Taking Back Sunday fez uma volta ao tempo coletiva durante show em SP

O Taking Back Sunday tocou seu disco de estreia do começo ao fim e entregou show intenso e divertido para fãs paulistas na noite do último domingo (17).

Foto: Drico Galdino
Foto: Drico Galdino

Já faziam 7 anos desde a primeira experiência do Taking Back Sunday na capital paulistana.

No já distante ano de 2012, o quinteto de Nova Jersey veio à maior cidade da América do Sul para tocar clássicos do seu repertório e promover o então recém-lançado disco homônimo para uma plateia tímida em uma casa de shows em grande parte, vazia.

O cenário mudou um pouco de lá pra cá. A banda lançou mais dois bons discos pelo selo Hopeless Records (Hapiness Is Tidal Wave), sofreram mais uma baixa com a saída definitiva do guitarrista e fundador Eddie Reyes (substituído por Nathan Cogan durante apresentações ao vivo) e agora celebram duas décadas de carreira com a coletânea TwentyO vocalista Adam Lazzara inclusive falou conosco recentemente de forma bastante nostálgica sobre os melhores momentos da jornada do Taking Back Sunday até o presente.

E parece que o aniversário marcante da banda acabou acendendo uma fagulha de interesse nos fãs paulistanos, que ao contrário do que aconteceu em 2012, compareceram em número volumoso o suficiente para encher (porém sem esgotar) o Fabrique Club no bairro da Barra Funda na noite do último domingo (19).

Raça

Foto: Drico Galdino

A noite começou com um leve atraso da banda local Raça, que humildemente subiu ao palco para apresentar os sons da sua ainda recente discografia. Os músicos Popoto (Voz/Guitarra), Tamashiro (Guitarra), Novato (Voz/Baixo) e Thiago (Bateria) abriram o show com a boa faixa “Quente”, introspectiva e climática, perfeita para apresentar o que é o show da banda para uma audiência inédita.

O som da banda ao longo da apresentação se mostrou um pouco embolado e sem muita definição, o que acaba sendo a regra para a maioria das bandas de abertura geralmente, tornando difícil compreender o que o vocalista Popoto cantava em várias músicas. Os acordes menores e o clima introspectivo das canções lembrou muito referências internacionais que já ocuparam aquele mesmo palco do Fabrique em outras ocasiões, como Citizen Title Fight, mas sem atingir a mesma intensidade ou entrosamento.

Em certo momento do show o baixista Novato assumiu os vocais para a canção “Pálida”, uma música mais rápida e intensa, trazendo uma alternância bem vinda de dicção que facilitou a compreensão do que estava sendo cantado.

Foto: Drico Galdino

Em certo momento do show, o vocalista Popoto declarou a sua paixão adolescente pelos anfitriões da noite, que chegaram ao clube durante o set do Raça, atravessando a pista de forma quase anônima em direção ao camarim.

O show dos artistas do selo Balaclava Records apresentou canções dos seus dois discos de estúdio, Saboroso (2016) e Deu Branco (2014) e introduziu novos singles, encerrando com a interessante “Garras”, que deixou o verso “não tem erro não, se eles me entendem, por que você não?” na minha cabeça por um bom tempo.

O Raça se prepara atualmente para o lançamento do seu terceiro disco, Saúdee acabaram de lançar um novo single desse trabalho, intitulado “Notas e Noias”  .

Taking Back Sunday

Foto: Drico Galdino

A atração principal da noite subiu ao palco um pouco depois das 20h sobre os gritos de uma plateia madura (o meu chutômetro imagina que os presentes estivessem entre os seus 20 e 30 e poucos anos) o suficiente para relembrar as letras do disco de estreia do Taking Back Sunday, Tell All Your Friendslançado em 2002.

Esse era um dos grandes atrativos dessa segunda passagem do grupo liderado por Adam Lazzara na América do Sul: o quinteto pegou carona na moda de tocar discos marcantes de suas carreiras que estão comemorando a marca de 10 anos de vida (ou 17, no caso) na íntegra e mandaram o Tell All Your Friends do começo ao fim para delírio dos presentes, que conseguiram cantar músicas como “You Know How I Do” (a música de abertura do show) “Cute Without The ‘E’ (Cut From The Team)”, “Timberwolves at New Jersey” e “You’re So Last Summer” a plenos pulmões como se estivessem de volta ao ínicio dos anos 2000 por uma noite.

Isso certamente alegrou a banda, que sorria de orelha a orelha e previa em voz alta que aquela seria uma noite “muito divertida”.

Como já é de praxe em muitos dos shows do gênero no Fabrique, a casa não tinha uma barreira ou seguranças dividindo plateia e palco, o que felizmente (para alguns) significa que existe uma certa liberdade para que os fãs subam ao palco e pulem de volta para moshes por cima da plateia, nada mais natural e esperado do que isso.

Esse foi mais uma vez o caso durante o set do Taking Back Sunday, que viu uma série incontável de fãs felizes (e levemente alcoolizados) subirem e descerem do palco ao longo das 2h de show, surrupiando palhetas (o guitarrista John Nolan disse que deu mais palhetas nessa noite do que em 1 ano inteiro de turnê), tirando selfies e pegando o microfone do Adam emprestado para cantar um refrão (ou dois, ou a música inteira) em um verdadeiro “karaokê ao vivo” com a banda.

