Entrevista Exclusiva: O Terno e a individualidade coletiva em "atrás/além"
Chegando ao quarto trabalho de estúdio e já em turnê, o trio paulista O Terno nos traz muito mais detalhes sobre o que há de vir. Confira a entrevista!
Em turnê de lançamento do disco <atrás/além>, o trio paulista O Terno definitivamente encontrou o seu lugar.
O quarto disco da banda traz um sinal de maturidade como confirmação que, desde o começo da carreira, eles já sabem o que é fazer música, ao encontrarem as suas referências consolidadas. O que antes era uma “banda de colégio”, hoje não é mais. “É mais uma emancipação, por assim dizer,” como afirma Tim Bernardes, vocalista e compositor. Assim como o conceito explícito na capa: os três pontinhos, denotando a individualidade de cada integrante.
Em seu disco solo, Recomeçar (2017), Tim traz sonoridade mais contemplativa, como o uso predominante do piano e do violão, e um foco maior nas letras. Em <atrás/além>, há um reflexo disso: outros formatos em comparação aos outros discos do trio, e letras mais reflexivas. Basicamente, é prosseguir com a essência do Recomeçar, mas também trazendo o cerne coletivo d’O Terno.
O disco vai além do que é dito. Há quem aceite o fato de estar envelhecendo, e outros almejam simplesmente descansar, mesmo com tão pouca idade. É respeitar o tempo e a complexidade dele. E é exatamente com essa dualidade que a gente introduz a entrevista exclusiva com Tim Bernardes, para o TMDQA!.
Confira abaixo na íntegra, junto com os vídeos divulgados pela banda: TMDQA!:<atrás/além> é definitivamente um disco que traz faixas de estrutura mais simples, principalmente em comparação ao Melhor do que parece, por ser até um tanto mais “gritante”. Isso já foi algo pensado a princípio ou foi se alinhando no processo de produção?
Tim: Foi uma coisa natural, uma coisa dessa safra de composições e desses momentos intrínsecos da vida. Por ter sido um disco que veio logo após o Melhor do que Parece, que é bem solar, e também do Recomeçar, que é mais pra dentro, creio que chega num clima mais intimista, mas é uma coisa do grupo tocando junto. É um disco mais calmo, mas também com arranjos grandes. As composições tinham um pouco disso, e, quando fomos construindo, a coisa foi se lapidando. Mas o conceito e as canções já tinham uma cara, quando as compus.
TMDQA!: As letras do disco aparentam ser mais resignadas e críticas, que cabem até mesmo às interpretações de outros. Alguns atribuem ao fim de algo (até da banda), enquanto outros atribuem a um sinal mais evidente de amadurecimento. Para O Terno, o que de fato é?
Tim: O disco, embora nas letras busque uma simplicidade, fala de coisas mais abstratas… existem questões mais profundas, mais existenciais, sabe? Fala sobre o vazio, crescimentos, partidas – seja no sentido de início, ou no sentido de fim. Então, tem muitos símbolos escondidos proposital ou inconscientemente nas letras que representam o fim dessa fase, da “banda da escola”, que começou há 10 anos atrás. E olha onde isso chegou!
De algum forma, é um disco que reflete esse tempo todo, constatando o fim dessa juventude, dessa fase especificamente. Também é uma mensagem de estar aberto para o que vem depois, um disco de entrada na vida adulta e as reflexões em relação a isso. Não que seja tão clara essas divisórias, de vida adulta, juventude, adolescência, mas ele reflete características do momento em que a gente tá vivendo.
TMDQA!: Em questão da parceria com Shintaro Sakamoto e Devendra Banhart foi algo bastanteemblemático no disco. Como fluiu essa parceria, foi algo estratégico?
Tim: Na verdade foi bem espontâneo. Tínhamos feito o show de abertura do Devendra, em São Paulo, e em sequência, fomos fazer um show na Alemanha, em que o Shintaro e o Devendra estavam. E lá bateu muito o santo, a gente gostou muito do shows deles, e eles gostaram do nosso. Então, quando voltamos e fomos gravar “Volta e Meia”, imaginamos a participação. E nos sentimos à vontade pra fazer o convite, sem forçar a barra, por e-mail e eles se empolgaram também. O Shintaro gravou no Japão, o Devendra nos Estados Unidos, e os dois mandaram pra gente. Foi uma coisa muito tranquila, de admiração mútua, um rolê relax!
TMDQA!: Sobre as redes sociais, o trabalho é bastante intenso e atrativo, como nos stories da banda e vídeos de plano-sequência com a participação da voz do Google Tradutor. Isso é algo bem “faça você mesmo”, ou há todo um roteiro e planejamento acerca disso?
