Roadie do Motörhead fala sobre os últimos dias de Lemmy Kilmister: “ele desligou”

Entrevistamos o roadie brasileiro que trabalhou com Lemmy Kilmister por 15 anos e acabou até discursando no funeral do cantor.

Ian Fraser Kilmister, mais conhecido como Lemmy, foi uma das maiores figuras da história do rock. Além de ter sido líder da banda inglesa Motörhead, importantíssima para o heavy metal, o cantor, compositor e baixista era celebrado por seu estilo “malvado”, sempre vestido de preto e propagando uma vida de rockstar, rodeado de mulheres e drogas.

Apesar disso, Lemmy se entregava de corpo e alma no palco, fazendo questão de entregar ao público o melhor de seu instrumento distorcido e voz rouca, com o característico microfone inclinado pra baixo. Nos bastidores, quem convivia com o músico ressaltava seu caráter e simpatia, mas sem deixar de lado a personalidade forte.

E foi assim até os últimos dias de vida, como contou em entrevista ao nosso podcast o brasileiro Rogério Souza, roadie que trabalhou com o Motörhead por 15 anos, do início dos anos 2000 até o final, em 2015.

A notícia do câncer

Lemmy faleceu aos 70 anos, mas os últimos 10 de sua vida foram repletos de problemas de saúde como diabetes, hipertensão e até a necessidade de usar um desfibrilador implantável. Rogerinho lembrou algumas mudanças de hábito que o cantor adotou com o avanço da idade:

Ele sempre foi uma pessoa que bebeu, fumou, não dormia e não comia direito. Tentou tomar Jack Daniel’s com Coca-Cola Zero por uma semana, depois voltou pra Coca normal. Mas principalmente no último ano ele estava bem debilitado, perdeu muito peso, de vez em quando usava uma bengala, trocava o par de botas por um par de tênis.

Mas foi em dezembro de 2015 que a situação mudou rapidamente:

O último show foi no dia 11 [de dezembro de 2015]. Dia 13 fizeram uma grande festa de aniversário pra ele. Duas semanas depois, ele fez um exame em que acharam dois nódulos de câncer no cérebro e um no pescoço. No dia 26, o médico pediu à família e ao empresário que fizessem uma reunião, então ele explicou que era câncer terminal, que ele poderia viver entre 2 e 6 meses ou acontecer um milagre médico e ele voltar a fazer turnê, porque a gente já tinha marcado pra janeiro do ano seguinte, na Europa. Mas o Lemmy foi o primeiro a decidir que queria falar a verdade, fazer um comunicado à imprensa que a turnê não iria acontecer e que ele iria fazer os tratamentos todos. Mas, no dia 28, eu acho que ele simplesmente desligou. Ele deve ter chegado à conclusão que não voltaria mais pros palcos. E foi ótimo, porque ninguém teve que vê-lo numa cama hospitalar nem numa cadeira de rodas. Quanto ao público, parece que todo mundo percebeu e aceitou que perderia mais um ídolo.

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Discurso no funeral

No dia 9 de janeiro de 2016, Hollywood recebeu o funeral de Lemmy, que acabou sendo uma verdadeira celebração ao baixista, com transmissão mundial e presença dos maiores rockstars do mundo. E, sem querer, o roadie Rogério Souza foi uma das atrações daquela noite:

A banda decidiu levar toda a crew, umas 10 pessoas. Quando eu cheguei no hotel, o Tim, roadie do Lemmy, falou: ‘você sabe que temos um discurso amanhã, né? Você vai ter que me ajudar, senão eu vou travar. O Lemmy gostava muito de você e iria ficar orgulhoso’. A cerimônia teve streaming pra 200 mil pessoas no mundo, vários músicos estavam lá, nomes como Dave Grohl, Slash e Lars Ulrich fizeram discurso. Logo na entrada tinha um Lemmy de papelão em tamanho real, Jack Daniel’s à vontade pra todo mundo. No fim das contas, o Tim disse que não ia conseguir, então eu fui sozinho. Eu travei uma vez ou duas, mas consegui. Falei por uns 5 minutos, eu acho. O tempo ficou muito relativo.

Para ouvir essas e outras histórias diretamente da boca de Rogerinho, escute a íntegra do episódio #31 do Podcast TMDQA!. Basta clicar no player abaixo ou seguir a gente no Spotify, iTunes, Google Podcasts ou o seu agregador preferido.