10 – Os Replicantes – Libertà
A lendária banda punk gaúcha Os Replicantes continua relevante e em 2018, muito antes do período turbulento pelo qual o país passou recentemente, lançou Libertà, uma pedrada sobre fascismo, machismo, feminicídio e diversas outras questões políticas e sociais a respeito dos quais falaríamos tanto nos meses seguintes.
Com a condução feroz, precisa e potente da vocalista Júlia Barth, esse disco deveria ser a cartilha para a jovem/o jovem que quer pegar uma guitarra e causar a próxima revolução. Estamos precisando.
9 – Duda Beat – Sinto Muito
Outra estreia em grande estilo de 2018, a sensacional Duda Beat conseguiu fazer todo mundo dançar ao mesmo tempo em que entoava suas mágoas e corações partidos no primeiro álbum da carreira.
Com muita personalidade, uma voz incomparável, letras afiadas e um apelo pop que se encaixou bem demais com a música atual, Sinto Muito tornou-se um dos marcos do ano.
8 – El Efecto – Memórias do Fogo
É uma das tarefas mais difíceis do planeta descrever a sonoridade da banda carioca El Efecto, que mistura rock progressivo com música tipicamente brasileira e regionalista além de guitarras que têm suas origens ligadas ao Heavy Metal.
Fato é que o grupo já lança grandes obras há algum tempo e Memórias do Fogo é um disco histórico, daqueles de se apreciar lentamente, ouvindo várias e várias vezes até (tentar) captar tudo que está acontecendo e tudo que a banda está transmitindo.
7 – Djonga – O Menino Que Queria Ser Deus
Djonga é um dos rappers mais importantes da atualidade e o mineiro faz questão de deixar bem claros os seus pontos de vista quando pega o microfone tanto em estúdio, onde apresenta as pedradas a respeito de questões como o racismo, e também ao vivo, quando conduz o que em vários momentos parece mais um show de hardcore do que uma apresentação de hip hop.
Em O Menino Que Queria Ser Deus, Djonga mistura suas críticas a questões pessoais e faz referências a assuntos e nomes dos mais diversos, como os da Legião Urbana e seu líder, Renato Russo.
6 – Marcelo D2 – Amar é Para os Fortes
Amar é Para os Fortes é um dos mais ambiciosos e melhores projetos da carreira do rapper Marcelo D2.
O álbum visual não apenas tem uma narrativa contada através de canções e imagens como também trouxe o músico compartilhando experiências e composições com nomes como Gilberto Gil, Kassin, Rodrigo Amarante e Jeneci.
Outro ponto alto da saga é a participação do rapper Sain, filho de D2, como ator principal da história em vídeo.
5 – Elza Soares – Deus é Mulher
Elza Soares continua com uma sequência incrível em Deus é Mulher.
Após o sucesso de A Mulher do Fim do Mundo, um dos discos nacionais mais importantes da última década, a cantora continuou com a equipe que escreveu e produziu o álbum para lançar sua mais recente obra e ela volta a colocar os talentos de Elza sob os holofotes.
Machismo, abuso, religiões, liberdades, amor e sexo são todos abordados em canções que juntas constroem um novo belo capítulo na história desse verdadeiro ícone nacional.
4 – Teto Preto – Pedra Preta
Nos palcos o Teto Preto já era reconhecido pelas festas incríveis que proporciona, e foi justamente no seu disco de estreia, Pedra Preta, que o grupo teve a árdua tarefa de traduzir tudo isso pro estúdio.
Pois bem, funcionou e caiu como uma luva: o disco de oito faixas mistura batidas eletrônicas, punk e até elementos nada óbvios como o jazz e a música brasileira dos anos 80.
3 – Baco Exu do Blues – Bluesman
Após ser rapidamente catapultado para o primeiro time do hip hop nacional com Esú (2017), o rapper Baco Exu do Blues não perdeu tempo e já voltou em 2018 com um novo disco, o temático Bluesman.
