Entre o indie e o forró, as mulheres protagonizaram segunda edição do Queremos! Festival

Duda Beat, Luedji Luna, Jade Baraldo, Criolo, Baco Exu do Blues e mais se apresentaram para 8 mil pessoas na Marina da Glória (RJ).

Gal Costa no Festival Queremos! 2019
Foto: Patrick Sister

Da MPB à música disco, passando por hip-hop, blues, som de orquestra, indie, forró e pop. Isso foi apenas um pouco da segunda edição do Queremos! Festival, que aconteceu no último sábado (15) na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, e levou ao lugar cerca de 8 mil pessoas.

A maratona durou cerca de mais de 14 horas de música ininterrupta. Distribuídos em 2 palcos, foram 12 shows dançantes dos mais variados estilos.

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Vamos contar para você os melhores momentos da noite. Mas podemos adiantar que foram vários, hein!

 

Protagonismo feminino do indie ao pop

A abertura do evento, que começou por volta das 14h30, ficou por conta da Orquestra Petrobras Sinfônica, que mandou muito bem na apresentação “Bohemian Rhapsody“. Depois, foi a vez da banda goiana Carne Doce mostrar o seu indie rock ao público. Mesmo passando por problemas técnicos, o grupo liderado pela ótima Salma Jô entregou um show ao mesmo tempo cativante e envolvente. Parte da setlist foi focada no mais recente lançamento do grupo, o disco Tônus, um dos melhores nacionais de 2018.

A programação então voltou ao Palco Rosa para a apresentação de Jade Baraldo. A compositora catarinense, mesmo sem ter álbum lançado até então, dominou o público com seu carisma. No palco, estava acompanhada apenas por seu DJ e dançarinos, mas preencheu o espaço com maestria digna de uma grande popstar.

Foto: Patrick Sister

Após passar pelo indie goiano e pelo pop catarinense, o festival trouxe R&B e blues, emplacado pelos ritmos baianos da adorável Luedji Luna. “Vamos nos curar. Vamos nos amar,” pediu a cantora no show mais socialmente engajado até então. Quando se dirigia ao público entre as músicas, era sempre uma exaltação a algo. “Eu Sou uma Árvore Bonita” foi dedicada às cariocas, enquanto “Notícias de Salvador” foi uma saudação à sua terra natal. Após exaltar a figura de resistência da mulher negra no Brasil, ela pediu: “Parem de nos matar!”, antes de ser aplaudida por todo o público presente. “Ainda é um aviso”, alertou.

Foto: Patrick Sister

Alguns deixaram antes o palco de Luedji Luna para voltar ao palco Rosa. O motivo era uma das artistas em maior ascensão no pop brasileiro: Duda Beat. E a intérprete de “Bixinho” evoluiu muito, hein! Possivelmente em uma das apresentações mais aguardadas do evento, Duda e sua banda subiram no palco e aproveitaram muito bem o que foi deixado de fruto pelo álbum de estreia Sinto Muito.

A inquietude da cantora em relação a sua carreira, no entanto, fez com que o show fosse muito além do primeiro disco. A apresentação também teve em alguns de seus melhores momentos singles como o remix “Só Eu e Você na Pista” e a animada parceriaChega“, gravada com Mateus Carrilho. Duda ainda entregou uma animada cover com um arranjo surpreendente para “Say You’ll Be There“, clássico das Spice Girls. Ah, e é claro que rolou “Chapadinha”, a ótima versão abrasileirada de “High By the Beach“, de Lana Del Rey. “Aqui ou você se empodera ou você chora”, brinca a cantora sobre seu repertório eclético.

Foto: Patrick Sister

Mesmo pop, o show conteve críticas sociais e políticas que fizeram Duda ser ovacionada. O público comprou seus posicionamentos ao repetir a expressão “Lula Livre” e ao criticar o atual presidente Jair Bolsonaro. Antes da performance de “Todo Carinho“, a cantora se cobriu com uma bandeira LGBT.

E isso porque ela só tem um álbum lançado até então. Parece que Duda já está vivendo o seu sonho de ser uma grande cantora pop na cena nacional!

Queremos! Festival 2019

Teve atração internacional também. Allie X veio pela primeira vez ao RJ e mostrou ter uma força expressiva aqui. Vestindo roupas extravagantes, ela pegou o mesmo público animado pelo show anterior, usando sua sonoridade indie/eletrônica para mantê-los dançando. Deu certo.

A confirmação de Gal Costa no festival foi criticada por alguns, que alegaram não ser um show para o público do festival. Erraram. Como se a miscelânea musical cultivada até aqui não fosse suficiente, a tropicália e a MPB invadiram o show da cantora e deixaram o Queremos! ainda mais colorido e sonoramente interessante. Aparentemente, era a apresentação mais aguardada não apenas de um público mais velho presente, mas também de uma galera jovem! “A pele do futuro está aqui no Queremos!”, comentou a cantora, também fazendo referência ao nome de seu mais recente disco que a conectou de vez com uma geração completamente diferente.

