Depois de uma primeira noite polêmica, Roger Waters voltou ao Allianz Parque nesta quarta-feira (10/10) para mais uma apresentação de sua turnê Us+Them em São Paulo. O lendário cantor se mostrou um pouco mais cauteloso no discurso político, mas ainda irônico, e sem deixar de marcar suas posições, como fez em 50 anos de carreira.
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O show foi impecável e, como na noite anterior, passeou por vários momentos da discografia do Pink Floyd. O imenso telão e efeitos sonoros davam o clima para clássicos do The Dark Side of The Moon (1973), como “Breathe” e “Time”, e de Animals (1977), como “Dogs” e “Pigs”. A mescla com ótimas canções do disco mais recente de Waters, Is This The Life We Really Want? (2017), foi perfeita.
Mas grande parte da expectativa era para as mensagens políticas que o músico costuma exibir, como a crítica que fez ao candidato do PSL à presidência do Brasil, Jair Bolsonaro, na primeira noite. Antes de “Mother”, já perto do fim do espetáculo, ele reconheceu que suas mensagens no show anterior podem ter gerado reações e discussões violentas entre o público. Mas pediu pra que todos se unam para “lutar contra os porcos, não uns contra os outros”, e garantir direitos humanos para todos:
Nós ficamos sabendo de alguns conflitos no estádio e no estacionamento depois do show de ontem, e isso pode ter tido a ver com algo que eu fiz ou falei durante a apresentação. Eu não sei. Mas o que vou sugerir é o seguinte: qualquer interesse nosso, em comunidade, nesse frágil planeta, deveria ser no sentido de criar um futuro para nossas crianças, os filhos deles e as futuras gerações. Precisamos encontrar um jeito de catalisar nossa energia e nossa raiva para lutar contra os malditos porcos, não uns contra os outros.
[Nesse momento, partes da plateia começaram a gritar manifestações políticas diversas]. Eu não tenho ideia do que isso significa. Ei, pessoal. Eu não sei o que vocês estão gritando. Tenho certeza que é algo interessante, mas estou de fora dessa conversa, porque não entendo.
De qualquer forma, só escutem por um segundo. Eu acho que nós podemos – pelo menos a maioria das pessoas neste estádio – eu sinto o amor nesse lugar, eu senti vindo de vocês. A maioria de nós entende que queremos um futuro para as crianças. E esse futuro precisa ser baseado no reconhecimento de que direitos humanos e individuais são importantes, e todos os seres humanos, em todas as partes do planeta, independente de sua etnia, religião ou nacionalidade, merece direitos humanos básicos.
E isso também é verdade nesse país lindo de vocês, o Brasil. E essa é a hora em que eu menciono nossos irmãos e irmãs na Palestina. É verdade pra eles também. E eu vi algumas pessoas aqui na primeira fila com uma bandeira de Israel, isso é adorável.
A gente fez uma espécie de comentário sobre bombas nucleares mais cedo, durante ‘Money’ [no meio da música, os instrumentos pararam e o estádio ouviu o som de algo se aproximando, cada vez mais alto, até que houve um grande estrondo]. Foi apenas a segunda vez que fizemos isso, porque só recentemente percebemos que era uma maneira de dizer: ‘que coisa horrível seria se houvesse uma guerra nuclear!’ Mas chega disso. A próxima música tem algo a ver com tudo o que eu falei. Ela é para a minha mãe.
Houve um momento em que a plateia confundiu o cantor com gritos diversos, em português. Mas, no geral, o clima foi de respeito e idolatria ao ex-Pink Floyd. Também não presenciamos nenhum ato de violência ou intolerância entre o público nessa segunda noite, apesar de uma faixa que o hostilizava em um dos setores do estádio.
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Assista ao discurso
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Roger Waters no Brasil
Vale lembrar que o cantor vai passar o mês inteiro aqui no Brasil fazendo shows pelo país. Um deles, em Curitiba, acontecerá no dia 27 de outubro, véspera do segundo turno das eleições brasileiras.
Você pode encontrar ingressos para os shows de Roger Waters por aqui.