Se você não mora em uma caverna, certamente já ouviu falar do Desafio dos 10 Anos, conhecido internacionalmente como 10 Years Challenge.
A brincadeira envolve postar fotos atuais e imagens de exatos 10 anos atrás para ver o quanto a aparência de uma pessoa pode mudar em uma década.
No entanto, o passar do tempo não muda apenas a aparência de alguém. Envelhecemos, nos tornamos mais experientes e, não raro, também mudamos nossa percepção de mundo e nossos conceitos. Flea, por exemplo, entrou na brincadeira (e foi além da proposta inicial, inclusive). Mas é certo que ele não mudou apenas fisicamente, e as próprias mudanças na sonoridade dos Red Hot Chili Peppers comprovam isso.
Baseado nisso, a equipe do TMDQA! votou em artistas que mudaram bastante em um período de 10 anos entre os lançamentos de álbuns autorais. É claro que seriam muitas opções, mas nos restringimos a artistas que tenham lançado álbuns exatamente com um período de 10 anos entre eles.
Por exemplo, um artista teria que ter lançado um álbum em 1983 e outro em 1993, podendo ou não ter lançado álbuns durante este período. Dito isso, grupos como Thirty Seconds To Mars e Black Eyed Peas, cujas sonoridades sofreram bruscas mudanças na última década, não entraram para a lista.
Vamos lá!
Blur – de Modern Life Is Rubbish (1993) até Think Tank (2003)
Ah, o britpop…
O Blur ajudou a consolidar a nova cena da música britânica com seu incrível álbum de estreia Leisure, de 1991. Após o sucesso comercial do primeiro passo na carreira, a banda esperou dois anos para lançar o sucessor Modern Life Is Rubbish, incorporando elementos da guitarra pop. O álbum apresentou um novo Blur para os fãs. Mesmo arriscando, o álbum foi bem recebido pela crítica.
O tempo foi passando e o Blur se consolidando cada vez mais. A década de 90 ainda contemplou os álbuns Parklife (1994), The Great Escape (1995), Blur (1997) e 13 (1999). Enquanto isso, a cena fervia com nomes como Oasis e Suede também batendo de frente com o sucesso da banda de Damon Albarn.
A década de 2000 começou com o maior intervalo entre lançamentos de dois álbuns da história da banda até então. Após 13, foram quatro anos até Think Tank. O álbum, também bem avaliado pela crítica, saiu da zona de conforto para explorar sonoridades diferentes. Uma banda mais madura e consolidada, o Blur se arriscou a ir além e incorporar elementos da música africana, do hip-hop e do jazz.
Se reinventar, muito mais quando se tem uma base grande de fãs, é bom para o artista e é também uma das estratégias mais evidentes ao longo dessa lista.
Beyoncé – de B’Day (2006) até Lemonade (2016)
A curva ascendente da carreira da cantora Beyoncé não é surpresa para ninguém. Desde os dias de Destiny’s Child até hoje, a Queen B se esforçou para fazer com que o seu nome seja um dos mais fortes da atual música pop.
Em 2006 ela impressionou o mundo com seu segundo álbum solo B’Day. Os singles do álbum representaram algumas das músicas mais marcantes daquele ano, como a icônica “Irreplaceable“. As parcerias “Beautiful Liar“, com Shakira, e “Deja Vú“, com Jay-Z, também marcaram as paradas do ano.
Dez anos depois, lá estava Beyoncé chamando a atenção do mundo novamente, mas agora com ainda mais força. 2016 marcou o lançamento de seu sexto álbum de estúdio, intitulado Lemonade. Já consolidada como uma das maiores artistas do mundo, a cantora aproveitou a chance e o hype para consolidar o lançamento como um fenômeno para a cultura pop. O álbum conseguiu superar as expectativas do público, não apenas em relação às canções, como também em relação a seu quesito visual.
Tratando de temas importantes, Lemonade possui todo um contexto histórico e social que justifica o fato de ter sido um dos melhores lançamentos do ano.
O Rappa – de O Silêncio Q Precede o Esporro (2003) até Nunca Tem Fim… (2013)
Se existe uma banda que chacoalhou a música brasileira ao longo dos anos 90, essa banda foi O Rappa. Única representante nacional na lista, a banda tocou em temas sociais importantes no decorrer de seus primeiros lançamentos, além de trazer uma sonoridade mestiça entre rock alternativo, reggae, samba e rap, que veio a influenciar muitos artistas no futuro.
No início dos anos 2000, após a saída do baterista e principal compositor Marcelo Yuka, a banda precisou se reinventar para continuar relevante. Foi o que fizeram em O Silêncio Q Precede O Esporro, lançado em 2003. O grupo apostou nos seus talentos individuais para continuar na mesma pegada dos outros álbuns, também trazendo temas sociais para a discussão. Daí nasceram músicas que foram bastante tocadas nas rádios, como “Reza Vela“, “Rodo Cotidiano” e “Mar de Gente“.