Foto: Patrick Sister

Gal abriu a apresentação logo de cara com o clássico “Dê Um Rolê“, canção eternizada na voz de Moraes Moreira (Novos Baianos). Foi apenas o início de um show para lá de eclético, que fez uma viagem no tempo ao som de clássicos como “London, London” e “Volta“. Também foi um show visualmente muito agradável, e não por conta da serenidade de Gal ou do telão. Algumas partes da apresentação nos remetia a um espetáculo teatral. Ao interpretar “Chuva de Prata“, por exemplo, Gal abriu uma caixa que refletiu como um disco de espelho.

Uma bola preta que fazia parte do cenário foi um elemento importante para uma súbita troca de momentos no show. Pedindo para o público dançar, a decoração se tornou, em si, um globo espelhado, no melhor estilo disco music. Foi quando fez performances de “Sublime“, principal single de A Pele do Futuro. No mesmo contexto e já após o famigerado bis, Gal promoveu uma grande quadrilha no festival, embalada por “Festa do Interior” e outros clássicos da época de festas juninas.

É interessante notar que, até aqui, a liderança ficou toda por conta das mulheres. Elas de fato tomaram conta do festival!

 

Uma chance para os homens

O Palco Amarelo recebeu depois a Hypnotic Brass Ensemble que, perdoem o trocadilho, realmente hipnotizou o público. Misturando hip hop com os metais característicos de uma brass band, o grupo colocou o incansável público para dançar. Muito grato pela oportunidade, os integrantes fizeram ótimo uso do palco para expressar a gratidão e, é claro, os talentos musicais. Até escalar o palco rolou.

Pontualmente às 23h05, Criolo subiu para a sua apresentação no Palco Rosa. Emocionante, performático e carismático, nem mesmo uma constante tosse o desmotivou. Isso já ficou claro na abertura com a forte “Boca de Lobo“, enquanto versava banhado por luzes nas cores azul e vermelho – remetendo à ação policial.

O compositor focou sua apresentação em ideias envolvendo amor e resistência – o amor como forma de resistência e a resistência como forma de amor. Não apenas uma vez, Criolo pediu barulho de seu público, para mostrar que, juntos, aqueles que resistem são muito fortes.

Foto: Patrick Sister

O show se desenvolveu através de vários hits, sempre banhados em pautas sociais e políticas que vivemos atualmente. “Subirusdoistiozin” foi precedida por um discurso em defesa aos professores (e à educação). Boas vibrações foram solicitadas durante um momento em que um instrumental reggae tomou conta, em que Criolo, acompanhado por DJ DanDan e Daniel Ganjaman prestaram homenagem a Bob Marley.

Após o bis, Criolo, sem acompanhamento melódico, cantou “Menino Mimado“, obviamente afrontando o atual regime político. As últimas da setlist foram os clássicos “Não Existe Amor em SP” e “Convoque Seu Buda“.

Depois foi a vez de Baco Exu do Blues, também aguardado como uma das principais atrações do evento. Mantendo a estética visual e a narrativa da turnê de seu mais recente álbum Bluesman, o show começou com o telão exibindo um vídeo de uma apresentação onde B.B. King canta “Blues Man“, sucedido justamente pela fala que introduz a faixa com o nome do compositor e mostrando no telão fotos de nomes como Tupac, Liniker e Marielle Franco. O público foi ao delírio porque já sabia o que estava por vir: a faixa-título do cultuado álbum.

Possivelmente no show mais agitado da noite, Baco guiou o público de um lado para o outro, impedindo que qualquer um ficasse parado. “Me chamem de Moisés”, brincou o cantor ao pedir que o caminho até a housemix do palco ficasse livre.

Foto: Patrick Sister

Momentos marcantes do show? Todos. Claro, algumas mais consagradas tiveram resposta mais imediata do público, como “Abre Caminho” (onde todos se abraçaram e pularam alto). O público também deu cerca de 20 passos para trás e, após a ordem de Baco, todos correram para a grade, em uma brincadeira que o cantor chamou de “Tsunami”. Mas momentos mais calmos também marcaram presença, como durante a performance das faixas “Flamingos” e “Te Amo Disgraça” (que deram grande enfoque em sua poderosa banda).

 

Disco e forró para encerrar a noite

Pensa que acabou? Pensou errado!

Apesar de parte significante do público ter deixado a Marina da Glória após o show de Baco, muitos ainda ficaram para prestigiar o grupo italiano Nu Guinea.

Em sua primeira vez no Brasil com formação completa, a banda idealizada pela dupla Gu Mascio e Fabrizio Mammarella surpreendeu os presentes com um som preenchido e muita empolgação. Percebendo a resposta dos brasileiros ao dançante som, deu para perceber uma troca muito saudável entre artista e público.

“Vamos introduzir vocês ao som da Nova Nápoles”, comentou um dos integrantes antes de tocar as músicas de seu mais recente disco Nuova Napoli. Performances de destaque foram “Disco Sole” e a faixa-título. Ao longo do show, cada um dos integrantes teve seu momento de glória com um solo próprio. Isso que é sincronia de banda. Podem voltar mais vezes!

O encerramento efetivo da segunda edição do festival foi feito ao som de… forró! Isso graças à junção entre forró e eletrônica do Forró RED Light, que serviu para confirmar com chave de oura a proposta eclética do festival.

Foi ótimo! Nos vemos em 2020, Queremos! Festival.

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