Entrevistas

Estivemos com o CPM 22 no lançamento do vinil de "Suor e Sacrifício" e conversamos sobre a fase atual da banda

"É um disco que reflete a maturidade da banda, mas ao mesmo tempo tem a mesma sonoridade do hardcore 90," define o vocalista Badauí, do CPM 22.

cpm 22
Foto: Mateus Mondini

Após mais de 20 anos de carreira, o CPM 22 lançou o seu primeiro trabalho em versão LP, o álbum Suor e Sacrifício, que saiu no ano passado. Licenciado pela Universal Music, o disco em vinil duplo e colorido foi disponibilizado pela gravadora paulista Hearts Bleed Blue (HBB).

Em LP preto e laranja com edição limitada a 300 cópias, o vinil conta com “Revolução” e “Cruz”, duas faixas que ficaram de fora da versão em CD e que só haviam sido disponibilizadas nas plataformas digitais.

Na última terça-feira (13), Badauí (vocal), Phil (guitarra) e Japinha (bateria) estiveram na sede da HBB para promover o LP e realizar uma sessão de autógrafos com os fãs. Aproveitamos para bater um papo com o vocalista a respeito do lançamento e do momento atual do grupo.

Lançamento de vinil do CPM 22
Foto: Karen Lusvardi

TMDQA!: Esse é o primeiro disco da banda a sair no formato de vinil. Como surgiu a ideia desse lançamento?

Badauí: Eu sempre quis ter um trabalho em vinil. Mas como a gente sempre foi de gravadora grande, sempre foi um pouco difícil. E um tempo atrás as fábricas de vinil no Brasil tinham fechado… A Polysom reabriu, foi com eles que a gente fez o disco e a gente pirou no resultado! Mesmo estando na Universal, tive a liberdade de chegar lá dentro e falar sobre a possibilidade de um vinil, e acho que toda vontade que a gente teve com os outros discos foi o que acabou desencadeando nesse. Eu falei com o presidente da Universal se era possível pegar uma gravadora independente que estivesse interessada em fazer isso. Rolou fazer essa ponte e os caras acabaram se entendendo. Para mim é um prazer lançar o disco pela HBB, que é uma gravadora que eu respeito, uma gravadora que vive o punk, o hardcore, a música alternativa em geral. Então, juntou a vontade da HBB com a relação que eu tenho na gravadora hoje em dia e com o resultado do disco. Mas, com certeza, é uma coisa que eu queria já fazia tempo.

TMDQA!: Vocês pensam em relançar algum álbum nesse formato?

Badauí: Eu acho que o A Alguns Quilômetros De Lugar Nenhum [primeiro disco do CPM 22, lançado em 2000] tá em pauta de fazer o vinil quando completar 20 anos. Não só vinil, mas fazer K7 e CD também. Vamos ver né?! Tem um custo, o disco sai caro, tem que ver qual é a procura. Mas acho que esse disco vale a pena. Não é uma certeza, mas é bem possível.

TMDQA!: Comparando o Suor e Sacrifício com os outros discos do CPM 22, como vê a receptividade do público e esse momento da carreira da banda?

Badauí: É um disco que, pra quem acompanhou a carreira inteira, não tem tanta diferença pros outros discos porque tá dentro do mesmo universo. Mas pra quem respeita a banda e fazia tempo que não ouvia nada, chama um pouco mais a atenção. A receptividade tem sido boa, eu acho que é um disco que reflete a maturidade da banda mas ao mesmo tempo tem a mesma sonoridade do hardcore dos anos 90. A gente sempre teve né? Mas talvez com uma nova formação acaba soando diferente, com a volta do Fê e a entrada do Phil. Isso é inevitável, todo mundo acaba colocando a sua característica ali. Mas é um disco bem CPM 22. Quando você vai fazer um disco, você sabe o que quer, mas não sabe direito como vai ser o resultado final. É um trabalho que agradou todo mundo no final das contas, e não só nas músicas em si, mas na arte, na gravação. 

Foto: Karen Lusvardi

TMDQA!: Você já falou algumas vezes que essa é a melhor formação que o CPM já teve. O que você mais destaca em comparação às outras?

Badauí: Quando eu digo isso, eu não quero desmerecer as formações anteriores, porque todas somaram na discografia, na carreira da banda, como trabalho, como legado. Acho que o começo da banda foi muito forte com o Wally, com o Portoga e tal… Quando eu falo que é a melhor formação, é que nessa tá todo mundo correndo pro mesmo lado e querendo fazer o que a gente faz como obra, e é por isso que acaba se destacando. E também são músicos consagrados, todo mundo já tocou em outras bandas e o CPM é uma banda de mais de 20 anos. O Phil já veio com toda a experiência do Dead Fish e o Fernando também tem muita experiência, então é por isso que eu digo. Mas as outras formações também foram bem boas.

TMDQA!: Vocês já estão pensando no próximo disco?

Badauí: Ah, a gente tem algumas coisas em mente, mas nada muito definido. Prefiro aguardar um pouco.

