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TMDQA! entrevista: "O Alexisonfire vive seu melhor momento"

Leia a entrevista exclusiva do Tenho Mais Discos Que Amigos! com George Pettit, vocalista da banda canadense Alexisonfire.

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Foto: Reprodução / Youtube

O fim dos anos 90 (e o início dos 2000) viu uma série de bandas do Post-Hardcore com um pé na cena Emo norte-americana ganharem força comercial e um volume considerável de fãs ao redor do mundo. Nomes como Thursday, Thrice e Alexisonfire conquistaram a Internet através de redes como o MySpace e lotaram os iPods de muitos adolescentes e jovens com seu instrumental explosivo e letras carregadas de emoções viscerais e reais.

Muitas dessas bandas se foram e outras decidiram retomar as atividades após hiatos de alguns anos graças ao clamor da sua base de fãs, como é o caso do Alexisonfire. A banda canadense já vinha fazendo shows desde 2015, quando anunciou o seu retorno definitivo e só esse ano lançou o primeiro som inédito desde a interrupção nas atividades, com o single “Familiar Drugs“.

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Conversamos recentemente via Skype com o vocalista George Pettit sobre o atual momento da banda, lembranças da turnê de despedida que passou pelo Brasil em 2012 e promessas de novo material em um futuro não distante. Confira o papo na íntegra abaixo:

TMDQA: Desde que vocês decidiram voltar do hiato que começou em 2012, tem rolado um vai-e-vem constante com o Alexisonfire. Qual é o status atual de vocês como banda?

George: Nesse momento, como banda, eu diria que estamos completamente de volta, marcando shows e gravando novas músicas. Nós decidimos que iríamos definitivamente fazer isso, mas não gostaríamos de atrapalhar o equilíbrio que existia também com as nossas vidas pessoais, nossas carreiras e outros projetos musicais, coisas assim. Então é isso que está rolando, estamos totalmente de volta e fazendo música juntos, mas levando as coisas um passo de cada vez, com calma. Não vamos sair em turnê por um ano inteiro, passar três meses enfurnados em um estúdio ou coisas assim. Estamos gradualmente nos tornando uma banda de novo.

Quanto ao nosso relacionamento como banda, nós nos damos muito bem. Eu estou empolgado por passar mais tempo com eles e fico feliz por estarmos de volta nas vidas uns dos outros.

TMDQA: Fala pra gente um pouco sobre o single mais recente, “Familiar Drugs”, de onde a inspiração criativa para esse som veio?

George: Bom, “Familiar Drugs” nasceu com um riff que o Dallas [Green] trouxe pra gente. Ele tinha escrito esse riff há muito tempo, lá na época do [álbum] Crisis (2006) e nunca havia virado uma música completa, nunca paramos para trabalhar em cima dele. Esse riff ficou encostado no canto por um tempo, até que o Dallas voltou a brincar com ele em uma passagem de som que fizemos e começamos a estruturar a música durante a nossa turnê no verão passado. E foi legal, foi divertido, fez com que as engrenagens começassem a girar novamente para começarmos a criar músicas novas.

Em relação à inspiração para letra, eu escrevi sobre uma época em que… bom, é sobre você se sentir em um tipo de prisão pessoal e precisar fazer uma mudança, finalmente ser apresentado com a oportunidade realizar essa mudança e no fim… não mudar nada. É meio que sobre ser o seu próprio pior inimigo de muitas formas, é sobre isso que a música fala.

TMDQA: E como a sonoridade dessa música se compara com as demais que iremos ouvir no futuro? A primeira vez que eu ouvi ‘Familiar Drugs’ pensei “ok, isso é BEM mais pesado do que eu esperava” – o que é algo bom. Fico me perguntando se as próximas músicas vão seguir a mesma linha ou não.

George: Não, nós somos uma banda dinâmica. Eu posso te dizer que temos outras músicas novas que já escrevemos que são bem diversas. Não espere “Familiar Drugs Parte 2” ou algo assim, sabe?. Espere algo completamente diferente dentro de seja lá qual for o formato que vamos lançar em seguida. Então posso te adiantar que tudo soa bem variado no geral, como são todos os nossos discos. Existe uma dinâmica, momentos altos e baixos, coisas assim. Continuamos escrevendo músicas dessa forma.

