Por Renan Bernardi
“Muito obrigado, pessoal! Foi um prazer! Até a próxima!”
E então, os artistas se retiram do palco. Mas se esse não for o primeiro show da sua vida, você sabe que o cronograma não acaba por aí. Nos bastidores, os músicos já estão esperando o seu público, lá, em frente ao palco, gritar o famoso bis.
“Mais um! Mais um! Bis! Faltou aquela!” O coro é ouvido e aclamado, e como se não estivesse nos planos da banda, ela retorna ao palco para o delírio da galera! E toca mais uma, duas e as vezes várias outras canções antes de oficialmente encerrar a sua apresentação.
Bob Marley & The Wailers, por exemplo, dividia o seu show em duas partes. Depois da primeira metade, a banda se retirava do palco e, após pedidos, voltaram para um bis que significava meio show! Sendo assim, a vontade do público em ouvir mais do artista já é cultural em apresentações ao redor do mundo. Mas as origens desse hábito têm significados um pouco diferentes do que a gente conhece hoje, e por vezes já foi até tratado de modo negativo.
Muito antes da música popular atual, lá no século XVIII, o encore, palavra francesa com uma variedade de significados (ainda, mais longa, mais uma vez), já era utilizado em apresentações de ópera. Com esse pedido, o público não esperava mais canções do artista, e sim a repetição do último tema tocado. Outro termo usado na época tanto por franceses como alemães, o bis, ficou conhecido com o significado de “duas vezes”, e acabou sendo consolidado como o modo mais popular.
Ou seja, o pedido de bis (ou encore) era uma afirmação da aprovação do público sobre a última canção tocada, e então, a orquestra reproduzia ela novamente.
Com o passar dos anos e a popularização da prática, alguns regentes começaram a negligenciar esses pedidos de bis, pois defendiam que a exaustiva repetição de mais de um tema da mesma orquestra atrapalhava o desenvolvimento da apresentação como um todo, deixando-a muito mais longa e cansativa. Essa ideia de negligência dos encoros foi levada tão a sério que chegou a ser literalmente proibida no norte da Itália em meados do século XIX.
Apesar desse entrave, os pedidos de bis sempre serviram como um elogio ao artista e a sua apresentação, e com o passar dos anos a prática teve continuidade, mas com outro significado. Para facilitar o desenvolvimento do show, os artistas começaram a preparar músicas diferentes das já apresentadas, justamente para serem tocadas no bis, e hoje é muito comum que essas sejam as canções mais populares da banda ou artista, deixando o povo instigado em pedir mais quando é anunciado o final sem ter tocado aquele hit.
Mas apesar de criar esse clima de aceitação entre público e artista, alguns grandes nomes não são adeptos do bis em seus shows. Elvis Presley, por exemplo, não costumava voltar ao palco após anunciar o fim de sua apresentação, e até mesmo hoje em dia, grandes bandas como o Foo Fighters preferem fazer shows longos sem ficar indo e voltando do backstage para tocar os já esperados hits no final.
Por outro lado, também é comum ver bandas irem e voltarem dos bastidores até mais de uma vez, fazendo bis atrás de bis para ver o quanto o público ainda quer de sua apresentação. Sendo essa prática rejeitada ou não, sempre haverá aquele pedido de “mais um!” se a banda agradar o público, e se você, for uma das pessoas que quer ver mais desse artista, fica a dica: não vá embora quando o fim do show for anunciado pela primeira vez, é provável que venha mais por aí!