Depois de já termos falado da importância de Titanomaquia, sétimo álbum da discografia dos Titãs e o primeiro com a produção do americano Jack Endino (Nirvana, Mudhoney), resolvemos nos adentrar nos méritos de outro álbum – tão importante quanto – na carreira dessa que é uma das maiores bandas do Brasil.
Õ Blésq Blom foi lançado no segundo semestre de 1989, portanto, nesse ano completa o seu trigésimo aniversário. Com esse distanciamento, conseguimos ver hoje o quão influente e importante esse disco foi para toda a história da música brasileira a partir de então.
Titãs
Depois do ótimo Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas (1987) e o ao vivo Go Back (1988), os Titãs já eram uma banda em alta no Brasil, tendo inclusive excursionado fora do país, com direito a uma apresentação no histórico Montreux Jazz Festival.
Com uma discografia que ia se consolidando e sendo respeitada tanto pelo público quanto pela crítica, a formação clássica dos Titãs, juntamente de seu produtor Liminha, já em seu terceiro trabalho com o grupo, resolveu inovar ainda mais em sua sonoridade e, assim, ir mais a fundo em ritmos tradicionalmente brasileiros.
A diferença gritante que Õ Blesq Blom tem dos demais álbuns da carreira dos Titãs já é estampada na sua introdução, feita com um repente cantado por Mauro e Quitéria, um casal descoberto pelo grupo em uma de suas passagens por Recife (PE).
Fazendo a introdução desse trabalho, o cantar ímpar e de difícil entendimento da dupla é ligado com a canção “Miséria”, que já mostra a cara da nova proposta que a banda traz para esse disco.
Mauro e Quitéria voltam a aparecer na vinheta final do álbum e também no clipe que os Titãs produziram para essa segunda faixa.
Só essa adição curiosa já mostra a influência que esse disco teve, pois ele foi feito alguns bons anos antes do estouro do movimento manguebeat, que justamente buscava misturar ritmos nordestinos, como o repente e o maracatu, dentro do rock. Então não é injusto supor que bandas como Nação Zumbi e Mundo Livre S/A tenham bebido da fonte do Õ Blesq Blom para a construção de sua sonoridade.
Misturando punk e new wave com batidas eletrônicas e esses novos elementos, o álbum conta com ótimas canções com letras desconexas como a de Nando Reis em “Racio Símio” e a bela reflexão de “Palavras”, cantada por Sérgio Britto.
Palavras não têm cor
Palavras não têm culpa
Palavras de amor
Pra pedir desculpas
Palavras doentias
Páginas rasgadas
Palavras não se curam
Certas ou erradas
A energia punk onipresente dos Titãs aparece nas volumosas guitarras de “Medo”, a primeira aparição de Arnaldo Antunes em Õ Blesq Blom, e na marcante “32 dentes” assumida por Branco Mello.
Branco também é a voz que apresenta o grande hit do álbum e um dos maiores da carreira dos Titãs: “Flores”. Com sua letra poética e o inesquecível saxofone de Paulo Miklos, a canção foi um sucesso imediato e também voltou a ser destaque em sua versão feita para o Acústico MTV, com a participação mais do que especial de Marisa Monte.
Além de possuir músicas com melodias inconfundíveis e que marcam presença no setlist da banda até hoje, Õ Blesq Blom ainda conta com faixas como “O Camelo e o Dromedário” e “O Pulso” onde a banda se utiliza de spoken word, o método falado que era ainda uma grande novidade na música brasileira.
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Na primeira delas, Paulo Miklos divaga sobre os motivos das diferenças entre as duas corcovas do camelo e a corcova única de um dromedário.
Postos frente a frente causam a mesma impressão
Mas quando postos de lado faz-se logo a correção
O Camelo difere do Dromedário que só tem uma corcova
O Dromedário já difere do Camelo por ter lá suas duas corcovas
Já em “O Pulso”, Arnaldo Antunes utiliza a faixa para simplesmente citar diversas doenças e incluir entre elas: raiva, estupidez, ciúmes e outras patologias – de existência cientificamente comprovada ou não.
Eleito por muitos veículos como o maior álbum daquele ano, e também mencionado entre os melhores da carreira do grupo, Õ Blesq Blom é definitivamente único, pois quando comparado aos seus antecessores e sucessores, vê-se nele algo de muito particular, justamente por ser os Titãs uma banda que evitava se prender às suas fórmulas de sucesso.
Completando 30 anos em 2019, é inevitável vermos a importância e a individualidade que esse disco teve na história da música brasileira e principalmente na carreira da banda, que ainda hoje permanece na busca de se “recaracterizar” a cada novo trabalho.
A Melhor Banda do Mundo, segundo Eu Mesmo #2 – Titãs
Para saber mais sobre toda a carreira dos Titãs, a nossa equipe passeou por toda discografia da banda no nosso podcast “A Melhor Banda do Mundo, segundo Eu Mesmo”, que ainda conta com uma entrevista exclusiva com os membros fundadores Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto.