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Karol Conka e Xênia França botam o Circo Voador para dançar e refletir com os mais diversos gêneros musicais

MPB, samples eletrônicos, funk, soul e pop embalaram o Circo Voador durante os poderosos shows de Xênia França e Karol Conka.

Karol Conka e Xênia França no Circo Voador
Fotos: Juliana Nascimento / Lilo Oliveira

À primeira vista, a mistura entre a tradicional MPB e os novos gêneros populares da nossa música não parece ser a mais óbvia combinação. Mas que tal misturá-los? Que tal experimentar algo inusitado?

O Circo Voador, famosa casa de shows no Rio de Janeiro, topou a experimentação ao divulgar um evento onde, na mesma noite, se apresentariam Xênia França e Karol Conka. Mas, muito além das estéticas musicais diferenciadas, a noite provou que o discurso pesa tanto quanto o que está sendo tocado ao fundo.

Recentemente, batemos um papo com ambas as cantoras, e elas nos falaram sobre a importância de contemplar novas experiências para a nossa cultura. Além disso, fomos ao show no Circo e vamos contar como foi a noite!

 

O show transcendental de Xênia França

Xênia é uma artista incrível! Lotada de carisma e talento, ela apresentou seu delicioso álbum de estreia homônimo ao público, em uma apresentação ao mesmo tempo intimista, contemplativa e dançante.

Ao vivo, Xênia se entrega e faz um show com personalidade, passando confiança e nos conquistando de uma forma transcendental. Desta vez, não foi diferente. A cantora abriu a apresentação com o sucesso “Pra Que Me Chamas?” e, de repente, a casa inteira já estava dançando, cedendo ao carisma inquestionável da cantora.

O início da apresentação da baiana viu um Circo ainda com pouco público. A cantora, no entanto, fez questão de extrair o melhor das almas de cada um dos presentes (cujo número cresceu conforme o show se desenvolvia). Ela pediu que o povo repetisse os versos conforme ela cantava “Destino“, por exemplo.

Xênia França no Circo Voador
Foto: Lilo Oliveira

No repertório não tivemos muitas novidades. Mas o álbum de estreia, por si só, já é uma verdadeira experiência. Os fãs cantaram todas as canções, quase como um vocal de apoio para Xênia que, por sinal, canta sem o auxílio de uma segunda voz. É para poucos!

Vozes poderosas, no entanto, não servem apenas para cantar. Após “Minha História“, Xênia parou para fazer um convite ao público. Era um pedido para esquecer o mundo lá fora e entrar, com o auxílio de seu repertório, no que chama de “quinta dimensão”. Além disso, ela ilustrou os discursos de suas letras com situações que vivemos atualmente, como o caso de Marielle Franco. “Nenhuma mulher a menos”, exclamou a cantora antes de cantar “Tereza Guerreira“.

O setlist continuou com suas reflexivas letras, com levadas instrumentais que bebem tanto da percussiva MPB tradicional quanto do jazz.

Uma das melhores características dos shows de Xênia é a semelhança que as performances ao vivo possuem em relação às gravações originais. É como se ouvíssemos o álbum, só que de uma maneira presencial e, por assim dizer, mais emblemática. Isso ficou claro nas versões ao vivo de “Preta Yayá” e “Respeitem Meus Cabelos, Brancos“.

Isso não seria possível (e Xênia deixou isso claro) se não fosse sua banda. Com sincronia e amizade, ela apresentou seus companheiros de palco como se fossem da sua família. O resultado dessa química familiar ficou claro no show, onde todos se entendiam, sempre carismáticos ao interagirem com a cantora durante as performances. O grupo é formado por Ricardo Braga (percussão), João Moreira (baixo), Vitor Cabral (bateria), Pipo Pegoraro (guitarra) e Fabio Leandro (teclados).

Xenia França no Circo Voador
Foto: Liz Lemos

Além de não precisar de vocais extras, Xênia mostrou que é uma musicista completa ao complementar o som da banda com outros recursos sonoros. Inquieta, a cantora não se restringiu ao microfone. Pegou um megafone, tocou agogô e ainda deu palhinha na percussão de Ricardo e tocou sintetizadores.

