OutroEu fala sobre novo EP, "Encaixe", primeiro gravado em formato de duo

Conversamos com Guto e Mike, da dupla OutroEu, sobre carreira, novo formato, show, influências, futuro e mais. Leia a entrevista exclusiva!

OutroEu

Por Nathália Pandeló Corrêa

Quando o Brasil conheceu OutroEu, o projeto era um quarteto participando do programa SuperStar, da Rede Globo. Três anos, um disco e feats com Sandy e Anavitória depois, ele surge repaginado voltando às origens: em formato de duo, com vocais, violões e guitarras de Mike Tulio e Guto Oliveira. Os músicos lançam, nesta sexta, seu primeiro EP, Encaixe, trazendo cinco faixas que são, ao mesmo tempo, pop e minimalistas. Construídas principalmente na base do violão, da guitarra, de percussões leves e das harmonias vocais dos dois integrantes, dessa vez as canções passeiam por influências mais solares e tropicais.

Essa foi uma escolha estética que acabou amarrando a identidade sonora de todas as canções, por isso estão sendo lançadas juntas. Elas vão ganhar os palcos em breve, com shows agendados no Rio de Janeiro (26/07 no Teatro Net Rio) e em São Paulo (01/09 na Casa Natura Musical). Mas OutroEu já prepara mais novidades: até o fim do ano, a dupla promete lançar seu novo disco, ainda em processo de produção. Entre a vontade de não se pressionar para o próximo passo e a total ousadia – tipo a ideia de convidar Caetano Veloso pra gravar uma participação especial -, Mike e Guto trilham uma linha tênue que cada vez mais se alarga: a do pop nacional embalado por melodias alegres, violões e vocais delicados e letras intimistas. Parece estar dando certo, e o Tenho Mais Discos Que Amigos! conversou com os artistas por telefone para falar sobre este novo momento.

TMDQA!: A gente conheceu OutroEu em um formato de banda, mas já no ciclo do disco anterior, vocês voltaram a aparecer como um duo. De certa forma, esse é o primeiro álbum gravado nesse formato. O que mudou pra vocês?

Guto: Em teoria e também na prática não mudou muita coisa, porque a gente se conhece há bastante tempo, compõe junto desde 2013. A gente tava junto fazendo tudo desde o início, então como voltamos a esse formato que já conhecíamos, não mudou muita coisa.

Mike: Essa mudança foi pra constatar que a gente estava no rolê certo. Ficamos uns 2 anos antes do SuperStar ralando, de tocar em sarau, conhecer gente, fizemos muitos sarau no Rio e em tudo que era lugar, tocamos em bar, casamento, a gente viajou pra fazer show. Em seguida à viagem, rolou o SuperStar. Aí decidimos voltar pro Brasil, e na estrutura do programa a gente mudou um pouquinho o caminho, então esse é o primeiro EP que a gente lança com esse nome nesse formato mesmo.

TMDQA!: Essa viagem que vocês falaram é de quando foram pra Londres?

Guto: É, o Mike estava lá há uns meses, eu estava de férias e pedi indicação dele de lugares pra viajar. Ele falou pra eu ir pra lá, a gente podia fazer uns shows e eu acabei indo.

Mike: Eu perguntei pra ele “você vem mesmo?” aí resolvemos passagem, pesquisei pub, tirei carteirinha da galera que toca na rua.

Guto: A gente alugou um motorhome pra viajar pra outras cidades… Foi uma experiência legal demais e que inspirou muito do que a gente fez dali em diante.

TMDQA!: Com relação ao disco anterior, acho que essa identidade do folk, do pop, da MPB já estava lá, mas eram arranjos mais encorpados – mais guitarra, quando você menos espera, entra um violino. O novo EP trouxe essa essência, mas de uma forma mais mais minimalista, mais direto ao ponto. Isso foi um decisão pelo formato de duo ou foi algo que foi acontecendo naturalmente de acordo com o que as músicas pediam?

