A forma como a gente consome música tem mudado diariamente, e muito se deve aos hits que escutamos vez ou outra. Ao invés de lançar um disco, muitos artistas apostam nos singles. Algo pronto, sem um conceito propriamente elaborado. O foco é grudar a qualquer custo, e gruda.
Para ser mais específica, o funk alcançou o topo do pódio fazendo desse formato ser um padrão. Ainda mais quando se trata do 150 BPM, conhecido como “ritmo louco”, que ganhou uma notoriedade gigante por todos os cantos do Brasil.
E parece que há um script: lança-se um single, torna-se viral, ganha coreografia de tudo quanto é jeito, toca nas rádios, em sons automotivos e até no Lollapalooza. E foi isso o que aconteceu com MC Kevin o Chris, um dos nomes que propagam o Baile da Gaiola para o país inteiro.
Por conta da agenda lotada de shows e gravações, o artista fica longe de sua comunidade em Caxias, no Rio de Janeiro. Em um bate-papo para o TMDQA!, ele sempre faz questão de enfatizar suas raízes, e mostra que é um dos grandes nomes do funk 150BPM. Para entender um pouco o sucesso do MC de 22 anos, confira abaixo sobre os caminhos do funk, as parcerias com o Dennis DJ e até sobre o próprio Baile da Gaiola.
Origens e referências
A paixão pelo funk foi despertada em Kevin de Oliveira aos 14 anos, e desde então suas referências seguem daí.
Kevin: Quando eu vi o DJ Brankynho ao vivo, logo fui pesquisar sobre o ‘bagulho’. E meu primeiro trabalho foi com o DJ Davizinho, o nome da dupla era Chris e Greg, por conta do seriado “Todo mundo odeia o Chris”. Mas aí a gente se desfez e eu fiz questão de continuar com o nome. E minhas referências são muitas. Eu gosto muito da galera das antigas, com o Catra, e a galera de agora também, tipo o G15.
Viral
Dono de hits como “Dentro do Carro” (com o ótimo sample de “Day Tripper”, dos Beatles),“Eu Vou Pro Baile da Gaiola”, “Finalidade Era Ficar Em Casa” e uma das mais recentes, “Ela é do Tipo”, Kevin tem aproveitado o auge lançando bastante material, firmando a ideia de ser um dos novos clássicos do funk. De clipes, singles e até fazendo participação com outros artistas, perguntamos para ele a razão de lançar apenas singles e não um disco inteiro.
Kevin: Além da galera consumir mais rápido, a gente não pensa muito no planejamento antes de lançar as músicas, sabe? Foi uma parada que aconteceu e deu certo. A gente lançou um EP no Spotify, mas o foco é lançar mais coisas.
Baile da Gaiola, Rennan da Penha e a importância do Funk
Falar de funk é lembrar da gaiola
Kevin faz parte de uma nova geração de DJs e produtores que trouxe mais uma vez o destaque para o funk carioca. Como MC, ele carrega consigo o nome do Baile da Gaiola, da Penha, zona norte do Rio.
Kevin: Eu não tô sozinho nessa, tem pessoas que trouxe o nome do Baile da Gaiola pro país. Rennan da Penha, Zullu, o FP do Trem bala também trazem, só que eu como MC, e eles como DJs. A gente tem consciência que levamos o Baile da Gaiola com a gente, o Complexo da Penha tá dentro da gente o tempo todo. Agora rola Baile da Gaiola no Brasil todo. Falar de funk é lembrar da Gaiola.
No decorrer da conversa, falamos sobre Rennan da Penha e a polêmica do Baile da Gaiola. Idealizador do baile, Rennan foi condenado no dia 18 de março, em segunda instância, a seis anos e oito meses de prisão por associação ao tráfico de drogas. O mandado de prisão foi expedido pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), de acordo com o R7. De acordo com especialistas, não há provas contundentes e houve possivelmente um julgamento equivocado. Muitas pessoas se posicionaram por conta da perseguição política com o DJ, como Baco Exu do Blues em seus shows, até mesmo sobre o risco do baile chegar ao seu fim.
Kevin: Em alguns shows eu comento, me posiciono sobre isso, mas não todos. Mas espero que o melhor aconteça, porque o funk – em lugar nenhum – pode acabar, tá ligado? É uma indústria muito grande, dá emprego pra muita gente. Se acabar com o baile, muita gente fica desempregada, isso movimenta dinheiro pra comunidade inteira. Tem muita gente que depende do funk pra sobreviver, é sustento pra muita família. Os caras que carregam equipamento, os DJs, a galera que vende bebidas, é tudo! Eles estão levando alimento pra casa por conta disso.
Lollapalooza e reconhecimento
O funk tem atingido nichos gigantes. Um exemplo nítido disso é o Lollapalooza, onde MC Kevinho foi escalado para tocar no Chile, e a participação de Kevin no show do Post Malone, um dos co-headliners do Lolla Brasil desse ano. Ainda que seja um gênero omisso na lineup principal do festival, a aparição do MC comprova o quanto o funk agrega uma certa relevância. Como reflexo disso, a canção “Ela é do tipo” alcançou o top 10 viral global do Spotify.
Kevin: Foi muito gratificante ver a resposta do público, e surpreendente porque eu não achava que seria do jeito que foi. E existe um choque de realidade, mas eu fico felizão porque a parada tá expandindo. Nosso trampo tá ganhando uma proporção muito forte, e quando a gente alcança todos os públicos, é sinal que a parada tá dando certo. A gente tá agregando a galera da comunidade, da classe média, alta… todo mundo mesmo! E de todas as faixas etárias também, de criança a idoso, sempre vejo a galera me mandando vídeo de avó dançando. É gratificante demais.
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Parcerias
Com músicas lançadas geralmente com parcerias, vemos sempre o funk se consolidar muito mais com um coletivo. Funkeiros se juntam como uma força vital para propagar o gênero como manifestação cultural, com sucessos milionários e críticos agressivos. Como prova disso, Kevin O Chris mantém a chama acesa com parcerias e mantendo o gênero cada vez mais acessível, juntando forças com grandes nomes, como Dennis DJ.
Kevin: Ter essas parcerias é fundamental. Com o Dennis DJ, por exemplo, deu um loop gigantesco. A parada explodiu, agregou até um público novo pra gente. O que antes era conhecido só na comunidade e até no Rio de Janeiro, mas no Brasil não tinha visto. Ele (Dennis DJ) trouxe um gás muito grande para fazer o nome do baile ser reconhecido no país inteiro! E a gente segue firme nessa.
Kevin O Chris tem mais discos de amigos?
Na verdade, não. Segundo o próprio, ele tem mais singles que amigos.
Que o mundo seja pequeno para ele e o funk carioca.