Palco Ultra dá uma aula na arte de ocupar a cidade com música

Leia nossa resenha do festival Palco Ultra 2018, que teve Francisco el Hombre, Maglore, Djonga, Giovani Cidreira, Luan Nobat e mais.

Djonga no Festival Palco Ultra 2018 (Foto por Aline Krupkoski)
Foto por Aline Krupkoski

22 de Setembro de 2018 é uma data que já ficou marcada na história cultural de Belo Horizonte.

Foi nesse dia, que na Praça da Assembleia, um lugar simbólico para o Estado de Minas Gerais, aconteceu o festival gratuito Palco Ultra, que nos convidou para cobrir o evento no último final de semana.

Estamos a poucos dias de uma das eleições mais importantes (e confusas) da história do país, e muito se discute a respeito de cultura, da falta de cuidado com ela, da importância da arte para a sociedade e como ocupar as cidades com ela é fundamental para que a gente construa pessoas melhores no futuro.

Em tempos onde a polarização impera e tem muita gente achando que oferecer arte gratuita nas ruas é bobeira, foi incrível ver de perto uma ação como essa, levando tanta gente para shows tão marcantes como falaremos na sequência.

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Palco Ultra

Francisco El Hombre no Palco Ultra 2018
Foto por Aline Krupkoski

A edição de 2018 do Palco Ultra começo cedo, perto do meio dia, com a DJ Aída, que abriu os trabalhos e foi seguida pelo som introspectivo de Sara Não Tem Nome, artista que brincou com o Sol impiedoso que esquentava a praça dizendo que não estava preparada pra isso, já que “é gótica”.

O Sol, inclusive, foi um dos destaques do evento até o final da tarde, já que além de proporcionar um dia belíssimo, também se provou um teste para quem estava ali e aqueceu os ânimos da galera, como o de Marcelo Veronez.

O performático músico fez uma apresentação daquelas para não parar de pular um minuto sequer, e lembrou bastante o Carnaval, inclusive indo para a plateia para cantar com todo mundo e pintar a multidão de purpurina. Seu carisma com certeza atraiu novos seguidores e o contraponto veio com a banda Moons.

Ao contrário da festa, a sonoridade do grupo é ligada ao folk e à música tradicional de Minas Gerais, e as suas belíssimas canções fizeram com que o público do Palco Ultra procurasse uma sombra para relaxar enquanto prestava atenção no que acontecia no palco.

Giovani Cidreira no Palco Ultra 2018
Foto por Aline Krupkoski

Giovani Cidreira veio na sequência, acompanhado de instrumentistas do Maglore, e seu show foi um dos destaques do evento, já que o músico consegue traduzir no palco a emoção que passa em seus registros de estúdio.

Em um caldeirão de elementos, Cidreira consegue colocar seu coração e a sua alma em cada uma das canções, e navega por gêneros diversos que vão do Rock à MPB sem perder a graça e mantendo as coisas interessantes a todo momento. É um show para ir atrás quando passar pela sua cidade, definitivamente.

Outro grande show do Palco Ultra veio com o local Luan Nobat, que manteve o tom performático das apresentações com um show para ficar de olhos grudados.

Unindo a sua poesia à energia de um show ao vivo já com a Praça com milhares de pessoas, ele conseguiu contagiar a plateia e conduziu tudo de forma natural, dialogando com o público, que cantava as suas músicas, como em uma verdadeira parceria.

Foi nesse show que vieram os primeiros gritos mais entusiasmados de “Ele Não”, fazendo referência à campanha nacional que se opõe ao candidato à presidência Jair Bolsonaro, e definitivamente quem ainda não conhecia o som de Nobat saiu dali seu fã.

 

Final Apoteótico

Djonga no Palco Ultra
Foto por Aline Krupkoski

As três últimas atrações do Palco Ultra 2018 foram, em conjunto, o destaque do evento, e tudo começou com um show histórico de Djonga.

O rapper mineiro, local de Belo Horizonte, foi responsável por uma parcela gigantesca do público do festival e se as pessoas entraram em um estado frenético quando ele subiu ao palco, o mesmo pode ser dito a respeito do músico, que não escondeu a felicidade de estar ali.

