O cantor e músico capixaba André Prando irá lançar um novo disco de estúdio chamado Voador nas próximas semanas.
Para esquentar os motores e iniciar o processo de divulgação, o cara lançou um belíssimo clipe para “Ode à Nudez”, canção/single que reflete sobre uma nova compreensão de cada um de nós e a quebra de convenções e normatizações.
Ao falar sobre o vídeo, o diretor Diego Locatelli explicou:
O filme foi projetado de acordo com a descoberta que a música propõe. Ao assimilar que estar nu, ou estar vestido, é uma presença de diversas máscaras, o clipe traz personagens que flutuam sobre esses dois estados e propõe que não há lado da razão.
Ele ainda citou a influência de seriados como o cultuado Twin Peaks e nós conversamos com o próprio André Prando a respeito do trabalho, e você pode ler nosso papo com o músico logo abaixo, antes da estreia do clipe.
Divirta-se!
TMDQA!: O clipe de “Ode à Nudez” foi pensado para acompanhar a letra da canção, e sendo assim tem sutilezas que traduzem o significado da composição e não são exatamente diretas. Como foi o processo de transformar tudo em imagens?
André Prando: Sempre acho muito complexo transformar uma canção em filme e cada vez mais me encanto por não obviedades na narrativa. Nos filmes em geral isso me cativa. O roteiro de “Ode à nudez” foi pensado em parceria minha com o diretor Diego Locatelli e as ideias foram surgindo ao passo que ele foi compreendendo a música em nossos encontros. Essa nossa busca pela compreensão é ilustrada no próprio clipe com meu personagem. Assim como em nossas referências para o videoclipe (Jodorowsky, Pina, David Lynch), procuramos apresentar diferentes camadas, possibilidades de viagem e reflexões. Algo que sempre norteia meu processo de composição também. Temos que ter sede pelo pensar.
TMDQA!: Esse é o primeiro single de um novo disco que vem por aí. Como essa canção se relaciona com o resto do álbum?
André Prando: Talvez essa seja a música “mais banda” do Voador. O disco tem diferentes momentos, começando com “Ode à nudez” que abre alas com a faceta mais rock e uma pitadinha de doidêra. Ela sintetiza o disco de forma pop, sem perder a qualidade de rock-canção-experimental em 3 minutos – curiosamente a música mais curta do disco. Depois o disco apresenta um clima mais imersivo e psicodélico, com sitar, acordeon, violoncelo, percussões, que vai te levando aos poucos para outros lugares. Isso tudo costurado por letras que discutem temas do nosso tempo e nos leva a refletir. O cenário caótico que vivemos tá muito presente no álbum e esse single mostra, com afeto, um olhar mais externalizado e menos egóico, uma nudez de máscaras, uma disposição para compreender outros eus, uma desconstrução de mitos.
TMDQA!: A capa do single é bastante forte, com uma belíssima ilustração de Caramurú Baumgartner. Como você entende que ela traduz o trabalho? Como vê a importância da parte gráfica para contar uma história através da música?
André Prando: Sou apaixonado por vinil, adoro viajar em capas bem elaboradas e trabalhar com Caramurú é a realização de um sonho desde que o conheci (através do Tagore). Deixei ele totalmente livre para criar, apresentei a música (a arte surgiu antes do videoclipe) e pedi que a referência fosse o próprio trabalho dele, que tem uma identidade muito marcante. Sinto que a arte deve e está conectada com a música e serve, ainda, como expansão da narrativa. Quantas vezes você foi sacar um som que nunca ouviu falar porque viu uma capa muito loka? Quantas vezes deixou de sacar um som porque a capa te pareceu tosca? Estudei metade do curso de design na UFES, antes de me formar em música e piro demais em arte gráfica. Além de chamativa, a arte de Caramurú é muito sensível e por dentro da música, te convida pra uma viagem.
TMDQA!: O disco também ficará marcado por ter distribuição digital da Sony Music. Como surgiu essa parceria e como você vê a importância dela para o ciclo do novo álbum?
André Prando: Essa conexão aconteceu através do selo Novíssima Música Brasileira, que já tinha escrito uma matéria sobre o single/videoclipe (“Última esperança”) do meu primeiro disco (Estranho Sutil) em 2015. De lá pra cá mantivemos contato e o selo já tinha lançado uma coletânea pela Sony, com um novo projeto que consiste em lançamentos próprios de cada artista, para o qual eu fui convidado. Já chegamos com o produto pronto e eles não interferem em nada no sentido criativo. Estou tendo uma recepção maneira da equipe e estamos trabalhando muito. A produção do disco com Jr Tostoi e Henrique Paoli me deixa muito realizado e já satisfeito com o quanto pudemos experimentar e fazer as ideias acontecerem do nosso jeito.
Do meu primeiro disco para cá eu tive contato com muitxs artistas, produtorxs, festivais, feiras, etc… tenho aprendido muita coisa e uma parada que eu já tinha decidido pra mim é que eu precisava de parceiros para o Voador, queria muito a experiência de lançar com um selo e aí pintou essa oportunidade foda. Um dos maiores desafios para o artista nos tempos de hoje é o acesso, como atingir as pessoas? Não basta ser foda, é o mínimo, afinal, tanto trabalho foda fica às moscas. A distribuição da Sony nos dá uma esperança de alcançar muito mais gente, somado com nosso sangue nos zói de sempre. Ainda vamos descobrir que impacto vai rolar. Sigo firme na leveza.
TMDQA!: Quais são os planos para divulgação do disco em 2019?
André Prando: Pro ano que vem pretendo rodar o Brasil com a tour Voador, tentar participar de premiações, além de lançar mais clipes e também voltar a tocar em festivais independentes, que é um tipo de show que gosto muito de fazer. Ainda assim difícil prever como estaremos em termos de recursos e possibilidades na cultura ano que vem, mas a ideia é fazer tudo isso acontecer, afinal estamos sempre em função disso só #EleNão. Fazer com que Voador atinja o maior número de pessoas possíveis e de algum modo mantenha um movimento, contribua pra resistência da cena independente.
Pra esse ano temos show de lançamento em Rio de Janeiro (Teatro Ipanema, 23/11), São Paulo (Noite SIM SP, 07/12) e Vitória/ES (Sesc Glória, 11/12).
Ficha Técnica
- Produção: André Prando / Lupino Filmes / Claraboia Imagem
- Roteiro: Diego Locatelli e André Prando
- Direção e Fotografia; Diego Locatelli e Felipe Amarelo
- Primeiro Assistente de Fotografia e SteadyCam: Pedro Monteiro
- Segundo Assistente de Fotografia: Yuri Bassani
- Direção de Arte: Clara Nahas
- Assistente de Arte: Gabi Christo
- Figurino: PaPaula Damasio e Luara Zucolotto
- Maquiagem: Caio Motta
- Trança afro: Afari Mc
- Direção de dança: Gabriela Moriondo
- Equipamentos: Pique-bandeira Filmes
- Making Of: Bernardo Firme
- Motorista: Washington Oliveira
- Lanches: Clube do Lanches
- Atores:
Kin
Raquel Mattos - Dançarinos:
Ana Paula Lopes
Alyne Curi
Farley Souza
Franciny Dias
Juliander Agrizzi