Entrevista: Cypress Hill fala sobre novo disco, Elephants on Acid, e retorno ao Brasil

Prestes a fazer uma série de shows no Brasil, o Cypress Hill falou sobre carreira, rap, maconha e música brasileira. Leia nossa entrevista exclusiva.

Cypress Hill

São 32 anos de estrada, nove discos de estúdio, mais de 20 milhões de cópias vendidas. Quando o Cypress Hill despontou na cena rap da costa oeste americana, não só se manteve relevante como ajudou a moldar uma sonoridade que é ao mesmo tempo hip hop hardcore, gangsta e chicano rap para os anos seguintes.

Com seu álbum de estreia ainda no topo das paradas, o grupo se tornou o primeiro no rap a ter dois discos no top 10 da Billboard, em 1993, quando lançaram Black Sunday, que chegou ao número um. Sucessos como “How I Could Just Kill a Man” e “Insane In The Brain” ajudaram a cimentar a posição do Cypress como ativistas pró-cannabis, expoentes do rap feito por imigrantes latinos na América e da cena da Califórnia.

Naquela época, Sen Dog e B-Real já cantavam as tensões sociais e raciais dos EUA, antes mesmo de estourarem as revoltas de Los Angeles, em 1992, após a absolvição de quatro policiais acusados de agredir Rodney King, um homem negro. Tanto tempo depois, eles continuam tendo o que dizer. Na última sexta-feira, o Cypress Hill lançou seu mais novo disco, Elephants on Acid. Sem apostar no óbvio, o disco embarca numa jornada experimental, entrecortando os flows com vinhetas instrumentais cheias de camadas, texturas e viradas inesperadas.

Celebrando esse momento, o Cypress Hill retorna ao Brasil com seus MCs da formação original acompanhados de Eric Bobo na percussão e o DJ Mix Master Mike, presença frequente ao lado dos Beastie Boys em álbuns e shows.

O Tenho Mais Discos Que Amigos! conversou com Sen Dog por telefone sobre esse novo momento da banda e o que os motiva a continuar criando. Confira o serviço dos shows e a entrevista logo abaixo.

Serviço – Cypress Hill no Brasil


Porto Alegre

Local: Pepsi on Stage – Avenida Severo Dullius, 1995
Data: 9 de outubro (terça-feira)
Horário: a partir das 22h
Abertura da casa: 20h
Classificação: 16 anos
Ingressos: a partir de R$ 103,50.

São Paulo
Local: Espaço das Américas – Rua Tagipurú, 795 – Barra Funda
Data: 10 de outubro (quarta-feira)
Horário: a partir das 22h
Abertura da casa: 20h
Classificação: 18 anos
Ingressos: a partir de R$ 100.

Rio de Janeiro
Local: Hub RJ – Av. Professor Pereira Reis, 50
Data: 11 de outubro (quinta-feira)
Horário: a partir das 22h
Abertura da casa: 20h
Classificação: 18 anos
Ingressos: a partir de R$ 80.

TMDQA!: Olá, Sen Dog! Primeiramente, parabéns pelo lançamento do disco novo. Legal que já vai ter show no Brasil para os fãs curtirem.

Sen Dog: Muito obrigado! Estamos muito empolgados para voltar ao Brasil.

TMDQA!: Bom saber! Queria só falar um pouquinho do início da trajetória de vocês até aqui. São cerca de 30 anos, mais de 20 milhões de discos vendidos e esse é o álbum de número 9. Agora o jogo é outro, mas lá no início vocês se tornaram o primeiro grupo latino de hip hop a ganhar discos de platina, o que por si só já foi muito importante. De lá pra cá, vocês construíram um legado, então onde você diria que o Elephants on Acid se encaixa na discografia? E o que vocês queriam botar no mundo que não haviam dito nos trabalhos anteriores?

Sen Dog: Bom, quando o assunto é produzir coisas novas, gerar material e conteúdo… eu penso que, enquanto você está vivo e está no mundo, você está ficando mais inteligente – pelo menos é o que espero (risos). E quanto mais conhecimento você tem, você quer colocar aquilo pra fora, isso muda a forma como você pensa e vê o mundo. Sempre tem algo novo que te leva a pensar, a ser mais político, a ser criativo. Atualmente, com esse cenário político, com a cultura cannabis voltando à relevância e vendo tantos atos de violência de humanos contra humanos… Continuar lançando é sobre continuar sendo você mesmo, se reconhecendo enquanto artista, enquanto músico e enquanto uma banda que ainda é relevante. E isso torna esse momento muito especial pra gente. Agora, quanto a onde esse disco vai estar na nossa discografia, só o tempo dirá (risos). Não sei se um dia as pessoas vão compará-lo ao Black Sunday, ao Skull and Bones… Sei que já estamos recebendo muitas respostas positivas do material, então a gente espera que as pessoas estejam ouvindo e gostando.