Tim: É um “faça você mesmo” planejado, a gente gosta muito de ter ideias e de pensar “que tipo de loucura que a gente poderia fazer?”. Isso é parte da linguagem dos stories, ser uma coisa que não é uma grande produção, com alguém filmando e por aí vai. O legal é que tem vídeos elaborados, esquisitos ou criativos só com um celular na mão, fazendo alguma doideira. E a gente sempre gosta mais do que repetir algum formato que gostamos, tentamos inventar uma roupagem nova. É ver a mídia social como uma extensão do nosso terreno criativo, como a gente quer inventar alguma coisa musicalmente ou achar uma cara nossa no clipe.
TMDQA!: Eu vi que vocês trouxeram uma roupagem nova com o Google Tradutor, uma versão diferente de “Star Treatment”, do Arctic Monkeys, para anunciar que iriam abrir o show dos caras. Até um tanto clichê, mas como foi abrir o show dos caras e fechar a turnê do MDQP dessa forma?Tim: Foi muito interessante ver o show do Arctic Monkeys de perto, ver a estrutura e fazer a abertura. Porque eu vejo que O Terno se vê num momento muito de romper um público exclusivamente alternativo. Já há alguns anos que estamos saindo de uma bolha e tendo um público alternativo um pouco maior. E o AM é um símbolo interessante disso, de uma banda da cena alternativa que movimenta milhares de pessoas. Então sinto que a gente tá chegando nesse momento, fazendo show ali, ver que o público do Arctic Monkeys estava cantando nossas músicas, ver como é possível uma banda de dentro do alternativo ter uma estrutura bacana dessa.
Pra gente foi muito simbólico e muito legal, estar nesse momento de saltos, de expandir o público, de mostrar a nossa música, do jeito que a gente gosta de fazer, só que para um número maior de pessoas. É maravilhoso abrir pro Arctic Monkeys, assim como também fiz a abertura para o Los Hermanos, no Maracanã, porque podemos começar a observar como o lugar que a música alternativa pode ter: não sendo sinônimo de underground ou seleto.
TMDQA!: Pois então, creio que não há como não falar de “bielzinho/bielzinho”, que tem um quê de Jorge Ben Jor. Foi intencional ou o foco foi refletir a vibe do Biel como tal?
Tim: A música tem essa brincadeira, com esse tipo de samba meio descompromissado, mas com essa sonoridade orquestrada, que é de uma escola inaugurada pelo Jorge Ben. No disco, ela tem a função de quebrar um pouco a densidade que tem. Até o nome ser “Bielzinho/Bielzinho”, dá uma certa zoada no próprio conceito que a gente tá colocando seriamente ali.
É legal porque é uma característica d’O Terno de saber se levar a sério, mas também saber brincar. Ser livre pra poder fazer o tipo de música que a gente quiser, e falar no tom que a gente quiser. Em resumo, é uma leveza, uma canção de amizade, exaltando o quanto eu gosto de tocar com os dois e o astral do Bielzinho na banda.
TMDQA!: Existem também outras referências, especialmente brasileiras, nas outras canções?
Tim: Esse disco é o que tem menos referências propositais. Tem coisas que a gente foi assimilando na nossa formação musical e que são parte da nossa linguagem, e tem coisas que a gente foi desenvolvendo como uma linguagem própria, e nos últimos discos também. Tá tudo de uma maneira mais orgânica no <atrás/além>, não tá uma coisa de “vamos soar assim, vamos soar assado”.
Por ser um disco de banda com orquestra, que era feito com muita frequência nos anos 60 e depois não foi feito tanto, às vezes pode remeter a isso. Embora, seja muito atemporal esse tipo de formação, juntar banda e orquestra. É um disco de canção que comunica com a linha da MPB, mas também se comunica com o indie.
TMDQA!: E para concluir, você têm mais discos que amigos?
Tim: Tenho, tenho mais discos que amigos com certeza. Tenho muitos amigos queridos, mas os discos são muitos, continuam aumentando, então é uma batalha difícil de alcançar!
Turnê de lançamento de disco e Rock In Rio
A banda está oficialmente em turnê de divulgação do disco <atrás/além> e organizando os preparativos para o Rock In Rio. A agenda de shows pode ser vista na página oficial do Facebook, e os ingressos para os shows estão à venda por meio do link de cada evento. Mais datas vão surgindo também, então vale acompanhar pelo Instagram do trio.
Quanto ao Rock In Rio, a banda toca no dia 6 de Outubro, que já está com ingressos esgotadíssimos. Compondo a line-up do Palco Sunset, O Terno se junta à banda portuguesa Capitão Fausto para fazer deste show ainda mais sensacional.