Entrevistas

James Blake: “As pessoas se surpreendem com um álbum sobre o amor"

Um dos artistas mais criativos dos últimos anos, James Blake fala com o TMDQA! sobre música, seu processo criativo, saúde mental e masculinidade tóxica.

James Blake e Travis Scott
Foto: Reprodução/YouTube

De um artista promissor do indie eletrônico até um dos mais laureados produtores da atualidade, James Blake é um dos nomes mais incensados dos últimos anos. E não só graças às colaborações com artistas como Beyoncé, Jay-Z, Kendrick Lamar e Travis Scott, mas por álbuns como o sensacional Assume Form, lançado mês passado.

Trazendo publicamente temas como a importância do amor e da saúde mental, Blake se mostrou como um artista maduro e com uma visão de mundo muito clara nos poucos minutos que trocamos ideias recentemente por telefone.

Confira nosso papo abaixo e ouça o novo álbum:

TMDQA: Oi, James! Obrigado por tirar um tempo para falar conosco.

James Blake: Eu que agradeço!

TMDQA: Acompanho seu trabalho desde os primeiros singles e uma das coisas que mais se destacam nesse novo álbum é que meio que resume tudo que tem de mais interessante no seu trabalho: o experimental, o trabalho de produtor, o pop… e as colaborações! Muita gente está descobrindo seu trabalho pelas colaborações que você tem feito com grandes artistas nos últimos anos. Elas mudaram o modo como você cria?

James Blake: Antes de tudo, obrigado pelo carinho! E sim, mudou. Engraçado que andaram me perguntando isso nesses últimos dias e foi algo sobre o que andei refletindo… Meu modo de composição mudou bastante, sabe? Antes eu trabalhava pensando especialmente na minha voz, nas coisas que queria dizer. Agora eu já penso “ah, vou fazer uma música com o Frank (Ocean), ele tem um estilo, um tipo de voz”, então eu pego um microfone e tento improvisar mais pensando na sonoridade da voz e do artista para depois pensar em letras.

TMDQA: Eu li muitas resenhas do seu álbum que o classificavam como um disco romântico, sobre o amor. Em tempos de ódio, como você mantém essa chama de esperança e amor acesa?

James Blake: Cara, é difícil! (Risos) Mas acho que é importante falarmos de amor pois… amar é complexo, amor é completo. Acho que as pessoas se surpreendem com um álbum sobre o amor por que ainda não entendemos o que é o amor. E nem falo só de relacionamentos, mas de amor próprio também.

TMDQA: Levantando esse assunto… Como um cara que luta pra manter a saúde mental em dia, me emocionei bastante com a carta que você publicou no ano passado. Saúde mental para homens é um tabu aqui no Brasil e em vários lugares da América Latina. Para você, não só como artista mas como pessoa pública, qual é a importância de se posicionar desse modo?

James Blake: Foi importante demais. A minha forma de lidar com a depressão foi de colocar para fora, de falar e não me sabotar ou esconder o que sentia. Isso era algo que eu fazia e essa carta foi um dos modos de lidar com isso. Porque eu realmente me sentia alvo de bullying, de certo modo. E quando eu falei eu me senti… poderoso. Me senti em controle da história e isso foi maravilhoso.

E para nós, homens, é importante demais discutir nossas emoções. Crescemos com uma imagem de masculinidade horrível, que temos que guardar as sensações e não sentir as dores da vida pois isso te faria fraco. Olha, ter sua mente em dia é o primeiro passo para fazer os homens melhores.

TMDQA: Você esteve aqui no Brasil uns anos atrás. Você tem alguma lembrança daqui? Planeja voltar com essa nova turnê?

James Blake: Sim! Até porque tenho lembranças bem claras e bem distintas daí. Tem um lado ruim que eu senti que não fiz o meu melhor, que não foi a melhor apresentação que podia entregar e isso me incomodou bastante… E o bom é que lembro de ir num bar no Rio, que era algo até meio turístico, com uma banda tocando. E tinha uns 5 caras na percussão que estavam incríveis. Eu estava hipnotizado demais. Saí de lá pensando “nossa, eu tenho que ensaiar muito mais” (Risos).

TMDQA: Para fechar, você tem algum disco que você leva como amigo?

James Blake: Nossa, essa é uma pergunta muito difícil. Eu tenho muitos e varia bastante. Um segundinho aqui que vou abrir minha playlist do que andei ouvindo… (passam alguns segundos de sons de celular ao fundo) Sim! Esse! Love is Overtaking Me, do Arthur Russell. Um dos meus favoritos. Volto sempre pra ele.