Estivemos no divertido Azkena Rock Festival, no País Basco

Leia nossa resenha do Azkena Rock Festival, evento que aconteceu na Espanha com Stray Cats, Wilco, Gang Of Four, Phil Anselmo e muito mais.

The Living End no Azkena Rock Festival
Foto por Azkena Rock Festival

Por Melvin Ribeiro

Os festivais de música não param de crescer e se multiplicar mundo afora, e chega uma hora que é difícil um mega evento surpreender: para atender as expectativas do público gigante e dos patrocinadores, a organização acaba sendo obrigada a apostar no famoso “mais do mesmo”, naquele artista que vende ingressos e lota com certeza, isso quando o pior não acontece: naquele festival inovador que você tanto aguardava a escalação vai ficando “eclética”, e numa dessas mal dá pra distinguir as escalações dos gigantes. Tudo igual.

Na busca do meu próximo favorito, para ficar ao lado dos eternos campeões Riot Fest e Primavera Sound, dei de cara com o Azkena Rock Fest, que desde 2002 acontece no início do verão espanhol, no país basco, em Vitoria-Gasteiz.

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O festival é totalmente roqueiro, com uma pegada mais velha, e já teve entre seus headliners Iggy & the Stooges, Joan Jett, Danzig, the Who e Blondie.

Azkena Rock Festival

Tudo começa na Sexta na praça Virgen Blanca, no centro da cidade, com um show na hora do almoço, onde a produção aproveita para entregar as pulseiras de quem comprou ingresso e a gente aproveita para sacar bem o perfil do frequentador do festival: muitas cabeças brancas e camisas pretas, com uma variação imensa de camisas do Stray Cats.

Mais tarde, 17 mil pessoas se dirigem à área do festival, um descampado ao lado do estádio de Mendizabala, com a temperatura baixa, frustrando quem esperava o início do verão e ajudando quem caprichou no figurino para a estreia da tour mundial da banda de rockabilly liderada por Brian Setzer.

O primeiro grupo a atrair mais público foi o Deadland Ritual, que justifica o já desgastado termo “supergrupo”. Fundado pelo baterista Matt Sorum (que você conhece do Guns n’ Roses e Velvet Revolver, entre outros), e com as presenças de Geezer Butler (Black Sabbath), Steve Stevens (que acompanha Billy Idol) e Franky Perez (Apocalyptica), o quarteto já entra com a cover de “Symptom of the Universe”. Com menos de um ano de carreira e apenas dois singles lançados, a solução do DR para agradar os festivais europeus é recorrer a covers, com metade do repertório pertencendo ao Sabbath (com direito a solo de baixo em “N.I.B.”), um Velvet Revolver (“Slither”) e um momento para Stevens brilhar em “Rebel Yell”. Um bom aquecimento, embalado pela alegria de presenciar de perto tantos ícones.

Stray Cats

Às 21h45, com o dia ainda muito claro, é a vez de todos os palcos silenciarem e as atenções se voltarem para o grande show da noite, Stray Cats. Eles que dez anos antes se reuniram para uma tour de despedida, estão na área com disco novo comemorando 40 anos de carreira e no festival abriram os trabalhos com “Cat Fight (over a dog like me)”, desse disco.

O trio chama atenção pela grande forma: o tempo parece não ter passado para Brian Setzer, Lee Rocker e Slim Jim Phantom, entrosados e aparentemente muito felizes por estarem de volta. “Runaway Boys” é a segunda do show e a partir daí a festa está completa, com destaque para os clássicos “Stray Cat Strut” e “I Won’t Stand in Your Way”.

Homenagem aos que se foram

Os três palcos do Azkena traziam desenhos homenageando ídolos que a música perdeu no último ano (Rory Erikson, Aretha Franklin, Scott Walker, Dick Dale, Andre Williams e Vinnie Paul), e isso serviu de inspiração para uma cover de “Misirlou”, no único momento em que o trio derrapa. Poucos perceberam e a festa segue com Lee Rocker cantando a nova “When Nothing’s Going Right”. Depois de quase uma hora e meia, veio o fim com “Rock this Town” e um bis tardio, quando parte do público já tinha saído, com “Built for Speed” e “Rumble in Brighton”. Uma honra presenciar o Stray Cats em ação. Momento histórico.

