Foto: Juarez Ventura / Divulgação
Samico é um artista que, além de ter começado cedo na música por conta da família, também tem um currículo invejável com os trabalhos que desenvolveu nos últimos anos.
Iniciando os trabalhos aos 12 anos de idade, tocou baixo na Play Damião junto com o irmão Rodrigo Samico e de Felipe S., Chiquinho Moreira e Marcelo Machado, adolescentes que anos depois formariam a banda Mombojó.
Vinte anos depois ele já liderou mais de vinte projetos musicais e atua tanto nos palcos quanto em produções no cinema e na publicidade.
Com vasta bagagem e atualmente nos projetos Marsa, Jam da Silva e Lula Queiroga, Samico decidiu embarcar em carreira solo e seu primeiro disco será lançado em 2019, com o primeiro single, “Sereia”, fazendo sua estreia hoje (01) nas plataformas digitais.
Aqui no TMDQA! a gente tem o prazer de promover a estreia exclusiva do belíssimo clipe que o artista gravou para a canção e logo abaixo você pode ver como ele traduziu em imagens a ideia de quebrar barreiras e superar obstáculos através da leveza:
As minhas músicas remetem a um lugar terapêutico: de conforto, de acalmar. Falam sobre olhar pra dentro de si e perceber que a melhor escuta é de olhos fechados.
Samico ainda revelou que as canções têm muita influência do período em que esteve em Luanda, Angola, e segundo o próprio seu trabalho “traz na poesia e melodia o pertencimento a um estado comum de existência: a contemplação.”
O disco foi produzido em parceria com compositores e poetas pernambucanos da nova geração e tem previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2019.
Logo abaixo você pode dar uma sacada no papo que batemos com o cara, ouvir “Sereia” na playlist oficial do TMDQA! e, claro, assistir a esse clipão.
Divirta-se!
TMDQA!: Cantor, compositor, produtor, multi-instrumentista e muito mais: sua carreira de duas décadas nos palcos e bastidores da música brasileira é extremamente prolífica. 20 anos depois o que te motivou a finalmente lançar um álbum solo?
Samico: Esse voo solo é, na verdade, desejo antigo. Sempre adorei trabalhar em coletivo e, nesse disco, apesar de solo, tem muita gente envolvida. Mas o íntimo do trabalho é mesmo solitário e acredito que já era hora de me encontrar comigo mesmo nesse deserto. A estrada que percorri até agora foi o caminho necessário pra sentir o chão firme, criar raízes e voar cantando minhas luzes e colocando pra fora minhas sombras.
TMDQA!: Entre tantos nomes com os quais você trabalhou na música, quais entende que mais te ajudaram a moldar o som que você apresenta aqui no primeiro disco solo?
Samico: Difícil dizer, acabaria esquecendo muita gente que me ajudou desde que decidi gravar o disco! Minha maior escola e inspiração sempre veio da família, meu irmão Rodrigo e meu pai Júlio. E, para esse novo projeto, recebi os melhores conselhos do meu diretor musical Carlinhos Borges, tive o suporte incrível de grandes parceiros com os quais venho tecendo muita arte junto. Pra não deixar de citar alguns, acredito que Jam da Silva foi presença fundamental, com toda sua espiritualidade musical e sensibilidade. Barro é também um parceiro de longas datas e sempre que eu chegava em dúvidas fundamentais, ele conseguia me mostrar um caminho.
TMDQA!: “Sereia”, primeiro single do álbum, ganhou um clipe belíssimo para ser divulgado pelo mundo. Como surgiu a ideia de roteiro e como foi a execução final do vídeo?
Samico: O clipe foi, na verdade, concebido sem roteiro prévio. A ideia foi “deixar fluir”. A única coisa preestabelecida foi a locação. Vila-Velha, em Itamaracá – Pernambuco. Ilha abençoada que temos a poucos minutos de Recife. Fizemos alguns encontros, eu e o diretor do filme Tágory Nascimento. Encontros sempre cheios de boas vibrações e muitas ideias criativas, mas sentíamos que o lugar é quem ia nos guiar. Preferimos então não roteirizar para deixar o clipe ser livre. Fomos ao lugar poucos dias antes da filmagem, estabelecemos quem seriam nossa equipe técnica e artística e partimos pra filmagem! Tivemos a sorte de sermos muito bem recebidos na ilha, com o apoio local de Abelardo Santana e profissionais super competentes. Passamos então quase 24h imersos e o resultado tem muito a ver com o espírito do dia que vivemos. Alto astral e introspecção. Hipnose de lua cheia num lugar paradisíaco repleto de bons amigos.
TMDQA!: Como você entende que essa canção representa o resto do disco e como vê que ela passa a mensagem que você imaginou, traçando um paralelo entre Brasil e Angola, nesse disco solo?
Samico: Sereia surgiu de um sonho que tive certa vez. Ao longo do processo ela me contou que seria a primeira a aparecer. Não é que ela represente o todo, é que ela tem o dom de hipnotizar mesmo (risos). Não temos o controle de tudo, às vezes é uma questão de estar preparado e atento aos sinais. Ou, simplesmente se deixar levar pelo caminho que está na tua frente.
O paralelo entre Brasil e África está imerso na sonoridade do disco, entre os ritmos percussivos e as melodias pentatônicas, além disso corre nas minhas veias. Morei algum tempo em Angola e foi uma fonte muito rica de sons e sotaques que permeiam tudo que faço desde então.
TMDQA!: Você já disse em outras ocasiões que as suas músicas levam “a um lugar terapêutico, de conforto”. Estamos vivendo em uma das piores fases recentes da humanidade e a música tem várias funções para que a gente consiga atravessá-la, tanto no viés político, de denunciar através da arte, quanto justamente o de tentar deixar o dia-a-dia menos difícil para os ouvintes. Como você vê a sua arte e a sua música nesse sentido, em tempos de caos?
Samico: Certa vez, também em Angola, conheci a figura dos 3 macacos sábios. Tapando os olhos, boca e ouvidos, como forma de filtro pessoal. Assim, podemos pensar melhor no que dizer, ver e ouvir. Vivemos uma grande deformação mundial, em que o homem destrói o que tem de mais precioso e dá valor ao que é mais banal. E com tantas “info-toxinas”, na minha música, minha arma, uso as forças que tenho pra trazer ao ouvinte uma oportunidade de alcançar o respirar de olhos fechados. Com as palavras, busco as mais leves, pra que em estado de mantra, possamos refletir sobre tudo que realmente vale a pena.
TMDQA!: Como você descreveria a sua música para alguém que nunca ouviu seus sons?
Samico: Normalmente não costumo rotular o que faço, gosto de deixar no ar e sempre sugiro que escutem e depois me mandem suas próprias descrições e sensações. Talvez, pra cada pessoa eu termine dizendo algo diferente, são tantas as fontes nas quais eu bebi e bebo. No final, a mistura é um pedaço de mim que ficou impresso, nada mais. Assim, termino também me surpreendendo com as prateleiras que vão me colocar por aí.
TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
Samico: Disparadamente. E digo mais, alguns discos valem mais do que certos amigos…