Com o passar dos anos, o grupo lançou apenas mais dois álbuns, sendo o último deles Nunca Tem Fim…, de 2013. Na época, o grupo foi criticado por ter perdido o tom da crítica em detrimento de músicas mais “pop”. Os integrantes se revezaram na composição das faixas, mas também tiveram apoio de nomes como Lula Queiroga e do produtor Tom Sabóia.
Os principais singles do lançamento, “Anjos (Pra Quem Tem Fé)” e “Auto-Reverse“, tiveram razoável repercussão comercial, mas decepcionaram os fãs por não terem o mesmo impacto ou sonoridade que hits anteriores como “Me Deixa” e “O Que Sobrou do Céu“, escritas na época do saudoso Yuka.
Green Day – de Dookie (1994) até American Idiot (2004)
O Green Day está na ativa desde os meados dos anos 80, mas grande parte dos fãs do grupo tiveram o primeiro contato a partir das músicas do álbum Dookie, de 1994. Não por acaso, algumas das mais conhecidas canções do grupo integram este álbum, como “When I Come Around“, “She” e “Basket Case“.
De lá pra cá, os lançamentos seguintes não tiveram o mesmo sucesso comercial que Dookie a não ser por Nimrod (1997), que foi impulsionado pela balada “Good Riddance (Time Of Your Life)”. Em 2004 veio o icônico American Idiot com a ideia de uma “ópera punk” e a banda acertou em cheio ao mostrar seu lado conceitual e contar a história de “Jesus of Suburbia”, um anti-herói norte-americano.
Foi um retorno incrível! Canções como a faixa-título, “Holiday” e “Boulevard Of Broken Dreams” marcaram presença nas rádios, em uma época em que o rock já estava aos sumindo do mainstream. Ninguém estava esperando por isso, e o fato de que o Green Day ainda poderia se mostrar relevante foi gratificante! Além disso, a banda havia ficado conhecida pelo Punk Rock direto e reto, e a composição de uma história estruturada entre canções com quase 10 minutos de duração, baladas e petardos mostrou que o leque deles era gigantesco.
Rihanna – de A Girl Like Me (2006) até ANTI (2016)
Assim como Beyoncé, aqui temos mais um caso de uma artista que cresceu e tende a crescer cada vez mais.
A Girl Like Me foi o segundo álbum lançado por Rihanna. O lançamento foi responsável por hits como “SOS” e “Unfaithful“, e projetou Rihanna ainda mais no cenário pop. A sonoridade incorporava elementos do R&B, mas chamava atenção pela inspiração do reggae.
Passados 10 anos, a cantora de Barbados deixou o reggae um pouco de lado para conquistar mais espaços com sua voz. E deu certo! Em ANTI, Rihanna mostra que abraça de forma cada vez mais forte o hip-hop e o soul. Os singles “Work” (em parceria com Drake), “Love On The Brain” e “Kiss It Better” se tornaram hits quase que instantaneamente.
Mas Rihanna aparentemente não vai deixar suas raízes do reggae de lado. Isso porque seu próximo álbum, com previsão de lançamento para este ano, deverá ter grande influência no gênero.
Maroon 5 – de Songs About Jane (2002) até Overexposed (2012)
É bastante comum e compreensível um grupo tentar seguir tendências. Um exemplo claro disso é a banda Maroon 5.
Em 2002, a banda ganhou reconhecimento mundial com seu pop/rock no álbum de estreia Songs About Jane. Na época, os hits “This Love” e “She Will Be Loved” não paravam de tocar nas rádios e na televisão, e de repente estava lá a grande aposta do momento, que ganhou inclusive o Grammy de Artista Revelação.
A indústria ficou de olho na banda comandada por Adam Levine. Nos lançamentos seguintes, as mudanças na sonoridade do grupo ficaram cada vez mais claras. No álbum seguinte, It Won’t Be Soon Before Long, a pegada de pop/rock se entrelaçou também ao disco. Já a partir do terceiro álbum, Hands All Over, o pop e o soul já pareceram ter mais espaço na sonoridade.
O padrão seguiu em Overexposed. Lançado em 2012, o álbum reafirmou tal mudança. “One More Night“, “Payphone” (com Wiz Khalifa) e “Daylight” foram grandes hits na época. A mudança que a sonoridade da banda sofreu, atrelada ao fato de que seus lançamentos continuam tendo a mesma (ou até maior) relevância, ilustra a mudança dos padrões pop da indústria fonográfica nos últimos anos. A força que o pop/rock tinha foi sendo rendida às sonoridades em evidência hoje em dia.
Linkin Park – de Hybrid Theory (2000) até A Thousand Suns (2010)
O Linkin Park foi certamente um marco musical do início do novo milênio. Nunca havia se ouvido algo parecido com o som da banda, que misturava metal, post-hardcore, rap e música eletrônica. A estreia, com o disco Hybrid Theory, deixou muitos boquiabertos e tornou o grupo um dos mais influentes da época.
O grupo se consolidou mais ainda nos álbuns seguintes, Meteora (2003) e Minutes To Midnight (2007), graças à sua sonoridade característica. Foram mais três anos até o lançamento de A Thousand Suns, definitivamente um divisor de águas na carreira do Linkin Park.
