Foto por Aline Krupkoski
Chegou ao fim a turnê do Greta Van Fleet pelo Brasil.
A jovem banda norte-americana tocou no Rio de Janeiro, se apresentou no festival Lollapalooza e ontem à noite (08) na Audio, em São Paulo, tocou na última das Lolla Parties, festas que contam com shows solo de atrações do line-up do evento.
Para a última noite, a produção do Lolla escalou o Greta e contou com a abertura da banda brasileira Far From Alaska.
Far From Alaska
Se não é conhecido do grande público, o Far From Alaska é um dos principais nomes do underground brasileiro há algum tempo.
Em 2017 o grupo lançou seu segundo disco, Unlikely, gravado nos Estados Unidos com Sylvia Massy (TOOL, System Of A Down, Johnny Cash, Red Hot Chili Peppers), entrou na nossa lista dos melhores álbuns daquele ano e consolidou-se como um dos mais importantes nomes do Rock Nacional, por isso o posto na abertura do show.
Baseando-se principalmente no álbum mas também tocando canções de modeHuman (2014) como “Thievery” e “Dino Vs Dino”, o FFA conquistou quem estava ali na plateia e não apenas não se importou de esperar pelo Greta Van Fleet como aproveitou a apresentação da banda potiguar.
O público interagiu com a banda entre cada uma das canções do set e os comentários da plateia eram na sua maioria sobre como a escalação havia sido correta, com centenas de fãs de Rock descobrido um novo nome logo ali.
Com guitarras pesadas, vocais potentes e elementos eletrônicos aqui e ali, o Far From Alaska teve bastante espaço para mostrar seu som e soube aproveitá-lo.
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Greta Van Fleet
Após a atração de abertura e uma longa espera, o Greta Van Fleet subiu ao palco da Audio para mostrar seu Rock And Roll inspirado em clássicos e levou uma imensa multidão à loucura, mas antes é interessante contextualizar o cenário.
Assim como no Lollapalooza, estavam coladas na grade pessoas que já seguem a banda há algum tempo, montaram fã-clubes, fazem declarações aos seus ídolos e os seguem aonde quer que seja. Como há muito tempo não se via, é uma molecada que chega cedo à casa de shows para não perder um centímetro sequer da frente do palco, leva seus cartazes, recados e bandeira do Brasil e faz festa quando tem qualquer tipo de contato com seu ídolo.
Se o cenário descrito parece ser o de um show de Pop, já que nos acostumamos a isso nos últimos anos todos, é a primeira vez em um bom tempo que presenciamos algo do tipo para esperar um show que seria inundado de guitarras, jams, solos e o vocal poderoso de Josh Kiszka.
Ao contrário do Lollapalooza, com palcos enormes e uma distância considerável para que qualquer um veja as bandas de perto, na Audio mesmo que lotada, deu para sentir de perto a conexão que os jovens de 20 e poucos anos no palco têm com os jovens da plateia que ainda estão na adolescência. Tudo isso a ponto de presenciar, mais de uma vez, cenas como fãs indo aos prantos com as performances de seus ídolos e outros visivelmente sorridentes a cada nova música que era executada já que, finalmente, há um grupo conhecido do chamado “Rock Clássico” que não lançou seu último disco há três décadas ou mais.
O show do Greta Van Fleet em São Paulo mostrou que a banda é um daqueles fenômenos que surgem de vez em quando e mudam o mundo da música de alguma forma. Enquanto muito se discute sua similaridade com bandas como Led Zeppelin e sua criatividade, mais e mais pessoas vão ouvindo, gostando e se identificando com aquilo, criando massas enormes de seguidores como os que acabaram com todos os ingressos da apresentação rapidamente.
Em uma espécie de “mini Beatlemania”, foi possível ver garotas chorando e se abraçando, flores sendo arremessadas ao palco, novos músicos querendo saber cada detalhe dos instrumentos de quem está tocando e gente que ficou na grade esperando por qualquer coisa que viesse do palco mesmo depois do show já ter terminado.
A empolgação era evidente e como se impactar os jovens não fosse um feito grande o suficiente, o Greta ainda conseguiu construir uma ponte com aqueles que estão órfãos de bandas de Rock no mainstream e também levou mais uma multidão de fãs mais velhos que usavam suas camisetas de bandas como Rolling Stones, AC/DC e, é claro, Led Zeppelin.
Sobre o show em si, como ainda tem um repertório de estúdio pequeno, o Greta Van Fleet fez um show curtinho de apenas 11 músicas quase que com o mesmo tempo de duração do Far From Alaska.
Nesse meio tempo o que se viu no palco foram extensas jams que hipnotizavam a plateia e eram baseadas principalmente na guitarra de Jake Kiszka, músico que não para um segundo no palco e mostra que a banda vai além dos vocais tão comparados aos de Robert Plant.
Canções como “When The Curtain Falls” (ausente no Lolla), “You’re The One” e “Black Smoke Rising”, que abriu o bis, foram celebradas como verdadeiros hinos, e quando o final chegou com o maior hit da banda, “Highway Tune”, as pessoas transformaram a casa de shows em arena, cantando tão alto que parecia que estávamos em um estádio, o que talvez tenha sido o combustível para que os integrantes, risonhos durante todo o show, se olhassem com claras expressões de felicidade para entoar seus últimos acordes.
O show do Greta em São Paulo teve tudo que uma apresentação clássica de Rock tinha no seu auge, mas em uma espécie de “Versão 2.0”: quando quebrou sua pandeirola no chão, por exemplo, Josh fez questão de entregar seus pedaços a fãs que estavam na grade e levaram partes do instrumento como recordação. Se os elementos clássicos estão ali, há também as novidades como a proximidade com os seguidores que a Internet proporcionou, e talvez isso explique por que presenciei quatro fãs com os rostos inchados de tanto chorar saindo do show falando sobre como a banda era atenciosa.
Grandes artistas e grandes bandas explodem de tempos em tempos por uma série de fatores, mas é só quando começam a levar multidões como as de ontem aos seus shows e, principalmente, tocarem pessoas como ficou evidente, que elas se consolidam e ultrapassam as barreiras que tanto limitaram o alcance do Rock And Roll nos últimos anos.
E já que falamos por aqui sobre a Internet, enquanto as pessoas continuam discutindo, muitas vezes com xingamentos, se a banda é boa ou não, tem um montão de gente que não está nem aí e só quer cantar sons de guitarra que não tenham saído do túnel do tempo.
O Greta Van Fleet mostrou que não é uma promessa, é uma realidade. Ame ou odeie, ache uma cópia ou não de Led Zeppelin, os caras estão acontecendo e, para o bem ou para o mal, irão transformar o Rock And Roll nos próximos anos. Se o Hard Rock deve voltar a ganhar força, teremos até os movimentos contrários que irão se cansar dele e apresentar outras nuances, como foi assim com o Punk ou o Grunge. E isso tudo é bom para um estilo que vinha sendo tão ignorado pelo mainstream nos últimos anos, muito por conta dos seus fãs.
Enquanto aguardamos para saber como será o futuro, fica uma dica: vá a um show da banda quando puder. Para amar ou odiar. Para, se não curtir, pelo menos entender a mística que sai do palco dos caras e acabou conquistando tanta gente.
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Setlist – Greta Van Fleet em São Paulo (08/04/2019)
- The Cold Wind
- Safari Song
- When the Curtain Falls
- Flower Power
- You’re the One
- Watch Me
(Labi Siffre cover) - Black Flag Exposition
- Watching Over
- Edge of Darkness
Bis: - Black Smoke Rising
- Highway Tune
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