TMDQA!: Eu estava ouvindo, aliás, antes de conversarmos e acho que o disco soa bem épico às vezes, vocês foram ousados em faixas instrumentais, nos interlúdios… A duração é bem padrão, são 51 minutos, mas são 21 faixas, o que chama atenção nessa que é a “era do single”. Como é essa equação de dar aos fãs o que eles esperam, além de manter um certo frescor pra vocês, sem abrir mão do que vocês queriam fazer e experimentar nesse disco?

Sen Dog: Bom, aí é que a gente senta com a equipe toda, eu, B-Real, todos os nossos empresários, e conversamos sobre onde queremos ir com o trabalho. Nós nunca fomos um grupo de focar no que estava tocando na rádio, de seguir caminho A ou B para buscar mais sucesso. E vemos muitos artistas lançando músicas soltas e queríamos mudar tudo isso. Porque somos de uma geração em que as pessoas faziam obras completas e achamos que se você lança um disco em que todas as músicas são boas, os fãs vão ouvir. As bandas que nós crescemos ouvindo – Black Sabbath, Led Zeppelin – sempre foram voltadas para fazer grandes discos que sobrevivem ao tempo, então o nosso objetivo é fazer um excelente álbum. Acho que é por aí que pensamos. Para ser uma banda completa, você tem que fazer discos completos, turnês completas, e não pela metade.

TMDQA!: Tá certo. Ainda sobre a origem de vocês, eu penso em como LA ficou em chamas no início dos anos 90 e como essa ferida vinha sendo exposta culturalmente. Por mais chocante que fosse ver aquilo, já dava pra sentir a tensão crescendo – tanto social quanto racial – nas letras de vocês e de outros MCs. E você citou as questões políticas de hoje, né? Eu diria que a América atual continua lidando com os mesmos problemas, de certa forma, e nesse meio tempo a gente vê toda uma nova cena se formando em LA. Como você enxerga o papel das novas gerações em lidar com esses assuntos? Hoje em dia dá pra ser rapper e artista nesse cenário, sem criar algo de um mínimo teor político?

Sen Dog: Sim, é possível, com certeza. Mas nesse momento em que estamos vivendo na América, as questões raciais, a brutalidade policial é algo tão latente que muitos artistas veem isso e não conseguem ficar calados, sabe? São tempos violentos. Nós tentamos focar nas nossas próprias políticas, que são questões voltadas para a maconha, mas sabemos que há grandes artistas abordando os mais variados assuntos em suas músicas. Apoio isso porque acredito que esse é um dos papéis da música.

TMDQA!: Não sei se vocês sabem muito sobre o Brasil, mas você vai notar que temos as nossas próprias crises políticas por aqui. E nós ficamos meio isolados da América Latina, porque não falamos Espanhol e, além de todas as dificuldades, somos meio orgulhosos demais pra aprender (risos). Parece que a gente nem faz parte, na verdade. Mas vocês sempre tiveram público aqui, como vários outros grupos de hip hop que cantam em Inglês. Já aconteceu o caminho inverso, de algum artista ou grupo brasileiro chegar pra vocês aí? Tem alguém que você admire? Se não, tudo bem também, é mais uma curiosidade mesmo.

Sen Dog: Bom, eu conheço o Planet Hemp. Tocamos com eles aí no Brasil, e também na nossa última turnê houve algumas atrações locais abrindo os shows. Acho que quem mais conheço daí é o Planet Hemp mesmo, gosto muito. Curto também o Soulfly…. Eu tento ouvir coisas de outros lugares o máximo possível, mas nem sempre dá tempo. Espero que nessa próxima ida ao Brasil eu tenha mais oportunidades de conhecer músicos legais daí.

TMDQA!: Vocês vieram a São Paulo há alguns anos, mas no Rio já faz 20 anos desde o último show. Dá pra compilar isso tudo numa noite só? Imagino que o repertório vá focar no novo disco, certo?

Sen Dog: Ah, tem que ter o catálogo clássico, né? “How I Could Just Kill a Man?” e coisas assim… Todos os maiores sucessos vão estar no repertório, isso faz parte da experiência. Mas vamos tocar pela primeira vez ao vivo algumas das canções novas, então acho que deve ter umas quatro ou cinco de Elephants on Acid nos shows também.

TMDQA!: Tá certo! Sen Dog, obrigada por seu tempo e esperamos que se divirta aqui no Brasil.

Sen Dog: Obrigado, nos vemos aí!