Aqui, Baco faz um trabalho impecável ao celebrar o estilo musical tão ligado à cultura negra através de canções que falam sobre as lutas diárias da população e as suas batalhas em relação aos problemas pessoais que vão desde os relacionamentos até a saúde mental.
Com referências a Jay Z, Kanye West, BB King e Van Gogh, o músico brasileiro fez um disco moderno em sintonia com o que tem rolado lá fora, e ainda chamou convidados como Tim Bernardes e Tuyo, fazendo com que o álbum tivesse as referências gringas ao mesmo tempo que fosse completamente brasileiro.
Prova disso é “Flamingos”, ao lado das paranaenses da Tuyo, onde Baco e suas convidadas falam sobre “ouvir Exaltasamba na quebrada e gritar ‘Eu me apaixonei pela pessoa errada'”, em uma das melhores canções do ano.
2 – Tuyo – Pra Curar
De certa forma, 2018 foi o ano da Tuyo, que após o excelente EP Pra Doer nos apresentou seu primeiro disco cheio na forma de Pra Curar.
Basta ver a quantidade de participações especiais que seus integrantes fizeram em alguns dos melhores discos do ano como os de Mulamba, Baco Exu do Blues e Bemti, além, é claro, das suas próprias canções.
Pra Curar foi produzido após um longo processo onde seus integrantes tiveram que se redescobrir e reencontrar maneiras de se comunicar e se relacionar, e talvez nada represente mais o peso de 2018 do que essa construção cheia de dúvidas, dores e sentimentos.
Ao batizar o álbum dessa forma, a Tuyo propõe uma cura da forma que eu entendo ser a mais honesta: a banda não será aquele amigo que chegará dizendo que tudo irá ficar bem e que as coisas vão passar, dando um conselho vago sobre a vida.
Ao invés disso eles irão te dar a real. Te farão enfrentar seus medos de frente e muito provavelmente te levarão a locais que você não gostaria de ir, mas deveria. Ao final do processo a cura vem e você percebe que a luta valeu a pena.
1 – Mulamba – Mulamba
Não há nenhuma dúvida de que as mulheres têm produzido os materiais mais interessantes da música nos últimos anos e isso pode ser visto nos shows e festivais Brasil afora.
Assim como a Tuyo, também de Curitiba e também com um disco de estreia, a Mulamba conseguiu empacotar em seu álbum homônimo tudo de mais forte que estamos precisando na música hoje em dia para quebrarmos regras, mudarmos patamares e chegarmos de fato a lugares pelos quais estamos todos lutando há tanto tempo e que estão ameaçados.
Em seu primeiro trabalho, a Mulamba mistura rock and roll, música brasileira, ritmos latinos e vozes absurdamente talentosas para falar desde relações pessoais como nas maravilhosas “Desses Nadas” (com Lio Soares, da Tuyo) e “Interestelar”, até porradas e críticas sociais como em “Vila Vintém”, “Lama”, “Mulamba” e “P.U.T.A.”, que catapultou a banda no YouTube com um vídeo e agora ganhou uma nova versão carregando a participação especial de Juliana Strassacapa (Francisco, el Hombre).
São nove canções em um formato que tem se tornado o mais desejado em tempos de consumo rápido, mostrando que o disco não morreu, mas talvez, para o bem, tenha encurtado, e assim que a última faixa chega ao fim você já quer ouvir tudo de novo.
Em tempos onde a palavra “resistência” é jogada ao vento para lá e para cá, a Mulamba dá significado real à expressão com seu disco, seu posicionamento e seu show catártico, parada obrigatória para quem souber que o grupo curitibano está na agenda de sua cidade.
Obrigado, Mulamba, pelo soco, pelo afago, pela sinceridade e por se abrir para compartilhar com a gente tantas histórias. 2018 ficou menos difícil tendo vocês.
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