TMDQA: Li que lá no início você descrevia o som do Alexisonfire como “o som de duas garotas de escola Católica no meio de uma briga de facas”. Como você descreveria o som da banda hoje? Essa descrição ainda vale ou existem analogias novas?

George: [Risos] Eu não sei como soamos agora. Acho que o Alexisonfire de hoje soa como “um bando de músicos que vivem e criam de forma muito livre”, sabe? É meio que o que estamos buscando agora: mais coisas que nós mesmos queremos ouvir do que o que as pessoas querem. Eu não tenho nenhuma anedota nova e boa agora pra você [risos] mas nós dissemos isso naquela época porque costumávamos fazer shows quando éramos mais novos, e todo pôster tinha nomes de bandas que você não conhecia, então os produtores pediam uma pequena descrição de cada uma delas. E era sempre algo como “metalcore asiático destruidor” ou “punk rock regado à Whisky” e alguém perguntou pra gente como gostaríamos de nos descrever e respondi “duas estudantes de escola católica no meio de uma briga de facas”. Foi a nossa forma de tentar fazer com que nos destacássemos.

TMDQA: Eu recentemente vi o Taking Back Sunday tocando o disco Tell All Your Friends do começo ao fim em um show e fiquei pensando: já que Old Crows/Young Cardinals completa 10 anos desde o lançamento esse ano, você acha que vamos ver o Alexisonfire tocando esse disco completo em algum show? O que você acha dessa nova tendência entre as bandas mais rodadas?

George: Nah, eu sinto que esse não é um disco que as pessoas gostariam de ouvir do começo ao fim em um show. Acho que se nós fôssemos fazer algo assim, deveria ter sido com o Crisis talvez. Eu não sei, acho que quando tocamos ao vivo existem músicas de todos os discos que as pessoas querem ouvir, então eu não nos vejo fazendo isso, de tocar um álbum do começo ao fim. Até porque quando fazemos um disco completo, obviamente existem músicas que são mais fortes que outras e isso é algo que simplesmente acontece. No caso do Old Crows / Young Cardinals existem músicas que eu gosto de tocar mas a reação da plateia demonstra o contrário. Então nós acabamos escolhendo os grandes hits, as músicas que terão as melhores respostas do público que vai ao show, porque no fim é o que as pessoas querem. Acho isso mais importante do que essa ideia de tocar um disco inteiro, mas eu aprecio quando outras bandas fazem isso, acho legal da parte delas.

TMDQA: Durante a turnê de “despedida” em 2012 vocês vieram ao Brasil para tocar pela primeira vez e já darem o seu adeus antecipado à nossa plateia. O que você se lembra dessa experiência e como é a sua relação com a comunidade brasileira de fãs do Alexisonfire?

George: Ah Sim, foi brilhante. Era um lugar que nós, eu principalmente, sempre quis visitar. Por algum motivo o Brasil era um lugar muito difícil para nós conseguirmos ir. Nunca conseguíamos encaixar a rota da turnê com os outros destinos já agendados, não conseguíamos fazer isso dar certo nunca. Nos questionávamos “será que dessa vez vamos conseguir descer até lá?” e eventualmente as coisas acabaram se acertando e rolou.

E foi lindo. O show foi um dos mais quentes, insanos e caóticos que já fiz. As pessoas cantavam todas as músicas e às vezes as coisas saiam um pouco do controle, o que eu agradeço.

TMDQA: Nós somos famosos por isso mesmo.

George: Sim! Era uma loucura. No Cine Joia [casa de São Paulo que recebeu o show], quando tocamos lá, eu lembro que o backstage não tinha uma saída para os fundos, você meio que passa direto pela plateia e ficamos presos ali por horas na ansiedade esperando o show começar. Quando finalmente subimos ao palco o lugar estava lotado de pessoas quentes, suadas e igualmente ansiosas pelo show, o que foi espetacular para nós.

Lembro de caminhar bastante pela cidade também, andei uns 16km por aí apreciando tudo ao redor. Fomos a um restaurante que tinha uma árvore dentro [possivelmente o Figueira Rubayat], era um lugar muito bonito. Definitivamente passamos muito bem no Brasil.

TMDQA: Existem planos para tocarem aqui de novo em um futuro próximo?