Guto: Aconteceu bem natural, as músicas conversaram entre si. A gente queria fazer algo mais pro lado brasileiro, experimental, groovado e fomos explorando algumas possibilidades. Acabou que as músicas foram ficando mais minimalistas, mas era algo que a gente ia sentindo do que queríamos e do que a música pedia.

Mike: Foi muito motivado por esses desejos, mas também é o primeiro EP, um formato que nunca lançamos antes. A gente quis fazer algo um pouco diferente, mais puxado pra música brasileira mesmo. Por exemplo, é a primeira vez que a gente usou o violão de nylon. Mas vamos no que a música pede. A gente ficou esse ano e meio, compusemos essas músicas, elas pediam esses formatos. Foi algo que fluiu muito, o processo, a galera que tava com a gente, os produtores. Foi do momento. Começamos pela Encaixe e em seguida vieram todas as outras, por isso até a gente deu esse nome pra ela. Conversamos muito até chegar nesse resultado, e de Encaixe veio a guia para as outras faixas.

TMDQA!: Como disseram, vocês optaram por lançar esse EP antes do disco porque ele amarra bem a identidade dessas músicas, então temos 5 faixas que conversam entre si. O que a gente pode esperar do restante do disco? Vocês vão aproveitar essas cinco músicas e acrescentar mais algumas?

Mike: Uhm… será? (risos)

TMDQA!: Seria essa a pergunta de um milhão de dólares?

Mike: (risos) Boa, é sim! Na verdade, ainda não sabemos, mas tende pra não usarmos essas músicas no disco porque queremos vir com algo totalmente novo e do zero.

Guto: A gente pode falar que vai ter um pouco mais da essência do primeiro álbum, com pitacos desse e com coisas que viemos experimentando. Mas estamos fazendo esse processo com calma, no final do ano a gente vai saber melhor.

Mike: A gente já tá mentalizando o que queremos realizar, mas estamos botando a mão na massa bem aos poucos mesmo, porque estávamos muito envolvidos nesse processo do EP.

TMDQA!: Vocês falaram que passaram um ano “à procura da batida perfeita”, mas não sei se vocês sabem, o Marcelo D2 fala desde 2003 que a batida perfeita é dele.

Mike: Sim! (risos) A citação foi de propósito, a gente adora o D2 e até chegamos a procurar os produtores que trabalharam com ele e tudo mais.

TMDQA!: Esse disco inteiro é um marco, né? Mas a minha pergunta seria: vocês acham que conseguiram encontrar essa levada que queriam pra cada música?

Mike: Com certeza, é um disco sem defeitos! Mas a gente tá muito feliz com o resultado do EP.

Guto: A gente viu o que pensamos pra cada música se concretizando. O clima de todo mundo que trabalhou, os produtores, foi algo que rolou muito essa troca, ficamos muito felizes de ver que as pessoas estavam construindo junto com a gente.

Mike: É, no estúdio, a galera estava felizona, são músicos excelentes e quando a gente viu que eles estavam conseguindo imprimir nossas ideias nas músicas, tocando as coisas que tínhamos visualizado pras composições, foi algo que se encaixou perfeitamente.

TMDQA!: Acho que o nome OutroEu pode ter muitas interpretações e vocês já devem ter ouvido algumas bem diferentes! Mas é algo que me remete a se permitir conhecer um outro lado seu, explorar novas possibilidades, ao mesmo tempo que pode se reconhecer no outro, e os outros nas músicas de vocês. Faz sentido? Essa identificação pessoal e com o público é algo que norteia o trabalho de vocês?

Guto: Sim, faz muito sentido isso que você falou, porque com certeza é uma coisa que norteia muito o nosso trabalho.

Mike: É, até na época que decidimos o nome, chegamos a pensar “ficou meio existencialista, né?”