TMDQA!: Vocês são sempre questionados sobre a questão de gravadora x independente e, recentemente, você falou que na época da Arsenal, com o Rick Bonadio, vocês tinham menos liberdade na gravadora do que hoje em dia, na Universal. Sonoramente, o que você acha que teria sido diferente no CPM naquela época?

Badauí: Quando eu falo sobre liberdade não quer dizer que coisas que a gente não gosta foram impostas, não é nesse sentido. Mas é no sentido de ser uma banda mais nova, de ser uma banda que não tinha o legado que a gente tem hoje, de ter uma pressa pelo lançamento por uma gravadora grande. Todas as músicas que a gente compôs foram feitas pela banda, a gente sempre foi um grupo aberto a ideias de fora, mas a gente não gravou nada que a gente não quis. Com certeza algumas coisas a gente faria diferente em questão de mixagem, tempo de composição, é mais nesse sentido. Mas se a gente fizesse coisa que a gente não quisesse naquela época, a banda não teria chegado no seu sétimo disco e com tantos anos de carreira. Teria morrido ali.

TMDQA!: A gente está passando por um momento político bem conturbado e as bandas têm sido cobradas a se posicionar. Você se posicionou com um vídeo pela campanha #EleNão e acabou que o Luciano fez um outro tipo de posicionamento na página da banda no Facebook, gerando muita discussão… Como você vê o conservadorismo de direita dentro do hardcore e como é, dentro da banda, ter essas opiniões políticas diferentes?

Badauí: O Luciano não é um cara de direita, até onde eu sei, até onde eu vejo. Na verdade, ele se posicionou contra o PT e acho que na banda talvez só o Fê seja petista. Mas eu acho que não necessariamente você precisa ter ideais de esquerda e ser petista, na verdade, o sistema político brasileiro é falido. Não tem ninguém extremista pra nenhum lado dentro da banda. Eu sou um cara de centro-esquerda e o Luciano não é um cara de extrema direita. Agora, dentro de uma democracia você tem que aceitar ideias contrárias e o povo brasileiro ficou refém de dois extremos. Não querendo votar pelo partido, mas sim por ideais, eu sempre vou pro lado mais da esquerda, mas eu respeito a opinião contrária. O Luciano não se posicionou a favor da direita. Quando eu me posicionei, teve uma onda de tudo, de protesto, de aceitação, de apoio e acho que o Luciano se sentiu no direito de botar no Facebook da banda que é a gente é favor da democracia. E é mesmo.

TMDQA!: Mas vocês acabaram apagando…

Badauí: É porque as pessoas não entendem direito. É complicado quando você discute isso pela internet. Eu sempre me posicionei politicamente através de entrevistas porque não tem como editar, e quando você coloca numa rede social, isso pode ser interpretado de diversas formas. Mas enfim, a gente tem que ver o que é melhor pra banda, desde que a gente não tome atitudes que vão contra o que a gente acredita, como sociedade e como democracia. 

TMDQA!: E sobre essa questão do conservadorismo entre os fãs? A gente tem visto muitas pessoas com opiniões que não se encaixam dentro do que deveria ser o punk e o hardcore.

Badauí: A gente tá num país ainda de terceiro mundo, com um nível cultural muito baixo e as pessoas realmente não tem discernimento. Acho que o fato de não ter tido mudança ao longo de tantos anos com a esquerda no poder, acaba criando alguns precedentes para que o outro lado floresça, como aconteceu. Acho que as pessoas estão tão indignadas que ficam um pouco cegas, e a internet é uma mídia muito democrática que atinge todas as idades. Todas as opiniões acabam se misturando e vira essa confusão de entendimento, de pessoas que não sabem nem o que significa fascismo, pessoas que acreditam que não teve ditadura no Brasil. Isso com certeza é reflexo da falta de informação e da falta de investimento em educação e de cultura, que a gente parece que tá parado ao longo dos anos. A gente viveu uma ditadura há mais de 30 anos e as pessoas ou não aprenderam ou simplesmente ignoram. A gente tem um governo eleito à base de mentira e isso é um reflexo da sociedade em que a gente vive. 

Foto: Karen Lusvardi

TMDQA!: Quais os planos da banda pro final desse ano e início do próximo?

Badauí: A gente tá fazendo a divulgação desse disco, Suor e Sacrifício, e tem muitos lugares pelos quais a gente não passou ainda. Então a gente vai continuar fazendo isso pelo menos até o ano que vem, mas daqui a pouco a gente inventa alguma coisa, algum lançamento, algum EP, vamos ver o que vai acontecer. A gente tá muito esgotado também, quer tirar férias agora e ano que vem entrar ainda tocando nessa turnê porque muita gente que curte a banda ainda nem nem viu músicas desse disco ao vivo. Com o tempo a gente vai vendo o que faz.

TMDQA!: Obrigada! Mande um recado final pra galera que acompanha o site.

Badauí: Eu sou um leitor do site, acho demais. Acho que a galera tem que dar valor pra esse tipo de mídia porque cada vez menos a gente tem espaço pra buscar alternativa pra ideias de verdade. E quando isso acabar, depois vão se arrepender de não ter dado valor.