Fat Mike fala sobre polêmica que "baniu" o NOFX dos Estados Unidos

Leia entrevista com Fat Mike, líder do NOFX, para a FADER, onde ele fala sobre episódio da banda em Las Vegas e disco do Cokie The Clown.

Fat Mike, do NOFX, em 2014
Foto de Fat Mike via Shutterstock

A edição de 2018 do já tradicional festival Punk Rock Bowling, em Las Vegas, teve o NOFX como uma das principais atrações.

Acontece que o show em si não foi o assunto mais comentado a respeito da apresentação de Fat Mike e companhia, mas sim uma série de piadas envolvendo o maior tiroteio da história dos Estados Unidos, que aconteceu ali mesmo na cidade, a poucos quilômetros de distância.

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Naquela noite, e eu estava lá, o NOFX fez o de sempre: uma série de piadas bastante pesadas entre cada uma das canções do seu setlist, e essa especificamente nem chamou tanta atenção na hora, mas acabou sendo usada, segundo Fat Mike em entrevista para a FADER, por motivos políticos dias depois como forma da direita atacar a esquerda:

Eu não vou parar de fazer as piadas. Ainda irei dizer qualquer merda que eu quiser. Eu sei que fui derrubado por um motivo. Foi política. Ninguém se importou na Segunda-feira ou na Terça-feira [após o show] em Las Vegas.

Algum moleque vendeu o vídeo para o TMZ e algumas estações de rádio de música country fizeram barulho em cima disso, e aí o Partido Republicano usou isso. É só isso. Você acha que os Punk Rockers se importaram?

Fat Mike, NOFX e Cokie The Clown

Realmente, ninguém se importou nem na hora (quando houve algumas vaias aqui e ali) nem nos dois dias seguintes, mas após a história viralizar e mostrar que a era da Internet funciona de maneiras misteriosas, o NOFX perdeu vários contratos importantes, incluindo o que tinha com a cervejaria Stone, que fabricava a cerveja da banda e patrocinava o festival Punk In Drublic.

Além disso, a banda foi expulsa do próprio festival Camp Punk In Drublic pelos seus organizadores e teve diversos shows desmarcados nos Estados Unidos, o que fez com que Fat Mike declarasse que “o NOFX foi banido de tocar no próprio país”.

Sobre isso, inclusive, ele esclarece que não foram as casas de shows que cancelaram a apresentação, mas sim o seu próprio empresário.

Várias dessas ocasiões aparecem no primeiro disco de Cokie The Clown, o “palhaço cheirado” que Fat Mike inventou para colocar suas frustrações pra fora e agora apresenta o álbum You’re Welcome ao mundo.

Além de músicas como “Fuck You All”, que falam sobre como as pessoas o abandonaram no episódio de Las Vegas, há canções sobre como seus melhores amigos o afastaram quando ele se casou com Soma, uma dominatrix com quem ficou durante oito anos e agora se divorciou.

Um outro episódio aparece na canção “That Time I Killed My Mom”, onde Fat Mike fala sobre como matou a mãe e na entrevista esclarece que isso realmente aconteceu. Ela estava doente e lutava contra um câncer que não tinha cura, então pediu para que o seu filho o fizesse.

As piadas e a ajuda

As piadas que deram problemas ao NOFX foram relacionadas ao ataque onde um homem atirou de um hotel de Las Vegas na direção do festival de música country Route 91 Harvest, matando 58 pessoas e ferindo 400.

No Punk Rock Bowling, o guitarrista Eric Melvin disse:

Eu acho que ninguém atira em você em Vegas a não ser que você esteja em uma banda country.

E Mike respondeu:

Isso foi uma merda. Mas pelo menos eram fãs de música country e não fãs de punk rock.

Naquela noite, como o próprio deixa bem claro, outras piadas pesadas foram ditas, por isso ele acha que o motivo de alguém ter repercutido tudo dias depois foi perseguição política:

Bem, naquela mesma noite em Vegas eu disse, ‘Hey todo mundo, esse é o Hefe [guitarrista da banda]. Ele é um estuprador, também conhecido como Mexicano, mas as pessoas não têm medo dele porque ele não tem força na parte de cima do corpo.’ Isso é bem pior! É muito mais ofensivo! Somos comediantes. Nós do NOFX somos comediantes.

Ele ainda completou dizendo que os Estados Unidos estão se tornando um país “Puritan-Quaker” (fazendo referência às duas religiões) onde “todo mundo se ofende.

Por fim, Fat Mike ainda disse que as pessoas que lhe defenderam foram Laura Jane Grace (Against Me!) e a banda Sick Of It All.

Além disso, falou que recebeu ligações de Kevin Lyman (Warped Tour), Jello Biafra (ex-Dead Kennedys), Jack Grisham (T.S.O.L.) e Fletcher Dragge, do Pennywise.

Segundo ele, foi Fletcher quem lhe deu o melhor conselho sobre como responder a respeito da situação:

Fletcher me deu o melhor conselho. Eu precisei de três dias para escrever um pedido de desculpas. Todo mundo ficou tipo ‘Por que você demorou tanto?’ Porque nós precisávamos pensar a respeito! Não iríamos fazer algo de merda do tipo ‘Ah, eu tava drogado, vou entrar para a clínica de reabilitação’ como Billie Joe (Green Day) faria. Eu queria realmente pensar sobre o que fizemos. Fletcher disse que já tinha passado por isso antes. Ele disse ‘Não diga a palavra ‘mas’; não diga ‘Somos comediantes mas somos artistas’. Pense na criança de oito anos cuja mãe não voltou pra casa [na noite do atentado].’ E honestamente eu acho que foi uma coisa idiota o que a gente disse aquela noite, considerando onde estávamos. Todo mundo que tiver problema com isso no resto do país, foda-se. Mas eu me sinto mal pelos seguranças e por todo mundo que estava lá, porque deve ter sido a noite mais terrível das suas vidas.

Você pode ler a entrevista completa, em Inglês, clicando aqui.

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