Entrevista: White Lies e a solidez do seu novo disco, "Five"

Melancolia e solidez: os britânicos da White Lies celebram uma década com o quinto disco e nos dão detalhes sobre "Five". Leia entrevista exclusiva!

White Lies
Foto: Divulgação

Com seu novo disco pronto pra sair do forno, a banda britânica White Lies parece estar mais segura do que nunca.

Ao completar uma década desde o primeiro disco, To Lose My Lifeo quinto disco da banda, intitulado Five, é um reflexo de como ela tem seguido no decorrer dessa trajetória. Madura, concisa e audaz são características que podem resumir tudo muito bem.

Publicidade
Publicidade

As oito canções do disco são uma potência atrás da outra. O sentimento singular de melancolia ao ouvir White Lies toma um segundo plano ao dar espaço para letras mais inspiradoras, melodias triunfantes e progressivas.

Em uma entrevista exclusiva para o TMDQA!, o vocalista da banda, Harry McVeigh, nos trouxe detalhes mais sórdidos sobre Five, que será lançado nessa sexta (1).

Logo abaixo da entrevista, você pode conferir a tracklist do álbum e a arte da capa. Divirta-se!

TMDQA!: Oi, Harry! Obrigada pelo seu tempo. Vamos falar a princípio sobre o novo disco, Five. Pelos singles que já foram lançados e pela sonoridade até bastante madura em comparação aos singles dos outros discos, como esperam que o público possa responder ao álbum?

Harry: Eu me sinto bem com esse álbum! Acho que é um bom disco. Gastamos muito tempo e esforço para escrever algo que achamos que foi um passo a mais. Algo que seria melhor do que as coisas que fizemos antes. E sinto que éramos muito ambiciosos. Nós exploramos as coisas musicalmente neste álbum que realmente não procuramos antes. Até coisas simples: há algumas músicas com violão nelas, como em “Finish Line”. E eu acho que as pessoas podem esperar ouvir um pouco mais disso.

TMDQA!: Nesses últimos singles até dá para perceber uma energia diferente, uma sonoridade mais bem explorada. Pode-se dizer que esse foi o mais intenso de ter composto?

Harry: Sim, com certeza. Existem algumas músicas em que tentamos fazer coisas diferentes das que as pessoas podem esperar do White Lies. Há alguns momentos neste álbum que também sentimos um pouco de “apostas arriscadas”, suponho. Como “Time to Give”, o primeiro single. Nós pensamos que era um risco porque é muito diferente, uma música muito incomum. Não é como uma música pop convencional – tem sete minutos e meio de duração. É como se a música fosse e voltasse, bastante fluida. Então ficamos nervosos antes de colocarmos isso no mundo e antes de recebermos uma resposta de nossos fãs. Mas ficamos muito contentes que as pessoas gostaram tanto e que a música está sendo recebida tão bem em todo o mundo. Então acho que estamos esperançosos para o álbum, porque se as pessoas curtirem [essa música], sentiremos que as pessoas vão curtir muito mais o álbum. Há um momento como esse no álbum… momentos estranhos, suponho! Que é algo que estamos muito felizes e animados.

TMDQA!: Falando sobre os outros discos, é fácil perceber a melancolia que a banda carrega em algumas melodias e até mesmo nas letras. Isso é algo intrínseco em vocês?

Harry: Nossas músicas vêm de todas as nossas experiências pessoais e acho que é assim com todos os compositores… todos os artistas, na verdade. Você pode realmente gostar do que sabe e do que acha que é bom, suponho. E liricamente, acho que o Charles [Cave], nosso baixista e compositor, escreveu nos discos sobre o que sempre aprendeu, na verdade. É basicamente sua percepção do mundo, como o mundo faz você se sentir e como você lida com isso.

E quanto a escrever sobre a melancolia, é algo que sempre faz parte da nossa música, porque às vezes a vida é difícil e complicada. E em diversos momentos, você se desespera com o que está acontecendo, com coisas que geralmente estão fora de controle. E é muito difícil entender quando as coisas ruins estão acontecendo com você, mesmo quando está fazendo o certo, e é uma boa pessoa, é inevitável, é como a vida acontece. E o Charles expressa isso muito bem.

TMDQA!: Isso também pode se refletir no Five?

Harry: Em alguns pontos, sim. Até porque, ao longo dos anos, nos tornamos bons músicos. Nós estamos há 10 anos fazendo música juntos, então é bem claro o quanto melhoramos. Aprendemos bastante sobre como escrever canções, como nos expressar mais cuidadosamente. E acho que em Five o Charles se tornou um compositor melhor, as letras estão mais claras, simples e puras. E isso definitivamente é algo que queríamos para esse disco.

TMDQA!: Desde o começo eu vejo que há um preocupação estética com a capa dos singles e dos discos, e dessa vez com o Five não é diferente, com a ideia de acessibilidade às pessoas com necessidades visuais. Como surgiu essa ideia de trazer os nomes em Braille?

