Música

25 anos de "Da Lama Ao Caos": confira 6 covers deste clássico do Nação Zumbi

Em homenagem ao legado de Chico Science e da Nação Zumbi para a música nacional, vários artistas regravaram faixas do icônico disco de estreia do grupo.

Capa de "Da Lama Ao Caos", da Nação Zumbi
Foto: Divulgação

Os anos 90 contemplaram uma tremenda mudança na música brasileira. O crescimento da força de gêneros como o axé e o pagode mudaram a nossa música popular. Mas o underground também trouxe uma surpresa maravilhosa vinda do estado de Pernambuco, que viria a mudar para sempre a nossa música: o movimento manguebeat.

Bebendo da mesma antropofágica fonte da Tropicália, o novo gênero misturava elementos do rock, da música eletrônica e do hip-hop com a regionalidade do maracatu.

O principal nome do movimento, e responsável pela fama que o manguebeat alcançou logo em sua primeira leva, foi o grupo Chico Science e Nação Zumbi. A genialidade das composições passaram a influenciar os mais diversos artistas desde então.

O ano de 2019 marca o aniversário de 25 anos do icônico álbum de estreia Da Lama Ao Caos. Para evidenciar a força deste disco, separamos algumas covers de faixas desse álbum, feitas pelos mais diversos artistas, que vão do axé ao heavy metal.

Confira!

“A Praieira” (Daniela Mercury)

O axé foi o outro grande movimento musical nordestino da década de 90. Surgido durante manifestações populares do Carnaval da cidade de Salvador, o gênero tem em Daniela Mercury um de seus mais emblemáticos nomes.

Contemporânea à estreia da Nação Zumbi, Daniela sempre se mostrou muito fã do revolucionário manguebeat. Isso ficou claro em sua cover da faixa “A Praieira“, que entrou, junto a outras covers de artistas nordestinos, no álbum Sou de Qualquer Lugar, o sexto da cantora.

É interessante reparar em como o manguebeat e o axé conversam quando se trata de percussão. A energia da cover ficou tão evidente quanto a da original. Deu tão certo que a canção foi incorporada posteriormente em várias setlists de Daniela.

“A Cidade” (Mundo Livre S/A)

Não foi só a Nação que conquistou os ouvidos do público na época inicial do manguebeat. Outro grupo que fez (e ainda faz) bastante barulho é o Mundo Livre S/A.

Por sinal, as bandas, ambas originadas na cidade de Recife, eram bastante próximas. A parceria levou ao álbum conjunto Mundo Livre S/A VS Nação Zumbi, lançado em 2013. O disco contém músicas da Nação repaginadas pela Mundo Livre, e vice-versa.

O disco abre com uma ótima releitura de “A Cidade“, uma das mais famosas faixas do Da Lama Aos Caos. É interessante notar, na cover, as influências mais explícitas no hip-hop.

A Mundo Livre também fez ótimas versões de mais três faixas do disco de estreia da Nação: “A Praieira“, “Samba Makossa” e “Rios, Pontes & Overdrives“.

“Computadores Fazem Arte” (Elza Soares)

Artista bom de verdade é aquele que consegue fazer uma música boa com apenas seis versos. É o caso da crítica e sempre atual “Computadores Fazem Arte“, também do disco de estreia da Nação Zumbi. Na versão original, a percussão, a guitarra ritmada e a icônica linha de baixo nos mergulham em uma letra facilmente decorável.

Em 2004, a sempre icônica Elza Soares gravou uma nova versão da música, para seu álbum Vivo Feliz. Podemos dizer que ela foi além na proposta de imersão da música, ao alongar sua duração para quase oito minutos. Já flertando com novas vertentes musicais, a “viagem” de Elza contém art rock, eletrônica e até reggae. A cover também tem direito aos épicos gritos da cantora e a um solo de metais.

“De Lama Ao Caos” (Sepultura)

Nem artistas de heavy metal conseguem esconder a admiração pelas composições de Chico Science. Isso porque o Sepultura fez uma (baita) releitura interessante para a música-título do álbum. Em 2013, a banda regravou “Da Lama Ao Caos“, que entrou como faixa final do álbum The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart.

A princípio uma mistura improvável, o manguebeat e o heavy metal casaram muito bem na cover. Com direito a guitarras frenéticas e distorcidas (com solo inclusive), a versão traduziu tão bem quanto a original a desconfortável situação descrita na letra.

A homenagem foi gravada na voz do guitarrista brasileiro Andreas Kisser. É a única do álbum não cantada pelo vocalista norte-americano Derrick Green, que ficou responsável pela percussão da cover.

“Risoflora” (Elba Ramalho)

Também pertence ao Da Lama Ao Caos a faixa “Risoflora“, que narra uma bela história de amor entre um pescador e uma lavadeira. Na narrativa do álbum, a canção representa uma pausa nas denúncias sociais, mas ainda usa como pano de fundo a realidade dos mangues nordestinos. Aliás, os personagens principais são representados por elementos recorrentes no mangue: um caranguejo e uma rhizophora (árvore típica da região).

A bela história foi contada novamente em 2015, pela paraibana Elba Ramalho. A nova versão da faixa veio como parte do álbum de covers Do Meu Olhar Pra Fora. No disco, Elba se arriscou novamente ao sair de sua zona de conforto musical para explorar sonoridades mais pop e contemporâneas.

A releitura tem uma pegada mais “dark” e experimental em relação à versão da Nação. No início da gravação, a cantora achou que não seria capaz de regravar a faixa, pois achava que não tinha nada a ver com ela.

No final das contas, o resultado ficou tão bom quanto a original!

“Samba Makossa” / “Monólogo ao Pé do Ouvido” (Charlie Brown Jr. e Marcelo D2)

O Acústico MTV do Charlie Brown Jr. certamente foi um dos melhores investimentos do programa. Isso porque rendeu excelentes versões pras canções ska punk/rap rock da banda. No entanto, uma das gravações de melhor repercussão do episódio sequer foi de uma faixa do CBJr.

O show rendeu uma versão incrível da faixa “Samba Makossa“, um dos singles do álbum de estreia da Nação. Na releitura, o manguebeat deu espaço a uma versão acústica, e isso ajudou a letra, cantada em parceria entre Chorão e Marcelo D2, a ganhar mais clareza.

O resultado ficou empolgante, descontraído e muito bem executado pela banda. Vale destacar os impressionantes solos de gaita e base totalmente inédita.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Chorão justificou a escolha da música, que também é presença constante nas setlists dos shows do Planet Hemp, banda de D2:

Eu queria fazer uma homenagem ao Chico Science e ao Marcelo D2. D2 é um cara que eu queria que participasse, então eu uni essas duas coisas. Eu consegui fazer uma homenagem ao Chico com ‘Samba Makossa’, que a gente usou a letra, mas criou uma base nossa, e chamamos o D2 para cantar junto. Ele já tinha gravado essa música e ele gosta muito do Chico.

A ponte da nova versão, na voz de D2, conta com a letra de “Monólogo Ao Pé do Ouvido“, introdução do Da Lama Ao Caos. Na versão original, são citados Zapata, Sandino, Antônio Conselheiro, Zumbi dos Palmares e os Panteras Negras. Nessa releitura, a dupla adiciona ainda o rapper paulista Sabotage e, é claro, o mestre Chico Science.