Nem a chuva impediu Roger Waters de promover uma catarse no Rio de Janeiro

Ex-Pink Floyd continua tirando fôlego do público em passagem pelo Brasil. No Rio de Janeiro, show foi marcado por homenagem a Marielle Franco. Leia resenha.

Roger Waters no Rio de Janeiro, 2018
Foto por Diego Castanho

Já na reta final da turnê Us + Them pelo Brasil, que começou em São Paulo no dia 9 de Outubro e passou por Brasília, Salvador e Belo Horizonte, Roger Waters continua surpreendendo e emocionando os fãs, dessa vez no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.

A chuva, que começou a cair pontualmente às 21h, momento em que o imenso telão foi aceso e as luzes do Maracanã começaram a se apagar, não inibiu o público em momento algum, quer estivessem com capas de chuva de plástico ou protegendo a cabeça com casacos. Teve quem não tivesse proteção alguma e passou as quase três horas de apresentação sendo lavado pela água.

E que banho. Waters lavou a alma do carioca em plena quarta-feira, numa apresentação histórica. O ex-baixista do Pink Floyd embalou 47 mil pessoas com clássicos da banda, como “Money”, “Another Brick On The Wall” e “Comfortably Numb”, e algumas faixas de seu trabalho solo mais recente, Is This The Life We Really Want?. Coube uma menção ao álbum no fim do show, com Waters salientando que muitos estavam entoando as músicas junto com o artista.

Roger Waters sob a chuva no RJ
Foto por Diego Castanho

O roteiro da apresentação de Roger já é familiar para os que acompanham o músico. As projeções de tirar o fôlego e efeitos sonoros que recriam os álbuns do Pink Floyd já são conhecidas, assim como as fortes críticas aos governantes — porcos dominam o mundo. Suas apresentações são uma gigantesca catarse política e uma verdadeira experiência audiovisual, capaz de impressionar até mesmo quem não conhece nada de Roger Waters e Pink Floyd.

Para “Another Brick On The Wall”, um dos maiores clássicos da banda de rock progressivo, um coral de alunos do Centro de Música Jim Capaldi, projeto social localizado em Vicente de Carvalho, zona norte do Rio, tomou o centro do palco. Crianças e adolescentes, que ensaiaram durante quatro meses e aprenderam aos poucos a letra sobre autoritarismo e repressão ao ensino crítico nas escolas, deram um show e foram ovacionados pelo próprio músico. Com eles, os primeiros sinais de resistência apresentados no telão durante o intervalo.

O caráter político do trabalho de Waters chegou ao Brasil no meio de uma eleição conturbada, e os shows por aqui foram marcados por protestos com gritos de “ele não” seguidos de vaias e o nome do presidenciável Jair Bolsonaro na lista de políticos apontados como neofascistas. No Rio de Janeiro, a faixa censurando o nome do candidato do PSL foi mantida, uma provocação feita pelo músico no segundo show em São Paulo após inúmeras críticas — de fãs que, curiosamente, pareciam desconhecer o posicionamento político do baixista britânico.

Roger Waters no Rio de Janeiro
Foto por Diego Castanho

E, assim como o show de Salvador foi marcado pela homenagem a Mestre Moa do Katendê, Waters parou por um breve momento para contar a história de quando, seis meses atrás, soube do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, em Março deste ano. Em sua homenagem, chamou ao palco Mônica Benício, companheira de Marielle, Luyara Santos, sua filha, e Anielle Franco, irmã da vereadora. Elas entregaram ao britânico uma camiseta com os dizeres “Lute como Marielle Franco”, que Waters vestiu até o fim do show. “Marielle é a líder deste país”, disse o músico, fazendo menção ainda a Renata Souza, Mônica Francisco, Dani Monteiro e Talíria Petrone, deputadas eleitas no Rio, citadas por Waters como “sementes de Marielle”. O discurso foi emendado na emocionante “Mother”.

A chuva ainda caía quando a banda se despediu do Rio de Janeiro sob aplausos de uma multidão que parecia não acreditar no que haviam testemunhado. O sentimento era de ter presenciado um momento histórico, que será lembrado por muitos anos ainda. A turnê brasileira se encerra nos próximos dias, com shows em Curitiba e Porto Alegre, e esperamos que a resistência promovida por Waters seja a catarse que todos precisamos.

Você pode encontrar ingressos para as apresentações clicando aqui.

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Setlist – Roger Waters no Rio de Janeiro, 24 de Outubro de 2018

Roger Waters no Rio de Janeiro
Foto por Diego Castanho

1. Breathe (Pink Floyd)
2. One of These Days (Pink Floyd)
3. Time (Pink Floyd)
4. Breathe (Reprise) (Pink Floyd)
5. The Great Gig in the Sky (Pink Floyd)
6. Welcome to the Machine (Pink Floyd)
7. Déjà Vu
8. The Last Refugee
9. Picture That
10. Wish You Were Here (Pink Floyd)
11. The Happiest Days of Our Lives (Pink Floyd)
12. Another Brick in the Wall Part 2 (Pink Floyd)
13. Another Brick in the Wall Part 3 (Pink Floyd)

Set 2:
14. Dogs (Pink Floyd)
15. Pigs (Three Different Ones) (Pink Floyd)
16. Money (Pink Floyd)
17. Us and Them (Pink Floyd)
18. Smell the Roses
19. Brain Damage (Pink Floyd)
20. Eclipse (Pink Floyd)

Bis:
21. Mother (Pink Floyd)
22. Comfortably Numb (Pink Floyd)

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