George: Não está fora de cogitação! Não temos nada marcado agora, mas definitivamente está na nossa lista de coisas que queremos fazer agora. Não vou prometer nada, mas está absolutamente no nosso radar. Espero que possamos voltar em breve.

TMDQA: Antes de vocês se separarem em 2012, o Alexisonfire estava trabalhando em um quinto disco de inéditas. O que sobrou desse disco em seus HDs? Existem planos de lançar demos ou músicas desse período?

George: Acho que a maioria dessas ideias e muitos riffs viraram músicas do Dallas [com o City & Colour]. Dá pra ouvir um pouco daquelas ideias lá. Mas de resto não havia nada gravado, a maioria das ideias dessa época rolaram durante sessões de improviso no palco e tudo isso aconteceu há muitos anos, eu não lembro de metade do que essas ideias de músicas eram. Infelizmente não registramos nada. Mas agora nós estamos encontrando ideias do passado em telefones antigos, coisas como riffs e letras que já havíamos escrito lá atrás, e tudo isso está surgindo de novo. Ao mesmo tempo, nós não precisamos necessariamente voltar 7 anos no tempo para encontrar inspiração. Podemos agora criar riffs e ideias novas que queremos lançar. Vamos continuar a fazer isso, ainda estamos compondo e experimentando. Vamos ver o que vai sair disso.

TMDQA: Falando no Dallas Green, ele tem os seus próprios projetos rolando, o  City & Colour se tornou muito bem sucedido por conta própria – mas ao mesmo tempo a sonoridade é bastante diferente do que ficamos acostumados com o Alexisonfire. Fico imaginando se ele é o cara do lado mais melódico das coisas, que tenta levar essa faceta para o Alexisonfire. Vocês são os responsáveis por trazerem ele de volta para o lado mais pesado e distorcido e equilibrar tudo?

George: [Risos] Eu sinto que essa é uma concepção comum e errada do Dallas Green que as pessoas têm. Como se caso ele não estivesse na banda nós soaríamos como um grupo de Thrash Metal ou algo assim. O Dallas compõe os riffs mais insanos e tem um gosto incrivelmente refinado para gêneros pesados de música. Nós nos conhecemos indo a shows de metal. Ele já ouvia Melvins antes de qualquer um de nós. Ele ouvia bandas pesadas muito antes de nós, ele foi a minha porta de entrada para muitas bandas. O riff principal em “Familiar Drugs” e toda aquela vibe de Stoner Rock vem dele.

Ele é completamente capaz de fazer arranjos acústicos mais silenciosos e muito bonitos, ao mesmo tempo que ele é igualmente capaz de aumentar o volume. Ele é um nerd dos equipamentos para a guitarra dele e sabe tocar muito alto também.

TMDQA: Entre o hiato e a reunião da banda, quando vocês colocaram todas as possibilidades na mesa, qual foi o fator decisivo que pesou a favor da reunião do Alexisonfire?

George: Antes da gente voltar? Eu não sei. Sinceramente eu acho que não existiu um evento em particular em que a gente decidiu “ok, vamos voltar com o Alexisonfire”. Nós estávamos todos estabelecidos [após o término da banda], cada um encontrou o seu caminho e acabamos estabilizando a nossa vida pós-Alexisonfire. Acho que o lance de voltar aconteceu porque as pessoas ficavam nos oferecendo shows, contratos, dinheiro para voltarmos e tocarmos juntos, e nós recusamos todos esses pedidos. Falamos “Não. Nós nos decidimos, está feito. Já fizemos a nossa despedida, vamos encerrar os trabalhos.”

Até que chegou um ponto em que nós estávamos passando bastante tempo juntos, conseguíamos notar que os fãs estavam claramente muito afim e empolgados em ver mais shows. Aí pensamos “Por que decepcioná-los? Vamos tocar alguns shows e ver o que rola.” E rolou bem, muito bem. Não pareceu algo nostálgico, pareceu algo que ainda soava atual. Achamos que foi isso que de fato nos trouxe de volta, nós sentimos que ainda podemos contribuir muito.

TMDQA: Falando da minha perspectiva, eu não sinto que o Alexisonfire seja um ato de nostalgia hoje em dia de forma alguma. Sinto que o som de vocês tem muito a se desenvolver e evoluir ainda no futuro. Ainda queremos ouvir mais material vindo de vocês.