Foto: Drico Galdino

Os “invasores” pareciam divertir a banda e principalmente Lazzara, que ria e já entregava o seu microfone quase que instantaneamente quando alguém subia ao palco, mas irritaram a plateia após um grupo em específico ficar por mais tempo do que devia tirando selfies com a banda, cantando músicas quase que inteiras no microfone, basicamente transformando o show em sua festa particular. Em certo momento a plateia começou a vaiar uma fã que simplesmente parecia não entender que a sua presença naquele espaço não era a razão pela qual as centenas de outras pessoas presentes haviam pago o valor do ingresso. Após um membro da equipe removê-la dali, os aplausos e gritos foram sinais unânimes do descontentamento dos presentes com a folga generalizada.

Mas para toda situação há exceções, e certamente esse foi o caso para um fã chamado Thiago Pimentel, que subiu ao palco, tomou o microfone de Adam e mandou os melhores berros e gritos da noite na segunda parte do show, enquanto a banda tocava “There’s No ‘I’ in Team”. Adam ficou tão impressionado que riu e disse “você é melhor que eu! Eu que devia estar aí em baixo, nos fundos da pista, assistindo só.

Adam Lazzara e Thiago Pimentel | Foto: Flavio Santiago

Um momento inusitado veio quando a banda estava prestes a tocar a música “The Blue Channel”, que começa com uma dramática linha de piano executada pelo novo guitarrista, Nathan Cogan.

Ao soar das primeiras notas, Nathan foi interrompido por um impaciente Adam que aparentemente não estava feliz com o tempo da música e fez um pedido ao guitarrista: “Não, não, não! É mais devagar, como se você estivesse ouvindo The Cure a luz de velas no seu quarto”. Após o inusitado corretivo, Nathan tocou uma versão bem mais lenta da introdução e foi novamente interrompido por Adam: “é, agora ficou devagar demais”. Nathan então tocou uma versão ultra-rápida da introdução, depois o que seria o tempo “normal” e acabou sendo acompanhado pela banda.

Ficou a dúvida se esse foi um momento ensaiado como uma piada, ou se o guitarrista realmente estava tendo dificuldades no instrumento de teclas.

Foto: Drico Galdino

Encerrada a parte do Tell All Your Friends, o Taking Back Sunday começou o show para valer e emendou mais 13 músicas na sequência, sem a tradicional parada para o Bis antes do fim. O público cantou, abriu rodas, pulou e se divertiu ao som de faixas como “Error: Operator”, “Set Phasers To The Sun” e “Flicker, Fade”. A banda também tocou o excelente single “This Photograph Is Proof (I Know You Know)”, que segundo os mesmos não era executada ao vivo há anos, mas apareceu em todos os 4 shows dessa breve turnê sul americana.

Após tocarem uma série de clássicos da sua discografia, o Taking Back Sunday caminhou por lançamentos mais recentes e apresentou singles do seu último disco de inéditas, Tidal Wavecomo “You Can’t Look Back”, “Tidal Wave” e a nova “All Ready To Go”, presente na coletânea Twenty. É necessário nesse ponto fazer uma menção honrosa a Mark O’Connel, que é simplesmente um dos bateristas mais “mãos pesadas” que eu já vi/ouvi na minha vida: ele não perde uma nota e nos faz sentir dó pelo seu kit de peles para os tons, surdo e caixa. Um baterista de mão cheia, muito preciso e intenso.

Foto: Drico Galdino

Antes de se despedirem da plateia com a já muito esperada “MakeDamnSure”, Adam atendeu ao pedido de um fã próximo ao palco e surpreendeu o público assumindo as guitarras e tocando “Your Own Disaster” somente na companhia de John e Nathan. Segundo Adam, a banda não tocava (nem ensaiava) essa música há 4 anos e caso algo desse terrivelmente errado, deveríamos culpar somente o fã que fez a solicitação. Ele pode dormir tranquilo, pois a música, melódica e triste, foi executada com perfeição de primeira.

Aí sim as primeiras e reconhecíveis frases de “MakeDamnSure” ecoaram pela sala do Fabrique em uníssono pela última vez na noite, fazendo com que o Taking Back Sunday se despedisse mais uma vez de São Paulo com a sensação de missão cumprida e uma leva de centenas de fãs satisfeitos na conta.

Não foi um show impecável, a voz do Adam falha bastante e não atinge mais certas notas que eram atingidas facilmente 20 anos atrás, mas certamente isso não atrapalhou os fãs que parecem ter se divertido muito pelas 2h que puderam ver o Taking Back Sunday em cima do palco tocando hinos de uma época que infelizmente, não volta mais.

Setlist:

  1. You Know How I Do
  2. Bike Scene
  3. Cut Without The ‘E’ (Cut From The Team)
  4. There’s No ‘I’ in Team
  5. Great Romances of The 20th Century
  6. Ghost Man on Third
  7. Timberwolves at New Jersey
  8. The Blue Channel
  9. You’re So Last Summer
  10. Head Club
  11. A Decade Under The Influence
  12. Error: Operator
  13. Set Phasers To The Sun
  14. Flicker, Fade
  15. This Photograf is Proof (I Know You Know)
  16. What’s it Feel Like To Be A Ghost?
  17. Number Five With a Bullet
  18. Liar (It Takes One to Know One)
  19. You Can’t Look Back
  20. Tidal Wave
  21. All Ready To Go
  22. Your Own Disaster
  23. MakeDamnSure