Nome dos mais importantes do novo rap nacional, Djonga tem ganhado destaque e falou sobre como apresentações anteriores na sua cidade haviam dado errado, então tocar para tanta gente na região central de BH, em uma praça e evento gratuito, era a cereja do bolo para essa fase da carreira.

A música de Djonga é atual, contundente e inteligente. Seus versos falam sobre o mundo em que vivemos e seu difícil momento político e social, e ao subir ao palco já com a multidão ganha, a troca entre artista e plateia foi combustível para que a apresentação se tornasse o ponto alto do Palco Ultra.

A empolgação foi tão grande que em certo momento Djonga até foi para o público onde iniciou uma imensa roda punk e ao voltar para o palco ele conduziu uma apresentação enérgica e cantada por todo mundo a plenos pulmões até o final.

Com vários gritos de “Ele Não”, o show se destacou também por conta da repetição de um trecho da ótima “Esquimó”, que diz:

Quem tá com a moral em cheque, precisa ser perdoado
Aquele jab precisa ser desviado
O policial precisa ser confrontado
Sujeito homem fala, não manda recado
Lei do cuidado, onde conversa fiado
Onde tem quem acha graça zoar viado
Eu acho engraçado um racista baleado

As duas últimas frases foram repetidas à exaustão, e nos últimos segundos de seu show, Djonga as cantou, abandonou o microfone e saiu do palco, mas a plateia continuou com os vocais e além de cantar o som, ainda entoou mais gritos contra Bolsonaro.

O show foi histórico por diversos motivos e mostrou a força do rap nacional, um dos principais estilos que conversa com o público de massa hoje em dia. Um show como esse é pra fazer pensar, pra divertir, pra questionar e também para lavar a alma, já que a energia está ali presente em todo momento.

Após a troca de palco quem subiu para fazer seu show foi o Maglore, e se muita gente achou que o público que estava ali para ver o Djonga deixaria o festival, se enganou. A Praça da Assembleia continuou lotada e receptiva ao que era apresentado ali, e muita gente cantou com a banda baiana todos os seus hinos do rock alternativo.

Músicas do mais recente disco, Todas As Bandeiras, se uniram a sucessos de outras fases e era difícil não ver alguém cantando com Teago Oliveira assim que ele mandava ver em suas composições ao lado da banda.

Com um setlist interessante que prende o seu público e chama a atenção de quem ainda não os conhece, o Maglore faz festa mesmo quando fala dos assuntos mais delicados e pessoais, e isso reverbera bastante com o público como aconteceu em BH.

Por fim veio a Francisco, el Hombre, banda paulistana que tem hoje um dos melhores shows do país, disparado.

Dizer que a apresentação foi divertida e cheia de energia é chover no molhado, mas mesmo em final de ciclo e se preparando para uma nova fase, a banda ainda entoa os sons do disco Soltasbruxa com sorriso no rosto e sem parar um minuto sequer.

Novos arranjos dão fôlego para as canções que ao vivo têm as caras mais diversas e pedidos de rodas punk, abraços coletivos e gritos coordenados fazem com que a banda domine o público como poucas.

Ao final, quando eles se preparavam para sair e o público pediu por mais um som, veio uma música inédita que promete ser ponto alto dos próximos shows da Francisco no futuro.

Falando sobre “fogo no Palácio”, a música tem uma coreografia aprendida rapidamente pelos presentes, e Mateo, ao largar seu violão e ensinar o público a cantar e dançar a canção, também fez menção ao movimento “Ele Não” e disse que se “ele” ganhar, teremos “fogo no chão, fogo nas paredes e fogo no palácio”, como diz a letra da música.

 

Arte nas Ruas

Francisco el Hombre no Palco Ultra
Foto por Aline Krupkoski

Ocupar a cidade com arte e fazer bom uso dos programas de incentivo culturais que temos no Brasil é necessário para que a gente transforme a sociedade e viva em tempos melhores.

Alinhar boas atrações com uma proposta visual bacana, food trucks, feira de discos de vinil e um espaço marcante para a cidade com shows gratuitos foi uma sacada incrível que acontece também em outras cidades e regiões e deveria ser levada como exemplo.

Vida longa ao Palco Ultra!

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