Guto: Mas é um nome curioso que gera uma indagação mesmo, e a gente gosta disso.

Mike: Pois é, as músicas falam muito de se conhecer, se transcender, e tem o fato de que nós dois temos muito em comum e era um nome que explicitava isso, de um se enxergar no outro.

Guto: A gente se vê muito um no outro, porque já trabalhamos juntos há bastante tempo, e tem a ver com isso também.

Mike: A gente concorda em muita coisa, ou então muda de opinião por causa do outro (risos).

TMDQA!: Eu sei que vocês já gravaram com a Sandy e Anavitória, mas acho que ter um feat com o Caetano deve ter um gostinho especial. É o tipo de coisa que você joga na cara daquela tia que falava que ser músico não ia dar em nada (risos).

Mike: Total! “Aqui tia, achou que eu não ia a lugar nenhum? Tá aqui uma música com o Caetano” (risos). Mas eu acho legal esclarecer isso, porque tá rolando uma fake news aí, às vezes uma palavrinha do release dá a entender que a gente gravou com o Caetano, mas na verdade não rolou ainda, e nem sabemos se vai rolar.

Guto: A gente ainda não tentou, pra falar a verdade. Porque a gente tem vergonha de tentar, afinal, é o Caetano, é o cara (risos). Mas tá mais no campo do sonho mesmo, a gente quer muito que role.

TMDQA!: Ah, tomara! Agora, vocês vêm da Baixada e imagino que isso seja parte importante das suas histórias, enquanto pessoas. E é uma região de onde saíram nomes marcantes da nossa música. Como vocês veem as possibilidades para os artistas ali, que estão sempre tão perto do Rio e ao mesmo tempo distantes do epicentro de onde as coisas acontecem?

Mike: Ah, mas é longe mesmo (risos). Mas é bem isso, de parecer ser perto e na verdade estar longe, e lá é uma bolha em si, como em toda cidade de interior. A gente passa muito por essa coisa, de toca muito de bar em bar, mas não passa disso, então decidimos sair daquele circuito. A gente fez um Sesc, em Nova Iguaçu, que é o maior do Rio, e lotou, então vimos a chance de ampliar a partir dali.

Guto: Era um show que era um outro projeto nosso, que era uma banda mais de noitada. A gente pensou justamente em furar essa bolha, botamos isso na cabeça e esse foi o primeiro passo mesmo, senão íamos ficar limitados a poucas opções.

Mike: Mas tudo partiu da nossa composição. O pensamento foi esse, a gente tem que fazer o nosso produto, tem que ter uma música. Talento só não prende a atenção de ninguém, tem muita gente talentosa por aí. Mas o que importa mesmo é o CD, é ter uma música que as pessoas ouçam e aprendam a cantar.

Guto: Exatamente. A gente sabe que imprime muito do que somos nas nossas composições, e as pessoas são tocadas a partir disso. Se não tivéssemos essas canções, elas não iam ter a que se conectar.

TMDQA!: Então de certa forma compor foi o passaporte de vocês pra ir além.

Mike: Total. Pra ampliar os nossos horizontes.

TMDQA!: Entre SuperStar e esse momento atual, já se foram 3 anos. Qual o balanço que vocês fazem desses passos iniciais na carreira e o que ficou de aprendizado?

Guto: Esse passo inicial foi um divisor de águas. Foi a nossa primeira vez na TV com música autoral, foi surpreendente, mostrou que a gente precisava continuar acreditando na nossa arte, nas nossas músicas, que a gente podia ir em frente.

Mike: A gente aprendeu muito de maturidade nesse processo também.

Guto: Em todos os sentidos, tanto artístico quanto no profissional, do marketing, do mercado mesmo.

Mike: Tem o lance de gerir a carreira, que a gente tem que dominar também.

Guto: É, não é só tocar, não é só compor, não é só cantar.

Mike: A gente vai aprendendo aos poucos, fazendo nosso caminho.