E a longa espera finalmente acabou. Emicida, após dar algumas dicas sobre o que está por vir em sua carreira, disponibilizou oficialmente a aguardada novidade. Trata-se da faixa “Eminência Parda“. É a terceira canção lançada por ele este ano, após “Vital” e “Mil Coisas” (em parceria com Drik Barbosa).
Após chamar atenção dos fãs, preparando terreno para o lançamento da faixa lançada hoje (09), a canção contou com ilustres participações especiais. Cantam também Jé Santiago, o português Papillon e a paraense Dona Onete.
Por sinal, a participação de Dona Onete na música revive versos do segundo canto do álbum O Canto dos Escravos. A referência ao álbum já havia sido adiantada por Emicida, mas até então não havia ficado claro como seria feita.
O que é eminência parda?
Em termos políticos, o termo “eminência parda” diz respeito a uma situação onde determinado sujeito não é o governante supremo de uma localidade, mas é quem está no poder.
Por sinal, a música conta com diversas outras referências que mostram sua relação com o ativismo negro. Além da utilização do trecho de O Canto dos Escravos, até a fonte utilizada na capa do single, intitulada “Cooper Black”, tem associação direta ao movimento negro. Na época de sua criação, os críticos norte-americanos a classificavam como “ameaça negra”. Por sinal, é trata-se da mesma fonte utilizada na logo da série Dear White People.
Vocês já ouviram falar na fonte Cooper Black? Talvez não mas, se você já viu "Dear White People", provavelmente possui alguma familiaridade com ela. Essa é uma thread de um designer para não-designers que explica essa relação tipográfica com o Ativismo Negro pic.twitter.com/1Do6LhMtHV
— Waguin (@waguinreal) September 22, 2018
E, claro, há referências históricas na letra também. A discussão social sobre padrões impostos se mostra presente ao longo da canção, conforme versa Emicida:
Minha caneta tá fodendo com a história branca
E o mundo grita: ‘não para, não para, não para’
Então supera a tara velha nessa caravela
O clipe
Dirigido por Leandro HBL (que já trabalhou também com Tiê e com Leo Justi), o videoclipe da música é um tapa na cara daqueles que acham que “não existe racismo no Brasil”.
Uma família negra sai para comemorar a conquista acadêmica de sua filha em um restaurante “rico” da região. O que parecia ser apenas uma saída qualquer causou incômodo nos presentes. Todos brancos, eles associam o passeio da família protagonista a um evento anormal, e isso fica claro através de suas expressões de espanto e inconformidade.
O vídeo se divide entre o que é real – a família comendo em meio a outras pessoas – com o que se passa pelo olhar dos outros clientes. Eles enxergam a família como pessoas sujas, assaltantes, funcionários de limpeza e escravos. Até Vitória, a personagem que está comemorando a conclusão de seu ensino superior, é associada à figura de uma garota de programa por homens brancos presentes.
Em um encontro com a imprensa ontem (08), Emicida inclusive falou que o vídeo teria um final diferente, mas ganhou esse que pode ser visto logo acima após o tiroteio por parte de militares que matou um músico e um catador de lixo no Rio de Janeiro.
Confira abaixo o clipe da canção. Qualquer semelhança com a nossa realidade não é mera coincidência.