E nessa onda transcendental, a cantora levou seu contemplativo show até o fim, ao fechar com chave de ouro com “Nave“. A cantora lembrou que esta seria sua última apresentação na cidade até o Rock in Rio, onde dividirá palco com Seal.

 

Karol Conka provou, mais uma vez, ser uma cantora “original sem cópia”

O Circo foi, de repente, da água para o vinho graças à curitibana Karol Conka. Se antes o Circo estava vidrado no talento de Xênia, era chegada a hora de dançarem até o chão ao som dos versos afiados da cantora.

Karol subiu ao palco na companhia de seu DJ, DJ Hadji, e de uma nova integrante, a percussionista Sthephani Araujo. Juntos, o trio fez performances de 21 canções, entre clássicas da cantora e as novas, frutos de Ambulante, seu mais recente disco de estúdio.

Vestida com uma roupa um tanto incomum, Karol disse que parecia uma Power Ranger. Ela aproveitou a brincadeira para falar que está disposta a salvar o Brasil. Logo depois, ela começou a cantar “Bem Sucedida“.

Karol Conka no Circo Voador
Foto: Lilo Oliveira

No bom humor e no contato constante com seu público, Karol continuou mostrando o poder de sua voz, indo desde letras que exaltam o empoderamento feminino (como “100% Feminista“, “Dominatrix” e “Lalá“) até improvisos. Ela mostrou que uma mulher também consegue estar no topo com um discurso poderoso sobre sua vivência. Como ela conversou conosco na nossa entrevista exclusiva, a mulher ainda não tem o espaço merecido no mundo da música, e tentar mostrar para o público que isso é possível é uma das principais bandeiras de Karol.

Uma das mais interessantes características dos shows da curitibana é o constante contato com o público. Dessa vez, a própria Karol ficou surpreendida com o talento de três homens que foram convidados a subir no palco para acompanhar a performance de “Vogue Do Gueto“.

Pouco tempo depois, participantes do coletivo Slam das Minas, que estavam à frente do palco, pediram para Karol para subirem no palco. Após a aprovação da cantora, três jovens foram até lá e roubaram a cena! Versando sobre violência contra a mulher elas mostraram, sem nenhum acompanhamento musical, o poder do discurso e da voz ativa. A própria Karol ficou impressionada, e inclusive propôs futuras parcerias. Uma delas disse, sob aplausos do público: “Você é uma poeta foda!”.

Karol Conka no Circo Voador
Karol e uma das integrantes do Slam das Minas. Foto: Liz Lemos

Essa afirmação existencial continuou. Dali até o final do show foram mais nove músicas, incluindo a participação de WC no Beat em “Nossa Que Isso“, e o grande final com as já clássicas “Tombei” e “Boa Noite“.

Abaixo, você confere fotos e as setlists completas de ambos os shows!

Que noite! Obrigado pela aula, Karol Conka e Xênia França! Vocês somam muito à música brasileira.

Xênia França no Circo Voador (26/04):
1 – “Pra Que Me Chamas?”
2 – “Preta Yayá”
3 – “Minha História”
4 – “Miragem (Sem Razão)”
5 – “Destino”
6 – “Tereza Guerreira”
7 – “Perfeita Pra Você”
8 – “Reach The Stars”
9 – “On & On” (cover de Erykah Badu)
10 – “Respeitem Meus Cabelos, Brancos”
11 – “Nave”

Karol Conka no Circo Voador (26/04):
1 – “Kaça”
2 – “É O Poder”
3 – “100% Feminista”
4 – “Bem Sucedida”
5 – “Vida que Vale”
6 – “Desapego”
7 – “Saudade”
8 – “Sandália”
9 – “Dominatrix”
10 – “Suíte”
11 – “Lalá”
12 – “Vogue Do Gueto”
13 – “Toda Doida”
14 – “Lista VIP”
15 – “Bate a Poeira”
16 – “Você Falou”
17 – “Gandaia”
18 – “Você Não Vai” (com samples de “I Like It”, de Cardi B)
19 – “Nossa Que Isso” (com WC no Beat)
20 – “Tombei”
21 – “Boa Noite”