (da banda Maglore) e Emicida. Comparado às décadas anteriores, do início da sua carreira, você acha que a música brasileira está mais integrada, ou sempre foi assim?
Erasmo: Eu tenho visto muita parceria por aí, inclusive coisas inusitadas. É sempre bom entrar no universo de outro artista, porque assim você enriquece o seu trabalho e o dele também com a sua contribuição. Acho importante sempre trocar ideias musicais com outros artistas, principalmente de outras gerações, porque você fica bem atualizado com as coisas. Você ensina primeiro pra aprender depois.
TMDQA!: Justamente sobre ensinar: você é um dos titãs da nossa música, um dos caras mais lembrados quando queremos entender cultura brasileira, e ainda assim você não para. Teve disco em 2009, 2011, 2014 e esse de agora. Como você se enxerga no cenário atual? Onde você se coloca em 2018 para a música brasileira?
Erasmo: Cara, eu não me coloco. Porque eu não me vejo. Eu só vejo os outros, tenho noção sempre do que os outros são, não do que eu sou. Imagino que eu esteja num patamar legal pela reciprocidade que eu vejo no meu trabalho, pelo público que frequenta meus shows, pelas palmas que eu recebo… eu meço mais ou menos. Mas verdadeiramente eu não tenho noção.
TMDQA!: E tem ideia de até onde vai sua carreira? Tem planos de parar?
Erasmo: Não, bate na madeira (risos)! Nada disso. Enquanto minha mente estiver funcionando… nem é o corpo físico, porque não dependo totalmente dele. Dependo da minha mente, e enquanto ela estiver funcionando eu vou estar compondo, que é o que eu gosto de fazer. Um dia, sei lá, eu posso até não fazer mais show, mas vou compor sempre.
TMDQA!: Sobre o show desse sábado no Circo Voador, como você monta o repertório? Tem que ter os clássicos antigos, né?
Erasmo: Sim. É sempre um drama pra mim e pra todos os artistas, porque queremos cantar as músicas novas. Tem o público que gosta das músicas novas, mas tem um público, principalmente nas cidades do interior, que você vai com menos frequência, que eles querem ouvir os sucessos. E eu parto sempre desse princípio. Quando vem um artista estrangeiro que eu gosto, eu quero ouvir as músicas que eu gosto dele, sabe? Então eu me ponho nesse lugar. Mas é sempre um drama. A gente não pode abusar com excesso de músicas novas. Umas cinco ou seis é sempre uma média razoável.
TMDQA!: E como você monta sua banda? Em Amor é Isso há várias partes com instrumentos de sopro. Você precisou adicionar músicos pra tocar ao vivo?
Erasmo: Esse disco eu não gravei com a minha banda, foi com a banda que o Pupillo armou pra mim. A produção é dele e do Marcos Preto. Eles criaram uma banda pra mim inclusive com pessoas com quem eu nunca tinha tocado antes, como o Guilherme (Monteiro), o guitarrista. Mas agora nos shows, na estrada, é a minha banda mesmo, titular.
TMDQA!: Um dos parceiros mais jovens com quem você trabalhou nesse disco foi o Emicida, que fez a música “Termos e Condições”, que fala sobre os relacionamentos na era digital. Como você encara o consumo de música em tempos de tecnologia? Você usa serviços de streaming? E a questão da rentabilidade e da venda do seu trabalho, você pensa nisso quando faz um álbum?
Erasmo: Não… eu estou tão perdido quanto todos os artistas do mundo. Ninguém sabe o que virá. Só sabe que tem que fazer. Venha o que vier, você tem que fazer. Então eu tô fazendo minha parte, que é seguir minha vida, produzindo e me informando. E vendo no que vai dar, porque o resultado mesmo ninguém sabe. Se o streaming vai funcionar ou não, se é legal ou se pode ficar melhor… tudo isso é o tempo que vai dizer. Os responsáveis por fazer música, com o tempo, vão se adaptando e se reformulando no que for preciso pra ver se volta um pouco do que era. Era uma maravilha, de repente ficou uma merda.
TMDQA!: O que exatamente ficou uma merda? Você não acha que o trabalho que você faz hoje terá, no futuro, a mesma relevância dos trabalhos antigos?
Erasmo: Eu não sei. Não sei se meus clássicos musicais, por exemplo, se eles vão se repetir. Hoje em dia é outro papo, e não sei se esse papo vai me render alguma coisa no futuro como os clássicos me rendiam antes, entende? Inclusive na parte financeira. Eu tinha um tesouro musical, hoje em dia não tenho mais. Eu tenho músicas que são consumidas, mas não sei o caminho que elas fazem. Não sei o futuro delas.
TMDQA!: Então, na sua opinião, ficou mais complicado também no quesito da administração da carreira de um músico?
Erasmo: A internet mudou tudo, assim como mudou o jornal físico. Hoje em dia não se vende mais discos, e sim músicas. Então ninguém sabe se vai acabar sendo mais ou menos rentável do que era antigamente. Tem que esperar o tempo passar pra ver. Mas tem que esperar produzindo, como sempre.
TMDQA!: Tá certo, Erasmo. Foi um prazer. Obrigado e boa sorte no show!
Erasmo: O prazer foi meu, obrigado!
Serviço
Erasmo no Circo Voador: sábado, 11 de agosto de 2018
Abertura da casa: 22h
Ingressos:
– 1º lote : R$ 50 (meia-entrada para estudantes, menores de 21 anos e maiores de 60 anos, ingresso solidário válido com 1 kg de alimento ou cliente Clube O Globo*) / R$ 100 (inteira)
– 2º lote: R$ 60 (meia-entrada para estudantes, menores de 21 anos e maiores de 60 anos, ingresso solidário válido com 1 kg de alimento ou cliente Clube O Globo*) / R$ 120 (inteira) *desconto válido apenas para ingressos comprados na bilheteria do Circo. É necessário apresentar a carteirinha do Clube O Globo no ato da compra.
Classificação: 18 anos
Bilheterias: terça a quinta: das 12h às 19h; sexta: das 12h às 24h (exceto feriados) e sábado a partir das 14h. Venda online neste link.