The National arrisca com disco amplo e ambicioso em "I Am Easy To Find"

Dois anos após o lançamento de Sleep Well Beast, o The National está de volta com um trabalho amplamente colaborativo e bem mais ambicioso.

The National - I Am Easy To Find capa

Em meio a todas as mudanças que aconteceram no cenário indie ao longo das últimas décadas, é curioso notar como o The National conseguiu se manter incrivelmente consistente sem necessitar de grandes transformações sonoras.

No entanto, era possível notar que a banda estava precisando encontrar novas direções. Sleep Well Beast, o último disco lançado por eles, foi um trabalho precisamente calculado e muitíssimo bem produzido — mas em determinados pontos, era possível notar que o grupo estava começando a esgotar suas fontes de ideias.

Publicidade
Publicidade

Foi nessa época que o diretor Mike Mills entrou em contato para discutir a possibilidade de criar um curta metragem baseado em demos que a banda estava trabalhando durante as sessões do disco. O resultado criado por Mills inspirou os membros do grupo a voltarem ao estúdio para finalizar I Am Easy To Find, que serve como uma espécie de acompanhamento para o filme, uma história emocionante na qual Alicia Vikander interpreta uma mulher desde o seu nascimento até sua morte.

Em todos os sentidos possíveis, I Am Easy To Find funciona mais como um trabalho colaborativo do que apenas outro título no catálogo do National. Os vocais de nomes como Lisa Hannigan, Sharon Van Etten e Gail Ann Dorsey não foram colocados apenas para complemento das músicas. Em diversas canções como “Hey Rosey” e também na faixa título do álbum, eles ficam em primeiro plano e delegam Matt Berninger para um papel de coadjuvante — algo difícil de se imaginar para uma banda que sempre foi tão dependente de sua voz principal.

Isso não significa que o líder do grupo tenha sido esquecido. Berninger soube aproveitar bem os seus momentos de protagonismo em músicas como “You Had Your Soul With You”, primeiro single do disco, e “Rylan”, uma canção composta pelo grupo há mais de cinco anos que só chegou a ser finalizada para esse álbum — com direito a novos arranjos e letras.

Além das letras e dos arranjos vocais, a produção do disco também merece destaque. Apesar de não receber uma atenção especial na mixagem, a bateria de Bryan Devendorf é extremamente completa e se molda perfeitamente com os diversos arranjos de orquestra, pianos e guitarras que comandam a maioria das canções — em especial, faixas como “Quiet Light” e “The Pull of You” possuem seções instrumentais impecáveis.

Porém, nem todas as ideias da banda funcionam da forma planejada. “So Far So East”, por exemplo, peca pela sua duração e acaba se arrastando sem oferecer uma conclusão satisfatória. Já as faixas de interlúdio, “Her Father In The Pool” e “Underwater”, não possuem exatamente uma justificativa para estarem incluídas na lista de faixas do álbum — ambas são subdesenvolvidas e “ajudam” a tornar a segunda metade do disco bem menos marcante em relação à primeira metade.

Mas apesar dos deslizes, I Am Easy To Find é uma obra peculiar e muito justificável, principalmente quando digerida ao lado do filme que a acompanha. Esse é o disco mais ambicioso e expansivo da discografia do National, uma obra feita por músicos experientes que decidiram transformar sua sonoridade de forma natural, sem mudanças apelativas ou súbitas. As colaborações com um elenco rotativo de mulheres talentosas e a parceria com Mills para criar o curta mostram que a banda está mais do que disposta a tomar riscos, mesmo que eles nem sempre funcionem. Esses são sinais de que uma banda está evoluindo — e poucas conseguem fazer isso de forma tão graciosa quanto o The National.

Sair da versão mobile