B-52’s

Falando em história, os maravilhosos B-52’s são os próximos no palco principal mas aí muita gente já tinha debandado. O frio (menos de dez graus) era outro obstáculo, mas nada que o carisma de Fred Schneider, a eterna musa Kate Pierson e Cindy Wilson não deem conta. Apoiados por um quarteto mais jovem, com destaque para o timbre incrível do baixo da maravilhosa Tracy Wormworth, a “Melhor Banda de Festa do Mundo” desfilou hits (incluindo a recente “Funplex”) e agradou o público reduzido. Não tem como dar errado quando se tem “Private Idaho” e “Rock Lobster” no set.

Segundo Dia

Foto por Jordi Vidal

Vale destacar que no Sábado o Brasil esteve presente com Flavia Couri (ex-Autoramas) e seu duo The Courettes superlotando bem cedo a tenda Thrashville, que emulava um bar. Dos dez graus da noite anterior pulamos para trinta, com um calor extra se contar a lona superaquecida e a pouca circulação do ar. Flavia comandou a festa, conclamando (com sucesso) os presentes a cantarem e dançarem. Apoteótico. Grande momento!

Dali para o palco principal, onde o Tesla se apresentou. A banda só veio (finalmente) ao Brasil em dezembro de 2017, para abrir a tour do Deep Purple, mas aqui ganhou um tempo muito mais adequado: 70 minutos, o suficiente para 13 canções, num show com o melhor público da tour, segundo o baixista Brian Wheat. O show começa com um duelo de guitarra entre Frankie Hannon e (o eterno novato) Dave Rude, e são tantos os solos que o vocal Jeff Keith quase fica para segundo plano. Destaque para a reação do público a “Edison’s Medicine” e “Gettin’ Better”, que entrou de última hora. Precisam voltar aqui para o show completo.

Wilco

Foto por Jordi Vidal

O Wilco entrou na sequência no palco principal, silenciando todos os outros palcos que acabavam de receber Neko Case e Corrosion of Conformity. O Sábado arrastou mais público que a Sexta, mas mesmo assim era mais fácil achar camisas do Stray Cats do que do Wilco no público. Nada que assustasse Jeff Tweedy e cia., totalmente à vontade e passeando por todos seus discos em um show com 20 músicas, incluindo as obrigatórias “I’m Trying to Break Your Heart” e “Misunderstood”. Num festival de guitarras, claro que o momento de Neils Cline em “Impossible Germany” levantou a maior quantidade de aplausos e gritos (e provavelmente angariou novos seguidores), numa sequência que ainda teve “Jesus etc” e o hit esquecido (por eles) “Hate it Here”. Dos discos mais recentes, só “Random Name Generator”. Mais um show incrível do Wilco. Não tem como ser menos.

Gang Of Four

Com o cancelamento do Melvins faltando menos de um mês para o festival, o Azkena escalou brilhantemente o Gang of Four de última hora para fazer um show tocando na íntegra o clássico obrigatório Entertaiment!. Andy Gill e os novos integrantes da gangue pareciam um pouco perdidos mas nada que prejudicasse muito. Mesmo com as músicas do disco em uma ordem completamente randômica e uma ou outra novas no meio, o Go4 brilhou para um público já bem menos numeroso e cansado. Isso que duas horas depois ainda subiria ao mesmo palco Phil Anselmo and the Illegals, para reviver o repertório do Pantera.

Azkena Rock Fest 2020

Os primeiros nomes da próxima edição foram anunciados ali mesmo, com o início da venda de ingressos de 2020 começando no próprio festival de 2019. Se você quiser conferir Social Distortion, Fu Manchu e muitas outras bandas de rock, o Azkena pode ser uma grande opção. Recomendo!

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