Aos 76 anos, Paul McCartney é um daqueles artistas que poderiam estar vivendo de suas glórias do passado, de turnês intermináveis de grandes obras ou até só pelos royalties de seu trabalho como compositor. Mas desde o fim dos Beatles, ele aponta como um criador imparável, que busca estar antenado com seu tempo, como se esse fosse seu jeito de não envelhecer. O novo capítulo dessa busca é uma viagem através do mundo no álbum Egypt Station, lançado na última sexta.
Nos últimos anos, Paul se aventurou em novas praias, sonoridades e parcerias. Isso pode ser notado na reinvenção causada parceria com o produtor Nigel Godrich (Radiohead, Beck e Travis) no álbum Chaos and Creation in the Backyard (2005) e nas parcerias com nomes como Danger Mouse e Mark Ronson na criação do maravilhoso New (2013). Ou na busca por uma nova forma de criar no corajoso, porém mediano Kisses on the Bottom (2012) e nas recentes parcerias com Kanye West.
Criado em sessões com Greg Kurstin (conhecido por seu trabalho com Adele, Sia e Lily Allen), o álbum parece ter sido feito de um modo despretensioso, quase que por diversão. E Egypt Station brilha quando soa mais estranho. A dobradinha de “Caesar Rock” e “Despite Repeated Warnings”, quase ao fim, é um momento que poderia estar nos álbuns do Wings, nos anos 70.
“Come on to me” e “Who Cares” são grandes faixas roqueiras, prontas para o show ao vivo e casam muito com a criação recente de faixas como “Fine Line” e “Queeny Eye”. “Happy to You” é uma balada deliciosa e combina com “Hand In Hand”, momento mais delicado do disco e melhor faixa do álbum. A divertida “Fuh You”, única produzida por outro nome (Ryan Tedder, do OneRepublic), mostra que Paul poderia muito bem estar fazendo hits pop radiofônicos. Já a muito comentada “Back in Brazil” traz uma visão idealizada e um tanto estereotipada daqui e creio que, apesar do visível carinho do Paul pelo país, vai parecer muito mais interessante para os gringos.
Egypt Station soa como se Paul tivesse passado por esses diferentes lugares criativos nos últimos trabalhos, por diferentes estados de espírito e estivesse de “volta ao controle”, mostrando o mundo por seus olhos. Como ele mesmo disse em vários momentos da divulgação do álbum, cada canção é uma das estações que ele visitou, um mundinho à parte.
Talvez por isso, o novo álbum soe quase como uma compilação, como faixas separadas. Algumas parecem material de sobra do New; outras só uma volta ao lar, ao Paul clássico. Mas não vejo demérito nisso, Paul McCartney está tanto em outro nível que até sem se esforçar. Sem ir longe da sua zona de conforto, ainda assim é genial.