Harry: Foi só questão de tempo, já estávamos trabalhando nisso, procurando ideias e aprendendo coisas diferentes. Acabamos por decidir em algo que pudesse focar no design gráfico, sem animações digitais ou pinturas. Também pesquisamos muito como funciona a indústria da música, da capa dos discos e queríamos algo simples, como o design gráfico de bandas como New Order ou Joy Division. E o Charles meio que encontrou isso no braille. Ele encontrou esse ponto e algumas fontes destinadas para pessoas que não podiam ver, e entendemos como as letras funcionavam. Por fim, adoramos a estética e o resultado disso e como se encaixou tão bem. Recentemente, nós lançamos um caderno para pessoas cegas com as letras em braille e é incrível. Não é tão complicado. A princípio pensamos que tinha algum mistério, mas visualmente ficou interessante e útil. Não tem nenhum significado profundo acerca disso, só encaixou com o que estávamos buscando em Five e também carrega muito bem a variedade de cores, que inclusive ficaram ótimas nos serviços de streaming. E no disco físico também será a mesma coisa, assim como nos singles, terá braile na capa e com cores bonitas, basicamente.

TMDQA!: Falando sobre os clipes de “Believe it” e “Tokyo”, com a direção de David Pablos, a gente percebe que há uma autoconfiança enorme neste trabalho, uma impulsão de limites que estende o som de vocês para novos e divertidos territórios, como no México. Quanto à parceria com o Pablos, o que podemos esperar mais?

Harry: Então, a princípio estamos explorando a proposta dos dois clipes. A parceria com o David, que foi nascido e criado em Tijuana, no México, nos deu essa liberdade pra entender aquele local. Já tínhamos feito o clipe de “Take it out on me” com ele, e na época eu achei que foi uma das experiências mais incríveis da minha vida. Mas viajar para Tijuana foi algo tão diferente do que estávamos acostumados. Foi um dos lugares mais intensos em que já estivemos, é um povo diferente com vidas e experiências completamente opostas às nossas. O conhecimento dele sobre a região nos deu acesso a alguns dos mais incríveis e bizarros lugares de lá, que nos ajudaram na criação de histórias de amor e de perda. Conseguimos absorver a loucura e a beleza também, com coisas interessantes para ver e filmar.

TMDQA!: Vocês pretendem explorar esses temas universais abordados nos clipes em outros países, tipo o Brasil?

Harry: Nos adoraríamos! Tenho certeza que há lugares tão interessantes no Brasil quanto em Tijuana, e esperamos encontrar um bom diretor daí que possa nos levar em um lugar excelente para filmar, até porque faz muito tempo que não tocamos aí. Mas para nós, como uma banda, é até complicado, já que precisamos levar a equipe e isso custa muito dinheiro. Então precisamos continuar trabalhando e encontrar algum modo de chegar aí, porque seria ótimo, já que temos muitos fãs por aí no Brasil.

TMDQA!: Inclusive, isso pode parecer uma cobrança da minha parte, confesso, mas pelo fato de que faz quase 8 anos desde o último show de vocês por aqui, espero que venham logo para trazer a turnê do Five no Brasil!

Harry: Pois é, faz muito tempo, e tem sido um desafio pra nós, já que não somos a maior banda do mundo, não tocamos em estádios, só em shows normais mesmo. E é uma questão financeira mesmo, ainda continua sendo difícil ir ao Brasil, mas ainda torço que em breve estaremos em algum festival aí ou coisa do tipo, isso seria incrível para nós. Espero que seja em breve, para que possamos mostrar esse disco pra vocês. Estamos trabalhando nisso!

TMDQA!: E para finalizar, temos a tradição de perguntar aos artistas sobre o nome do site. Então, aqui vai: vocês têm mais discos que amigos?

Harry: Sim, com certeza! Eu acho que não comprei nenhum disco recentemente, já que escuto bastante pelo Spotify, ainda mais por ter acesso a todos os discos do mundo. É um recurso incrível, eu me sinto sortudo por ter isso. Eu posso pegar meu celular ou meu computador e poder ouvir a música que quiser. E faço isso todos os dias, eu amo!

Mas eu não compro muitos discos, tenho comprado vinil. Tem uma loja excelente em São Francisco chamada Amoeba Records, e lá tem tudo, é como se fosse um armazém gigante só de discos. Eu costumava ir lá e comprar alguns discos que amo e agora escuto todos no Spotify. E acho que esse é o ideal, o futuro de como as pessoas vão consumir música: ouvindo as músicas em stream, e quando realmente amam algo, elas compram os discos de vinil, porque é exatamente o que eu faço. Então, sim. Definitivamente tenho mais discos que amigos, e acho que só vai aumentar!

 

Five será disponibilizado em uma edição limitada de vinil, CD e digitalmente pela [PIAS] Recordings. Para salvar as músicas de Five é só clicar aqui. Confira a tracklist e a capa:

01.  “Time to Give”
02.  “Never Alone”
03.  “Finish Line”
04.  “Kick Me”
05.  “Tokyo”
06.  “Jo?”
07.  “Denial”
08.  “Believe It”
09.  “Fire and Romance”

Sair da versão mobile