O brilhante Kevin Parker revelou estar passando por uma espécie de bloqueio criativo que está causando o atraso do lançamento do novo álbum do Tame Impala. Em entrevista à Huck, ele contou detalhes sobre essa fase atual, lembrou da infância e adolescência, falou sobre sua relação com as bebidas e as drogas, e ainda fez uma análise sobre suas composições antigas e o mercado da música.
Em show recente na tradicional O2 Arena, em Londres, ele prometeu ao público que estaria de volta muito em breve com músicas novas para tocar. Até Outubro, entre outros locais, o Tame Impala passa pelo Lollapalooza, em Chicago, e pelo Madison Square Garden, em New York, em duas noites seguidas de apresentação.
Esperava-se que nessa altura da turnê a banda já tivesse lançado seu tão aguardado quarto álbum de estúdio, já que no início do ano eles liberaram os singles “Patience” e “Borderline”, fizeram aparições na TV e foram escalados para serem headliners de um dos mais importantes festivais do mundo, o Coachella. Mas não rolou!
O novo álbum do Tame Impala
Kevin Parker chegou num nível em que poucos artistas estão: o de ter a liberdade para criar sem pressão. Ele admite que não tem um prazo estipulado pela gravadora para entregar o material, mas sabe dos riscos que corre com isso, afinal, pode ficar o tempo todo trabalhando e ter a falsa impressão de nunca ter algo suficientemente bom para lançar.
Dividindo um teto com Sophie Lawrence desde Fevereiro desse ano, quando pediu 150 lanches do McDonald’s em sua festa de casamento, ele acha que tem feito um bom trabalho em casa mantendo sua cabeça acima do nível da água física e emocionalmente. “Ela se preocupa comigo, mas, na verdade, eu nunca estou em um estado preocupante”, diz.
As faixas já prontas do novo álbum do Tame Impala o agradam: “se eu não tivesse músicas que me deixassem orgulhoso no final do processo, ficaria um pouco preocupado”, revela, garantindo que encara seu trabalho como uma saída para a emoção e a dor, e não um peso como ocorre com outros artistas.
“Patience”, primeiro lançamento da nova era da banda, que começou em Março desse ano, já não seria a mesma canção se fosse divulgada hoje. Kevin admite que se segurou para não fazer várias alterações na música depois dela já nos serviços de streaming, assim como fez Kanye West em 2016, quando editou o álbum The Life Of Pablo acrescentando participações de artistas e aumentando a duração de faixas.
Ele argumenta que mudou muito a maneira como as músicas são lançadas hoje em dia e que todos podem estar presos numa regra que pode ser quebrada. O perigo está em nunca chegar num produto final ou numa obra pronta. Seria como se Da Vinci viesse alterando Monalisa até hoje (se estivesse vivo, claro).
Adolescência, relação com drogas e bebidas e composições antigas
Australiano filho de africanos, Kevin foi flagrado pelo pai fumando maconha aos 13 anos. Proibido de ver qualquer amigo como castigo, foi nesse momento que se tornou um adolescente excessivamente emotivo. E querendo ser um rockstar.
Deprimido e abandonado como qualquer adolescente se sente, dizia querer se tornar uma estrela do rock pois pensava que assim seria respeitado e amado.
Em seu quarto, escreveu um bocado de canções até, enfim, conseguir seu primeiro contrato com uma gravadora já na época da faculdade. Ele conta que não queria fazer uma prova importante que teria e, então, faltando vinte minutos para começar, recebeu a ligação de confirmação da contratação. Levantou, colocou os livros na bolsa e nunca mais voltou para o curso.
Deixando claro que não está fazendo apologia ao uso de álcool ou maconha, ele confessa que ainda hoje bebe vinho e fuma às vezes para baixar sua guarda e relaxar das pressões da vida.
E garante: apesar de eventualmente compor chapado, algumas de suas melhores canções foram feitas sóbrio, como “Let It Happen” e “Feels Like We Only Go Backwards”.
Ainda na mesma entrevista, Kevin Parker revela que “Elephant” quase ficou de fora do Lonerism, segundo disco da banda, lançado em 2012. Para ele, a canção destoava do restante do álbum, que não falava muito sobre sentimento. Porém, todos que a ouviam gostavam e o incentivavam a incluir no material, até que ela entrou, acabou virando single e um dos maiores sucessos do Tame Impala até hoje.
Se antes falar sobre suas inseguranças nas letras era uma dificuldade, hoje poder se mostrar uma personalidade solitária é um alívio: “eu sempre soube que a música psicodélica era meio exploradora e introspectiva, mas não desse jeito”, confessa.
Sobre o disco mais popular do Tame Impala até hoje, o Currents, de 2015, Kevin diz que se auto-sabotou na época da produção, porque queria tanto terminar o trabalho logo que prometeu a si mesmo que se conseguisse, não ia mais se cobrar de nada, afinal, teria alcançado o que queria.
“É mentira!”, lamenta. “Avancei quatro anos e sinto exatamente o mesmo. Mais cedo ou mais tarde você vai ter algo a se provar de novo”, conclui.
O novo álbum, ainda sem nome divulgado, também permanece sem data de lançamento. Estamos aguardando. Ansiosos!