A partir deste disco, precedido pelo single “The Catalyst“, ficou cada vez mais perceptível uma mudança nos caminhos do grupo. Ao optar por incorporar elementos até então inéditos em sua sonoridade, o Linkin Park recebeu críticas tanto negativas quanto positivas.
Apesar de nunca terem largado os sons mais pesados, a vertente eletrônica do grupo foi se desenvolvendo cada vez mais. O ápice disso foi o último álbum de estúdio do grupo, One More Light, bem mais orientado ao pop. No entanto, isso jamais ofuscou o talento dos integrantes e, mais especificamente, o potencial da voz de Chester Bennington.
Fall Out Boy – de Folie à Deux (2008) até M.A.N.I.A. (2018)
A primeira década do novo milênio também marcou um novo momento para o pop/punk. Com novos grupos, os anos 2000 viram o lançamento alguns dos álbuns mais importantes para o gênero. Entre eles, temos o Fall Out Boy.
Após o devido reconhecimento com o disco de estreia Take This To Your Grave, a banda manteve seu som, bebendo de mais fontes do rock alternativo nos lançamentos seguintes. No entanto, o álbum Folie à Deux, de 2008, marcou a carreira da banda por ser o último álbum com ênfase clara nas guitarras e melodias. A partir daí, a sonoridade original do FOB foi perdendo espaço para dar destaque a sintetizadores e elementos da música pop.
A banda foi aos poucos se afastando do punk rock e mostrando cada vez mais semelhanças com músicas populares ouvidas nas pistas de dança, como ficou evidente em Save Rock and Roll, de 2013. Nos últimos anos tudo foi ficando ainda mais evidente nesse sentido e acabou culminando no lançamento do mais recente álbum do grupo, o péssimo M.A.N.I.A..
E como a indústria da música nem sempre elege o que há de melhor para colocar em evidência, o último álbum do FOB está indicado ao Grammy de Melhor Álbum de Rock.
Coldplay – de X&Y (2005) até A Head Full Of Dreams (2015)
Temos um caso semelhante ao que aconteceu com o Maroon 5. Mas aqui a diferença de sonoridade se mostrou algo mais brutal.
Um dos nomes mais marcantes de um movimento intitulado post-britpop, o Coldplay cativou muitos durante os primeiros álbuns de estúdio. Sempre fieis a um som mais calmo e com influências claras do rock alternativo, músicas como “In My Place”, “Clocks” e “Yellow” tomaram conta das rádios de então e agradaram tanto fãs de música pop quanto os que estão longe do mainstream. O ápice dessa época foi com o álbum X&Y, de 2005, e embora ele não seja responsável pelo maior sucesso comercial do grupo, o lançamento nos apresentou a canções como “Speed Of Sound”, “The Hardest Part” e “Fix You”.
Os álbuns seguintes foram apresentando cada vez mais características pop. Em 2008, Viva La Vida or Death and All His Friends deu os primeiros sinais de um som mais voltado ao pop/rock, com influências de art rock. Mylo Xyloto, de 2011, marcou a presença eletrônica no grupo e evidentes influências de R&B (tem até participação de Rihanna). Já o synth-pop caracterizou Ghost Stories, de 2014.
Chegamos em 2015, com A Head Full Of Dreams, o sétimo álbum do Coldplay. Misturando tudo lançado anteriormente, o álbum deixou um pouco de fora a sonoridade eletrônica e deixou o rock alternativo ficar mais evidente nas faixas. De qualquer maneira, o lançamento se enquadra mais no pop do que em qualquer outro gênero.
Quantas influências para serem lançadas em 10 anos, hein!
Paramore – de Riot! (2007) até After Laughter (2017)
Mais um importante nome para o pop punk dos anos 2000, o grupo Paramore mereceu o topo da nossa lista!
A banda se projetou mundialmente com a repercussão de Riot!, disco muito consistente que conta com as ótimas “Misery Business“, “crushcrushcrush” e “That’s What You Get“, entre outras. O sucesso alcançado não foi problema para os lançamentos seguintes, em que a banda já estava consolidada na cena e se o disco Brand New Eyes (2009) partiu da base deixada pelo anterior e consolidou a sonoridade da banda, Paramore (2013) já mostrou que as experimentações estavam vindo por aí.
A partir desse álbum o grupo da vocalista Hayley Williams foi incorporando, discretamente, elementos de new wave e synth-pop, que acabariam ficando explícitos em After Laughter. O álbum, lançado em 2017, apresentou um Paramore bastante diferente, e definitivamente isso não é algo negativo.
Essa nova versão do grupo, que aposta em uma sonoridade mais dançante, foi responsável por um dos melhores lançamentos daquele ano. A questão é: se eles mantivessem o mesmo tipo de som dos álbuns anteriores, será que a recepção seria tão positiva assim?
E aí? Quais outros grupos mudaram bastante em uma década? Deixem suas sugestões nos comentários!