George: Sim! E nós ainda estamos fazendo isso, as coisas ainda estão se encaixando. Estou empolgado. Eu posso te confessar isso agora: nunca estivemos melhor. Ao que diz respeito aos shows ao vivo, às gravações – acredito que esse seja o Alexisonfire em sua melhor forma.

TMDQA: Eu concordo plenamente. Eu gosto de assistir de tempos em tempos o set que vocês fizeram no Reading Festival de 2015 porque ele é animal. Normalmente escuto enquanto estou trabalhando em algo e chegam horas que paro e penso “esse show é perfeito, impecável”. Obviamente você sabe disso melhor que eu, afinal estava lá no palco.

George: [Risos] Eu agradeço muito! É uma sensação muito boa: a gente passou tanto tempo longe desse ambiente e do nada você está de volta em turnê, fazendo shows, e tudo retorna de forma muito rápida. Você se lembra do porque essas performances fazem você se sentir tão bem. Tem sido uma viagem e tanto ultimamente…

TMDQA: Você pode me dizer quais são os planos que já estão certos e confirmados para o Alexisonfire em 2019? O que vamos ouvir de vocês pelo resto desse ano?

George: Bom, pelo resto do ano…nós não temos um plano muito confirmado agora, a não ser pelos shows já marcados ao longo do ano. Nós temos shows em Junho, um festival em Julho, e não sabemos como será o resto do ano. Eu presumo que o Dallas vá ficar ocupado de novo, assim como o Jordan [Hastings, baterista]. Eu acho que lançaremos mais músicas até o fim do ano, mas não consigo te passar nenhuma data ou qualquer confirmação real ainda. Eu odeio ser tão ambíguo [risos], mas existe algo acontecendo. Eu só não posso mesmo te dizer o que é ainda, ou quando irá acontecer.

Então é isso, 2019 é uma grande interrogação para nós ainda.

TMDQA: Não pode nos dar nem uma dicazinha qualquer?

George: [Risos] Eu não posso, eu nem poderia te dizer porque eu não sei o que será ainda. O que posso te dizer é que estamos compondo e gravando músicas. Eu não sei de que forma elas virão, mas te garanto existirão mais músicas em algum momento.

TMDQA: Bom, essa pergunta é meio padrão aqui nas nossas entrevistas, mas o nome do nosso site em português é “Tenho Mais Discos Que Amigos!”, então me diga: esse é o caso pra você também? Se sim, quais são alguns dos seus discos favoritos?

George: Tenho mais discos que amigos? [Risos]. Eu com certeza tenho mais discos que amigos, tenho uns 1.500 LPs e estou olhando para todos eles agora mesmo na minha sala de estar. Tenho uma coleção gigante espalhada por todos os cantos.

TMDQA: E quais são os que você mais tem ouvido?

George: Entre os meus favoritos de todos os tempos, eu tenho uma coleção bastante substancial do Nick Cave. Essa é a joia da coroa da minha coleção. Ao mesmo tempo eu gosto bastante dos discos do Coloured Balls, uma banda da Austrália. Eles são uma banda de Hard Rock pré-AC/DC. Demorou muito para eu achar um LP deles, então eu amo muito esse disco [Risos].

Eu também acabei de comprar um LP do Hey Summer do Lost Balloons, que é uma banda do vocalista do The Marked Men. Também ouvi o Suki Yokatta, música japonesa bem com clima de verão, punkzinha, eu gostei bastante. Tem muita coisa que eu tenho ouvido, o novo disco do Fucked Up! tem comido a minha mente por alguns meses já, o Dose Your Dreams – esse é muito bom.

TMDQA: Vou com certeza conferir todos esses! Mas George, infelizmente minhas perguntas acabaram, então quero te agradecer pela conversa e deixar o espaço pra que você mande uma mensagem para os fãs brasileiros de Alexisonfire.

George: Hey Brasil, venham para o Canadá, sabe? Venham dar uma volta aqui, adoraríamos conhecê-los. Se não rolar, nós vamos até vocês. Esperamos ver vocês em breve, obrigado por estarem sempre conosco. Sei que não tocamos aí tanto quanto devíamos, mas amamos vocês.

TMDQA: Muito obrigado George, foi muito bom falar com você. Espero ouvir mais sons novos do Alexisonfire em breve.

George: O prazer foi meu, até a próxima!

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