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Não se engane: o Dead Kennedys já implodiu há mais de 30 anos

Brigas judiciais, separação de Jello Biafra e 20 anos de shows sem material inédito: crise no Brasil está longe de ser primeiro problema do Dead Kennedys.

Não se engane: o Dead Kennedys já implodiu há mais de 30 anos

Nos últimos dias nós falamos bastante sobre o Dead Kennedys por aqui. Mesmo.

Isso não se deve, porém, a novas produções da banda, relançamentos de grandes materiais ou qualquer coisa que tenha a ver com a parte artística do lendário grupo punk em si. Infelizmente, as matérias foram todas a ver com uma grande confusão por causa da não-turnê dos caras pelo Brasil em 2019.

Dead Kennedys no Brasil

Dead Kennedys Cancela Shows no Brasil
Foto: Reprodução/Facebook

Exatamente pelos últimos dias, o Dead Kennedys deveria estar levando a sua turnê de 40 anos da banda para cidades do país, mas os shows foram cancelados após um grande incidente envolvendo o cartaz criado para divulgá-los.

Nós já falamos a respeito de tudo por aqui cerca de um milhão de vezes, e você pode encontrar os links clicando aqui.

O que gostaríamos de destacar hoje, porém, é que não é de agora que os Kennedys se envolvem em confusões, troca de acusações e brigas: pra falar a verdade, a banda basicamente chegou ao fim em 1986, há nada mais, nada menos do que 33 anos.

Jello Biafra e o fim da banda

O Dead Kennedys foi fundado em 1978 e sua formação clássica foi formada por Jello Biafra (vocais), East Bay Ray (guitarra), Klaus Flouride (baixo) e D.H. Peligro (bateria), sendo que Biafra era o responsável pelas principais composições da banda, recebendo ajuda ocasionalmente de seus colegas.

Além disso, além de ser o principal compositor, Jello Biafra também tinha estilos bastante únicos tanto para cantar quanto para escrever. Suas letras ácidas para falar de questões políticas e sociais eram acompanhadas de um jeito de cantar que era todo dele, como uma espécie de mensageiro que parecia carregar suas palavras ao público com uma dose cavalar de ironia que exalava pelos poros.

Em 1986, após quatro discos de estúdio na bagagem, o DK se viu desiludido com a situação dos Estados Unidos e com a cena Punk: a comunidade do Hardcore que antes era tão frutífera e aberta para diferenças, provendo espaço para a criatividade, agora se transformara em um ambiente violento, infestado de violência, drogas e mortes, tendo inclusive a influência de neonazistas tão criticados por Jello Biafra e sua banda.

A decisão veio pelo fim das atividades e todos os integrantes passaram a se dedicar a trabalhos solo.

Volta do Dead Kennedys

Acontece que 15 anos depois, em 2001, Ray, Peligro e Flouride decidiram retomar as atividades sem Jello Biafra, já que ao final dos Anos 90 a banda e o vocalista se desentenderam completamente e foram parar na justiça.

Os integrantes descobriram que a Alternative Tentacles, gravadora de Jello que lançava os discos do grupo, havia feito repasses equivocados de royalties para os seus integrantes e não ficaram nada satisfeitos.

Biafra foi condenado a pagar a diferença dos royalties e outras multas. Além disso, quando o júri decidiu que ele teria feito os repasses equivocados de propósito, ainda forçou a Alternative Tentacles a devolver os direitos dos discos do Dead Kennedys para a Decay Music.

É claro que não havia clima para uma reunião e os três integrantes recrutaram Brandon Cruz (Dr. Know) para os vocais, e embarcaram em turnê pelo mundo primeiro com o nome DK Kennedys, usando depois o original.

Logo em 2003, Cruz foi substituído por Jeff Penalty, que por sua vez foi trocado em 2008 por Ron “Skip” Greer (Wynona Riders) e disse que a saída não foi nada amigável, alegando que o grupo já havia recrutado outra pessoa sem avisá-lo de que ele deixaria o Dead Kennedys.

Formação atual, shows e nada de material

Se você reclama do Los Hermanos voltar a cada três ou quatro anos sem um disco novo para turnês onde toca apenas músicas do seu catálogo, saiba que o Dead Kennedys faz isso há quase 20 anos.

Desde que se reuniu em 2001 até hoje, a banda nunca mais lançou um novo álbum, provavelmente por saber que jamais conseguiria ter a mesma linha artística e o mesmo impacto sem as letras contundentes e a presença de palco de Jello Biafra.

Com Ray, Peligro, Flouride e Skip, os caras têm celebrado seus 40 anos de carreira tocando clássicos escritos por Jello e os únicos lançamentos vieram através de formatos artisticamente questionáveis, com discos ao vivo e coletâneas.

São 40 anos de banda mas, na prática, seis ou sete anos de atividade pra valer, desde que lançou o sensacional disco de estreia Fresh Fruit For Rotting Vegetables em 1980 até o fim com o polêmico Bedtime For Democracy em 1986.

E hey, não me leve a mal: o Dead Kennedys é um dos grupos mais influentes de todos os tempos e suas músicas são algumas das mais importantes da história ao abordarem questões políticas e sociais em períodos tão difíceis quanto os que vivemos hoje.

Essa formação que viria ao Brasil, porém, e se perdeu no meio de uma história de aprova/não aprova, cancela/não cancela, já se perdeu outras vezes com questões de integrantes que saíram, batalhas legais, turnês questionáveis e mais.

O Dead Kennedys era incrível. O Dead Kennedys que viria ao Brasil, não tanto assim.