Nilüfer Yanya conversou com o TMDQA! sobre seu elogiado primeiro disco, “Miss Universe”

Leia a entrevista exclusiva do Tenho Mais Discos com Nilüfer Yanya sobre guitarras, carreira, inspiração para as garotas e... Harry Potter.

Nilüfer Yanya

Por Nathália Pandeló Corrêa

Alguns artistas geram expectativas – e outros as superam. Nilüfer Yanya é uma cantora londrina que chamou atenção desde seu primeiro EP, Small Crimes/Keep On Calling, lançado em 2016. Desde então, ela vem transformando referências que vão de Nina Simone a PJ Harvey em um som híbrido de R&B e indie com notas de rock, pop e jazz. Divulgou outros dois EPs – Plant Feed e Do you like pain – e transformou seu primeiro álbum em um lançamento aguardado.

Miss Universe não decepcionou. Criando um universo paralelo – mas nem tanto – em que empresas nos vendem “bem estar” em troca de um sacrifício de saúde física e emocional, a artista se divide entre um vocal ora intenso, ora delicado, e vinhetas de instruções de um programa paradisíaco que prometem saúde ao mesmo tempo que anunciam eventos catastróficos disfarçados em normalidade.

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Entre referências oitentistas e noventistas, surge um som calcado num futuro distópico vindo de uma jovem compositora de vinte e poucos anos, criada em Londres por pais artistas de origens turca e irlandesa. O que poderia parecer contraditório já se tornou um dos discos mais marcantes de 2019, e preencheu muitas das caixinhas que fazem de Nilüfer um nome a se prestar atenção em próximos lançamentos.

Em turnê com Miss Universe, a artista conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! por telefone sobre não se preocupar em se encaixar em um só gênero musical, o papel da música num mundo caótico e, bem, Harry Potter.

Confira abaixo!

TMDQA!: Obrigada por seu tempo, Nilüfer! Sei que você está bem ocupada ultimamente, e parabéns pelo disco. Sei que todo mundo cita o quão jovem você é e até é bem impressionante, mas acho importante notar que você está tratando de assuntos pesados nas letras – e ao mesmo tempo, volta paras décadas de 80 e 90 pra referência sonora. Considerando a temática do disco, será que essa é uma forma de retornar a um tempo em que as coisas eram mais simples e menos loucas?

Nilufer Yanya: Acho que sim! De certa forma, acho que é reconfortante a gente olhar pra trás, para o que já conhecemos. A minha intenção na verdade era misturar esses elementos do passado com algo meio futurista.

TMDQA!: Dá pra sentir isso. Quando se dá play no disco, parece que a gente entra numa realidade alternativa – apesar de se parecer muito com a nossa. Sei que embaixo daquelas músicas, você aborda o fato de as empresas explorarem nossa saúde física e mental para ganho próprio, e ainda com nosso consentimento. Nesse sentido, você acha que a música serve como um escape disso tudo?

Nilüfer: Sim, eu acho que a música acaba sendo uma forma de escape. Mas ela não chega a ser uma fuga total. Quis propor uma reflexão sem necessariamente fugir dos tópicos difíceis.

TMDQA!: Mudando um pouco de assunto, sei que você trabalhou com a sua irmã e mãe (as artistas Molly e Sandra Daniel) na Grécia em um projeto levando arte e educação artística e artesanal para refugiados. Você ainda se envolve em projetos como Artists in Transit e o que aprendeu com essa experiência?

Nilüfer: Acho que o que eu mais aprendi nesse projeto é que eu tinha capacidade de acrescentar algo para aquelas pessoas. Se eu tivesse parado para pensar se eu era qualificada para trabalhar numa ação desse tipo, muito provavelmente nem teria tido a coragem de ir. E se envolver com algo assim te faz se sentir mais parte do mundo, sabe? Você se conecta com as pessoas. Eu não acho que eu fui pra lá necessariamente fazer caridade, é só uma forma de se envolver com as histórias de outras pessoas, que naquele caso passavam por um momento difícil, e notar que cada um pode entregar um pouco de si pra fazer a diferença na vida do outro. Acho que todos conseguimos, e isso foi o que ficou de aprendizado pra mim.

TMDQA!: Bom, não sei se você concorda, mas cada vez mais um grande artista não se define mais por um estilo só, por ser bom em uma só coisa. Seu disco é bem variado, tem rock, r&b, indie e é até meio jazzístico às vezes. Isso mostra versatilidade, diversidade. Você diria que vir de um lar multicultural colocou isso como parte de você, de alguma forma?

Nilüfer: (Risos) Eu concordo sim. Acho que faz sentido isso da minha criação, de encontrar similaridades na cultura do meu entorno. Quando comecei a compor, eu estava tentando entender o que seria a minha identidade, então era muito natural pra mim misturar gêneros. Na verdade, acho que nunca olhei dessa forma, de separar em gêneros.

TMDQA!: É, até porque os gêneros musicais são super fluidos, né?

Nilüfer: Isso, exatamente assim que eu vejo.

TMDQA!: Parece que mulheres com guitarras estão voltando a fazer parte do mainstream de novo – não que elas tenham sumido, mas agora parece ter uma safra excelente. Do seu lado, tem Tash Sultana, Boy Genius, Courtney Barnett, todas maravilhosas. Mas quando você crescia, tinha alguma referência de mulheres ou guitarristas que te inspiraram?

Nilüfer: Eu basicamente ouço qualquer mulher que posso, PJ Harvey, Marnie Stern… Mas eu não conhecia tantas mulheres naquela época, não necessariamente guitarristas, então eu ouvia de tudo, tipo Amy Winehouse. Mas eu ouvia muita banda composta por homens também, ouvia muito pop punk… Curiosamente, não tive necessariamente muitos ícones na guitarra quando estava começando.

TMDQA!: Talvez você esteja virando um ícone pras meninas que vêm depois, não?

Nilüfer: Nossa, isso é muito louco (risos). Adoraria!

TMDQA!: Eu estava ouvindo seu episódio no World Café, da NPR, e você falava de não ter tempo pra compor, porque estava em turnê com seus dois EPs. Vou chutar que Miss Universe te leva ainda mais longe e sei que você acabou de lançar um disco, mas você se pega pensando sobre qual será o próximo passo? E mais importante, super sem pressão: tá arrumando tempo pra compor?

Nilüfer: Admito que não tive muito tempo esse ano ainda. Estou pensando mais na turnê, de estar com a banda e não há muitas oportunidades para parar e escrever… Mas eu vou compor mais sim. Pra mim, quanto mais música eu lançar, melhor (risos).

TMDQA!: Bom, não sou eu que vou discordar. Agora, nesse espírito da gente te conhecer melhor… Eu li na Pitchfork que você é fã de Harry Potter. Então a pergunta que não quer calar é: em qual casa o Chapéu Seletor te colocaria e por que?

Nilüfer: (Risos) Sou sim! Eu quero acreditar que sou da Grifinória, mas a maioria da banda discorda (risos). Mas é como eu me vejo.

TMDQA!: Olha, eu também me via, mas aí eu fui experimentar o Chapéu Seletor, ele mal encostou na minha cabeça e gritou “Sonserina”!

Nilüfer: Que diferença (risos)! Olha, se eu fosse da Sonserina, eu nem poderia te contar, senão você ia achar que eu sou ambiciosa demais e orgulhosa. Eu nunca fiz o teste, então vou continuar imaginando que sou da Grifinória (risos).

TMDQA!: Justo! Bom, esperamos te ver aqui no Brasil.

Nilüfer: Com certeza, eu adoraria ir ao Brasil. Quem sabe em breve?

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