Se tem um aspecto da banda britânica Bring Me The Horizon que sempre me chamou a atenção é como eles não mostram a mínima vontade de se prender a estilos, rótulos e fórmulas que já estão dando certo.
Se às vezes os membros do grupo podem parecer até arrogantes ao navegarem por diferentes águas com forte convicção, sem se importar com as opiniões de críticos e fãs, fica claro que se prender não é a praia dos caras não.
Lá atrás, em 2004, o grupo começou fazendo o pesadíssimo deathcore, como o disco de estreia Count Your Blessings (2006) bem mostra, e daí pra frente os horizontes (desculpem o trocadilho) só se expandiram para Oli Sykes e sua trupe.
Entre 2010 e 2013 o BMTH lançou uma dupla de discos que marcou sua carreira, com There Is a Hell, Believe Me I’ve Seen It. There Is a Heaven, Let’s Keep It a Secret. mostrando a então “nova” sonoridade da banda e Sempiternal, a consolidando com um álbum que se tornou favorito dos fãs e uma verdadeira mostra do que ela poderia apresentar de melhor com a mistura de post-hardcore, rock alternativo e música eletrônica.
Acontece que, como tornou-se comum, em 2015 veio That’s The Spirit e um flerte fortíssimo com a música pop, em um ótimo álbum que estabeleceu as bases para o que ouvimos hoje, quatro anos depois, em amo, sexto disco de estúdio da carreira da banda de Sheffield.
Amo
amo tem uma forte carga conceitual, já que Sykes o batizou em Português como a conjugação do verbo “amar” tanto porque está casado com a modelo brasileira Alissa Salls, quanto porque gostou da pronúncia “emo”, que canta em “mother tongue” e se assemelha com “ammo”, que significa “munição” em Inglês.
A artilharia do Bring Me The Horizon em amo é variada, e a introdução com “i apologise if you feel something” já mostra que a música eletrônica, os efeitos nos vocais e as letras confessionais estão em evidência:
Eu peço desculpas se você sentir algo
Mas amor é tudo que temos, sentir algo (eu sei)
Ou se eu roubar algo, por favor, lembre-se de que era meu
Realmente algo
A explosiva “Mantra” dá então as caras e é um dos tantos pontos em que o Bring Me The Horizon lembra seus lançamentos anteriores, com grandes riffs de guitarra e vocais que alternam entre a calma e a tempestade.
Outros momentos parecidos se dão em sons como a ótima “sugar honey ice & tea”, “heavy metal” e “wonderful life”, que tem a curiosa, marcante e certeira participação de Dani Filth, vocalista da banda inglesa de metal extremo Cradle Of Filth.
Acontece que entre essas faixas há uma extensa paleta de cores exploradas pela banda e elas vão do pop (como “medicine”, e “in the dark”, com suas guitarras inofensivas) até as experimentações eletrônicas em que as coisas ficam obscuras e realmente interessantes, como em “nihilist blues” com a talentosa e inventiva Grimes, a vinheta “ouch”, “why you gotta kick when i’m down?” e “fresh bruises”.
As batidas eletrônicas aliadas a elementos orgânicos mostram que a banda percebeu a sonoridade ao seu redor e resolveu abraçar sua arte mandando, mais uma vez, a clara mensagem de que cada nova fase do Bring Me The Horizon será uma grande aventura.
Aventura como amo, que após tantos direcionamentos e curvas chega até “i don’t know what to say”, épica última faixa que começa com cordas, tem quase seis minutos de duração e encerra o relato moderno sobre amor em estilo grandioso, com um quê de ópera-rock.
O Bring Me The Horizon é um grupo que soube, como poucos, jogar bem com a fama e a indústria da música. Quando suas canções fizeram sucesso e a fórmula deu certo, entenderam perfeitamente que ela tinha dada de validade, e a subverteram antes dela chegar ao fim. Mais de uma vez.
Amo estampa a liberdade criativa total de um grupo sem amarras que mapeou a sua guinada no disco anterior e agora se entregou de corpo e alma ao mundo sem medo de ser feliz. Golaço.